Luanda - O ministro angolano das Relações Exteriores, Téte António, apontou, esta terça-feira, em Harare (Zimbabwe), o acesso às fontes de energia fiáveis como factor fundamental para impulsionar a industrialização, aumentar a produtividade e criar oportunidades de emprego a nível da região da SADC.
O chefe da diplomacia angolana falava na abertura da reunião do Conselho de Ministros da SADC, referindo que, não obstante o papel basilar da energia, a população com acesso à electricidade a nível da comunidade continua a ser, em média, de 56% de 2019 a 2023, abaixo do objectivo regional de 85% até 2030.
Referiu que alguns Estados-membros atingiram 100% de acesso, enquanto outros estão abaixo dos 20%.
Disse que a capacidade de produção não satisfaz a procura desde 2008, de tal modo que, em Abril de 2024, apenas três Estados-membros, nomeadamente, Angola, Moçambique e a Tanzânia, apresentavam uma capacidade excedentária.
Nesta conformidade, disse que é necessário maior empenho para a concretização da Visão 2050 da SADC, de uma região industrializada pacífica, inclusiva, competitiva, de rendimento médio elevado, onde todos os cidadãos gozem de bem-estar económico sustentável, justiça e liberdade.
Seca
Durante a sua intervenção, Téte António abordou também as consequências do fenômeno El Niño, que originou o início tardio das chuvas durante a época 2023/24 e, em função disso, causou períodos de seca prolongados e temperaturas extremamente elevadas, afectando mais de 61 milhões de pessoas na região.
“Pela nossa determinação colectiva, unidade e solidariedade, lançámos o apelo humanitário regional de pelo menos 5,5 mil milhões de dólares com o apoio dos nossos parceiros, que foi lançado oficialmente pelo Presidente da SADC, João Lourenço, na Cimeira Extraordinária de Chefes de Estado e de Governo, realizada em 20 de Maio de 2024”, enfatizou.
Neste particular, exortou aos parceiros a continuar a apoiar esta causa para que se possa mitigar o impacto desta crise humanitária e, principalmente, construir uma região resiliente.
Situação de paz e segurança
Quanto à paz e segurança da região, o ministro Téte António afirmou que a SADC continua relativamente pacífica e estável, sem novos conflitos intra-estatais ou actos terroristas significativos.
Porém, sublinhou que a situação de segurança em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, e na parte oriental da República Democrática do Congo constituiu a principal preocupação no ano transacto.
Destacou a missão da SADC na RDC (SAMIDRC) para apoiar o Governo a restaurar a paz e a segurança no leste do país, na sequência da intensificação dos conflitos e da instabilidade causados pelo ressurgimento de grupos armados.
“Além disso, a nossa missão em Moçambique foi oficialmente encerrada em 4 de Julho deste ano, após o destacamento da missão em Julho de 2021 para apoiar o nosso Estado-membro, Moçambique, no combate ao terrorismo e ao extremismo violento na província de Cabo Delgado, no norte do país”, expressou.
Não obstante estes eventos, realçou que a segurança e a estabilidade em Moçambique e em toda a região da SADC continuam inabaláveis “Estamos convictos de que a paz, a segurança e a estabilidade são os pré-requisitos para a concretização dos nossos objectivos de uma região pacífica, integrada e próspera”.
Juventude
Téte António referiu que a região é constituída maioritariamente por jovens e, neste sentido, Angola acolheu o Fórum da Juventude da SADC para proporcionar a oportunidade de contribuir para a implementação do lema da 43ª Cimeira do órgão sobre a importância do capital humano e financeiro para uma industrialização sustentável na região.
Ressaltou que o Fórum contou com a participação de representantes da juventude dos respectivos Estados-membros, incluindo jovens empresários e líderes por mérito próprio.
O diplomata felicitou os jovens pela participação activa no Fórum e por terem manifestado a disponibilidade para desempenharem um papel fundamental na agenda de desenvolvimento regional.
Exortou aos Estados-membros a tomar medidas para assegurar uma maior participação dos jovens nos principais processos de governação e de tomada de decisões, para que possam desempenhar papéis relevantes e produtivos no desenvolvimento dos países.
Neste contexto, o ministro advogou que no plano regional deve-se acelerar o processo de operacionalização do programa dirigido à juventude da SADC, assegurando, deste modo, que a capacidade de coordenação necessária seja criada rapidamente.
Igualdade de género
Quanto à igualdade de género e ao empoderamento das mulheres, Téte António vincou que o crescimento económico inclusivo não pode ser plenamente alcançado sem a inclusão e a participação activa das mulheres.
Ressaltou que no âmbito dos esforços desenvolvidos para a implementação do protocolo da SADC sobre o género e o desenvolvimentismo , os Estados-membros registaram progressos na promoção da igualdade de oportunidades para as mulheres nos cargos de tomada de decisão, no aumento da representação das mulheres na liderança política, no acesso ao financiamento e aos recursos produtivos e na luta contra a discriminação e a violência baseadas no género.
Entretanto, embora tenham sido registados progressos, a representação das mulheres nos cargos de decisão estratégicos está abaixo dos 50%, significando que elas não participam nos cargos de tomada de decisões fundamentais que afectam o bem-estar e o futuro da região.
Por isso, apelou aos membros a continuar empenhados e tomar medidas para atingir o objectivo de 50%, adoptando igualmente medidas para abordar alguns dos desafios que as mulheres enfrentam constantemente, nomeadamente o impacto dos conflitos, as alterações climáticas e a violência baseada no género.
Téte António agradeceu o apoio de todos os países membros da SADC pelo empenho, trabalho e esforços para o funcionamento e desenvolvimento da organização durante o mandato de Angola.FMA/ART