Pretória (Dos enviados especiais) – Angola e África do Sul, como economias líderes na região da SADC, possuem complementaridades naturais que podem gerar impactos transformadores não apenas para ambas nações, mas para todo o continente, afirmou, esta quinta-feira, o Chefe de Estado angolano, João Lourenço.
O Presidente discursava na abertura do Fórum de Negócios África do Sul-Angola, organizado por ocasião da sua visita a este país, e que contou com a participação de cerca de 100 empresários de ambas nações.
Por isso, considerou este evento uma ocasião de identificar áreas de interesse comum, desencadear e fortalecer parcerias económicas e financeiras, reafirmando a determinação em continuar a fortalecer os laços históricos e construir um futuro de prosperidade partilhada.
“Nossos países partilham um compromisso inabalável com o fortalecimento da unidade africana, tendo procurado, desde os primeiros acordos de cooperação, alinhar visões e esforços sobretudo no âmbito da SADC, reforçando os mecanismos de integração económica e regional”, lembrou.
Disse ainda que as discussões que se iniciaram naquela época abarcavam sectores cruciais como a geopolítica, segurança e o desenvolvimento económico, pois já reconheciam na altura que somente através de parcerias robustas e mutuamente vantajosas poderiam contribuir para o progresso dos dois povos e a construção de uma África mais próspera.
Segundo o Presidente, a aprovação de instrumentos estratégicos de integração regional, com destaque para o Acordo de Livre Comércio Continental Africano, reveste-se de uma importância ímpar, por ter o potencial de impulsionar de forma substancial o intercâmbio comercial, reduzindo barreiras tarifárias e não tarifárias que até ao momento têm constituído entraves significativos à integração económica e ao crescimento sustentável dos mercados africanos.
Sustentou que a pertinência desta integração económica é acentuada pelo contexto geopolítico global, caracterizado por conflitos cíclicos de elevada gravidade, geradores de disrupções nas cadeias de abastecimento globais, expondo as economias africanas a choques externos relevantes, com consequências a nível da estabilidade dos preços de bens essenciais de consumo e no bem-estar das nossas populações.
Deste modo, asseverou que uma integração económica eficaz promove o aumento da produção agrícola e do comércio regional, a estabilidade e a segurança alimentar, a geração de empregos, estimula a industrialização e, por conseguinte, a construção de economias mais resilientes e inclusivas.
O Presidente angolano referiu que, na sub-região continental, Angola e África do Sul estão bem posicionadas para uma cooperação económica intensa e profícua, competindo aos agentes privados tomar as oportunidades desta manifestação de vontade que, de modo reiterado, lhe são transmitidos.
Transformações na economia angolana
Informou aos presentes no fórum que Angola atravessa uma etapa importante no seu processo de transformação económica, pautada pela implementação de reformas estruturantes destinadas a reconfigurar o perfil produtivo do país, alicerçando um tecido económico robusto, diversificado e sustentável.
Esta visão, esclareceu, encontra-se plasmada no Plano de Desenvolvimento Nacional 2023-2027, onde está inscrita uma agenda clara para o fortalecimento do sector privado, criando um ambiente mais propício ao investimento directo nacional e estrangeiro, de forma a aumentar a contribuição do sector não petrolífero para o Produto Interno Bruto.
“Nosso objectivo passa pela redução progressiva da intervenção estatal, deixando ao Estado o papel primordial de regulador, facilitador e garante da estabilidade macroeconómica”, pontualizou.
Na presença do homólogo, Cyril Ramaphosa, disse que as reformas em curso orientam-se pela melhoria de políticas de incentivo à produção nacional e pela diversificação das exportações. Paralelamente, a aposta recai também para programas abrangentes de fomento produtivo e na redução da informalidade, instrumentos essenciais para assegurar uma trajectória de crescimento sólido.
“Cientes de que a materialização desta visão depende em larga medida da qualidade das nossas infra-estruturas, empreendemos um esforço significativo e contínuo na modernização e expansão dos nossos sistemas de transporte e logística, uma aposta estratégica que inclui a melhoria da rede rodoviária, a requalificação e modernização de aeroportos, a optimização das infra-estruturas ferroviárias, bem como o reforço da capacidade portuária”, prosseguiu.
Desta forma, na visão o Presidente, pretende-se estimular a mobilidade interna e a integração regional, criando as condições necessárias para impulsionar a actividade económica em múltiplos sectores.
Apontou o Corredor do Lobito como um bom exemplo disso, que, sendo uma plataforma logística integrada que congrega infra-estruturas de referência, como o Porto do Lobito, o Caminho de Ferro de Benguela, aeroportos, estradas e outras facilidades de transporte, posiciona-se como um eixo estratégico de integração e facilitação do comércio regional, potenciando o surgimento de novas cadeias de valor, destacando-se o da agroindústria.
O Fórum empresarial foi a última etapa da visita do Presidente João Lourenço a África do Sul, que iniciou com uma recepção do Palácio Presidencial e um encontro em privado com o homólogo, Cyril Ramaphosa.
Em seguida, os dois Presidentes discursaram na abertura das conversões entre os governos e testemunharam a assinatura dos acordos nos domínios do Ensino Superior e da Cultura.
No momento mais simbólico, João Lourenço foi condecorado com a medalha “Ordem África do Sul”, a mais alta distinção do país.
As relações entre Angola e a África do Sul têm raízes profundas, cultivadas ao longo de décadas de luta pela emancipação e progresso do nosso continente.
Logo após a queda do Apartheid, com a transição democrática na África do Sul os dois países iniciaram um percurso de cooperação que se consolidou em várias áreas de interesse comum, um marco histórico que permitiu transformar antigos desafios em oportunidades de diálogo construtivo, tendo como pilares a integração regional, a promoção da paz e segurança e a busca por um desenvolvimento sustentável. AFL/ART