Almaty - O presidente do Cazaquistão afirmou, nesta segunda-feira (10), um dia de luto nacional, que os distúrbios no país foram uma "tentativa de golpe" e prometeu que as tropas russas e aliadas que apoiam o Governo vão partir "em breve".
O presidente russo, Vladimir Putin, confirmou a promessa, garantindo que, "assim que o contingente tiver cumprido as suas funções vai se retirar do território do Cazaquistão".
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, reagiu a ambas as declarações, afirmando que será "muito difícil" tirar os militares russos do país.
Aos poucos, a vida retorna ao normal em Almaty, a maior cidade e capital económica deste país da Ásia Central, onde os confrontos foram os mais graves.
As autoridades restabeleceram, parcialmente, a conexão da Internet, funcionários municipais limpam as ruas e trocam placas e semáforos danificados, observou a AFP.
As fachadas queimadas dos prédios públicos e os veículos carbonizados testemunham, no entanto, a violência dos confrontos dos últimos dias.
Numa videoconferência, o presidente cazaque, Kassym Jomart Tokayev, fez um balanço dos acontecimentos ao lado de Putin e os demais aliados, que enviaram 2.030 homens para esta antiga república soviética.
Ainda não se sabe o número de vítimas dos distúrbios, os piores desde a independência do país, em 1991.
Tokayev afirmou que o número de vítimas civis está "a ser verificado" e mencionou 16 mortos e mais de 1.600 feridos entre as forças de segurança. De acordo com as autoridades locais, o número de mortos é de dezenas de pessoas.
O presidente denunciou que seu país foi atacado por "grupos de combatentes armados" que aproveitaram as manifestações contra o aumento dos preços dos combustíveis como desculpa para agir.
"O seu objectivo principal pareceu claro: minar a ordem constitucional, destruir as instituições do Governo e tomar o poder. Tratou-se de uma tentativa de golpe de Estado", disse Tokayev.
Cerca de 8.000 pessoas foram presas após uma semana de protestos severamente reprimidos no Cazaquistão, conforme balanço divulgado hoje pelo Governo.
"A 10 de Janeiro, 7.939 indivíduos foram detidos" pelas forças de segurança em todo país, disse o Ministério do Interior, em comunicado publicado na página institucional on-line.
Também nesta segunda-feira, o Comité de Segurança Nacional divulgou uma nota assegurando que o país, incluindo as instalações governamentais e militares, está totalmente sob o controlo dos serviços de segurança.
"As áreas onde militantes e amotinados podem estar escondidos estão a ser reabertas. Estão a ser recolhidas e gravadas provas de actividades criminosas", acrescenta o texto.
Os violentos tumultos, que começaram repentinamente, levaram o presidente do Cazaquistão a pedir ajuda à Rússia.
A 06 de Janeiro, um contingente multinacional da Organização do Tratado de Segurança Colectiva (OTSC), uma aliança liderada por Moscovo, foi mobilizado, com o envio, de acordo com Tokayev, de 2.030 soldados e 250 veículos.
Após dias de saques, tiroteios e incêndio na residência presidencial e na administração de Almaty, Tokayev declarou hoje que "a ordem constitucional foi restaurada".
Informou ainda que, nesta terça (11), deverá apresentar ao Parlamento a composição do novo Governo. O gabinete anterior foi destituído na semana passada, na tentativa de acalmar os protestos.
Segundo o presidente, o país foi vítima de forças "terroristas" organizadas, que incluíam tanto "islamistas" quanto "criminosos", "assassinos" e "pequenos criminosos". Tokayev garantiu que as forças do Cazaquistão "nunca usaram, e nunca vão usar, a força militar contra manifestantes pacíficos".
Na sexta-feira (7), o presidente deu permissão à polícia no sentido de "disparar para matar sem aviso prévio" os "bandidos armados".
Vladimir Putin também disse que o Cazaquistão enfrentou uma "agressão do terrorismo internacional", referindo-se a "grupos de homens armados" que "têm, claramente, experiência em combate" e foram treinados em "centros no exterior".
Além disso, culpou a Internet e as redes sociais, usadas para "envolver os cidadãos em actos de protesto que são um precursor de ataques terroristas".
Em seguida, o presidente russo advertiu que Moscovo não vai tolerar "revoluções coloridas" na zona de influência da extinta União Soviética, uma expressão usada pelo Kremlin para descrever as revoltas que seriam orquestradas pelo Ocidente nos ex-países soviéticos desde 2000.
Além do aumento dos preços, a revolta dos manifestantes também se dirigiu contra a corrupção endémica do país e o ex-presidente Nursultan Nazarbayev, de 81 anos. Sem oposição, ele governou o país de 1989 a 2019, até entregar as rédeas do poder para Tokayev, homem da sua confiança.
Nazarbayev não aparece em público desde que os tumultos começaram. Segundo rumores, ele teria fugido do país. No sábado, o porta-voz, Aydos Ukibai, declarou apenas que o ex-presidente pedia à população que apoiasse o Governo.