Washington - O primeiro dia do julgamento de ex-presidente dos EUA, Donald Trump, terminou com este a protestar contra a decisão do juiz Juan Merchan que não o dispensou de estar presente na próxima semana, nem às quartas-feiras que, em princípio, são dias livres, anunciou a Lusa.
A acusação a Trump centra-se em pagamentos de 130 mil dólares que a empresa do ex-presidente fez ao então seu advogado pessoal, Michael Cohen.
Este entregou esta soma, em nome de Trump, à estrela de filmes pornográficos Stormy Daniels, para comprar o seu silêncio, a um mês da eleição presidencial em 2016, dadas as suas alegações de que teria tido um encontro sexual com o multimilionário.
A defesa de Trump pediu ao juiz que o dispensasse na quinta-feira da próxima semana quando está previsto que o Supremo Tribunal aprecie os argumentos sobre a imunidade presidencial que invoca e que possam afectar outros casos penais que enfrenta.
"Falar perante o Supremo Tribunal é um assunto importante, e claro que entendo que o seu cliente queira lá estar, mas um julgamento no Supremo Tribunal de Nova Iorque também é um assunto importante", disse o juiz Juan Merchan ao advogado Todd Blanche, acrescentando. "Vou vê-lo aqui na semana que vem".
Blanche também contestou o calendário estipulado pelo juiz, que exige a Trump estar presente quatro dias por semana, sem contar as quartas-feiras, o único dia livre em que este pode programar acções de campanha enquanto candidato presidencial pelos republicanos.
O advogado pediu que Trump fosse dispensado de estar presente se houver uma audiência a uma quarta-feira, mas o juiz não lhe garantiu isso.
Argumentou que pode haver alterações no julgamento, se este estiver a ser demorado, e recordou que "para qualquer procedimento que envolva o júri, o seu cliente deve estar presente".
Sem entrar no fundo do caso, o primeiro dia, por outro lado, revelou alguns elementos que vão ser determinantes para o julgamento, entre o uso do evento como tribuna política, as estratégias a usar e o tempo da justiça.
Assim, antes de entrar na sala de audiência, Donald Trump começou por atacar o presidente Joe Biden e seu adversário na eleição de Novembro.
"O país é liderado por um homem incompetente que está muito envolvido neste assunto. O seu julgamento é um ataque a um opositor político", disse Trump.
Trump faz este tipo de acusações com frequência, mas ao repeti-lo no início do que se antecipa que venham a ser semanas do tribunal, mostra uma estratégia de fazer do tribunal um estado político para a sua campanha.
Por outro lado, o juiz Merchan parece que não quer que o julgamento se eternize, o que o está a opor aos advogados de Trump, que preferem que o caso se arraste.
O juiz começou por não se escusar, como a defesa pretendia, alegando os laços laborais da sua filha com o Partido Democrata.
E depois criticou a defesa por ter chegado atrasada depois do almoço. "Agradeço que respeitem o tempo das pausas, para que possamos avançar".
O sinal da conveniência de não perder tempo veio da constituição do júri.
Uma maioria do primeiro grupo de 96 jurados potenciais declarou-se incapaz de julgar de forma equitativa e foi assim dispensada, um sinal de que a constituição do júri vai ser demorada.
Por sua vez, os debates técnicos, de segunda-feira de manhã, sobre o que pode ser usado como elemento durante os debates iniciaram a estratégia da acusação, que visa descrever Trump como um homem sexista e agressivo para com as mulheres.
Outro sinal sobre o desenrolar da audiência foi dado pelo juiz, que, quando entrou na sala, cumprimento o réu, dizendo "Bom-dia, senhor Trump" e não "Bom-dia, presidente Trump", como eu a afirmar que o ex-presidente na sua sala de julgamentos não passa de um simples cidadão.
O juiz lembrou ainda que, como qualquer outra pessoa a ser julgada, Trump tem de se apresentar à audiência todos os dias, sob pena de ser procurado pelas autoridades.
E que pode ser enviado para a prisão se perturbar a audiência. CNB/GAR