Colombo – Centenas de manifestantes ocuparam pelo segundo dia consecutivo a entrada da Secretaria Presidencial do Sri Lanka para exigir a renúncia do Presidente, Gotabaya Rajapaksa, numa altura em que o país se encontra mergulhado numa crise política e económica.
Apesar da chuva intensa, os manifestantes concentraram-se junto ao edifício do gabinete presidencial, na cidade de Colombo, entoando palavras de ordem antigovernamentais e apelando à dissolução do parlamento para que se dê "lugar a uma liderança mais jovem", segundo relata a agência AP.
Este é mais um dos muitos protestos que ocorreram no Sri Lanka, nas últimas semanas, contra a família Rajapaksa, que até agora era vista pela maioria dos cidadãos da ilha asiática como heróis nacionais.
Em pano de fundo está o descontentamento generalizado no país devido à deterioração da economia, com grave escassez de divisas, restrições às importações e a incapacidade do Governo em fornecer bens essenciais como combustível, gás, medicamentos e alimentos.
Este país insular, localizado no Oceano Índico, está à beira da falência, apresentando uma dívida externa de cerca de 25 mil milhões de dólares (23 mil milhões de euros) e uma diminuição das reservas externas.
O Governo do Sri Lanka já teve de recorrer à China e à Índia para obter empréstimos de emergência e é expectável que até ao fim do mês inicie conversações com o Fundo Monetário Internacional.
Os protestos liderados por jovens intensificaram-se na semana passada, depois de a polícia agredir manifestantes, quando estes tentavam entrar numa residência privada do Presidente, o que resultou na detenção de 53 pessoas.
O Governo declarou uma Lei de Emergência em 01 de Abril, que dá amplos poderes às forças de segurança e à polícia, e que impôs um recolher obrigatório de 36 horas.
Os manifestantes, que adoptaram o 'slogan' "Go home Gota" ("Vai para casa, Gota"), responsabilizam o Governo pela crise económica.
A crise económica sem precedentes do Sri Lanka é resultado, em parte, do alto endividamento do país, da recessão económica causada pela pandemia de covid-19 e de uma queda drástica na actividade turística, principal fonte de divisas.
A esta conjuntura soma-se o excesso na impressão de dinheiro e a consequente depreciação da moeda nacional, promovida pelo Governo para fazer face os gastos públicos.
Em Dezembro, o secretário do Ministério da Agricultura, Udith Jayasinghe, já tinha alertado para o risco de fome, devido à proibição da importação de agroquímicos decidida, há um ano, pelo Governo para economizar divisas.