Madrid - O primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez, apontou hoje Marrocos como um "aliado essencial" para "a migração ordenada" em Espanha e no continente europeu, defendendo a gestão partilhada das fronteiras comuns entre os dois países.
Sánchez lembra que Espanha e Marrocos acordaram um plano de acção conjunto há um ano, em Abril de 2022, depois de mais uma crise nas relações bilaterais.
Pedro Sanchez fez hoje um "balanço positivo" destes últimos 12 meses, com destaque para os frutos da gestão partilhada das fronteiras comuns e do "reforço da cooperação em matéria migratória".
Numa intervenção no parlamento de Espanha, o primeiro-ministro apresentou dados que considerou "eloquentes, pela sua evidência", e disse que no primeiro trimestre deste ano, as chegadas de migrantes regulares às cidades espanholas de Ceuta e Melilla no norte de África, com fronteiras terrestres com Marrocos, diminuíram em 78% comprando com o mesmo período de 2022.
Já as chegadas ao arquipélago espanhol das Canárias, localizado em frente da costa atlântica marroquina, diminuíram 63%, afirmou.
Sublinhou que a designada "rota atlântica" da imigração ilegal, entre a costa de África e Canárias, "é a única rota europeia que decresce" actualmente "num contexto generalizado de aumento da imigração irregular para o continente europeu".
Enquanto as chegadas de migrantes de forma irregular a Espanha caíram, aumentaram, 95% na Grécia e 300% em Itália, no primeiro trimestre deste ano, acrescentou.
Sánchez defendeu que Espanha tem hoje a "grande oportunidade de situar as relações com Marrocos sob o signo cooperação genuína e mutuamente vantajosa, uma relação baseada no respeito mútuo, na ausência de acções unilaterais e também no cumprimento sistemático dos acordos".
Neste último ano, Espanha e Marrocos restauraram ainda as ligações aéreas e marítimas regulares, iniciaram negociações para delimitar os respectivos limites marítimos no Atlântico, que estavam suspensas há 15 anos, e reabriram as fronteiras terrestres de Ceuta e Melilla, incluindo alfândegas.
Em Fevereiro, os dois países reuniram-se na primeira cimeira em oito anos, que selou o acordo de Abril de 2022, e que terminou com a assinatura de 20 acordos, que além de normalizarem a relação diplomática.
Aprofundaram também as relações económicas e comerciais de que se beneficiarão as empresas espanholas, como afirmou hoje Sánchez perante os deputados.
Marrocos é um país "amigo, um aliado fundamental" para o desenvolvimento económico e a segurança de Espanha, defendeu o líder do Governo de Madrid, que afirmou que estão a ser construídas "bases muito mais firmes" para a relação com Rabat, de forma a afastar "as crises recorrentes".
Madrid e Rabat têm tido conflitos diplomáticos recorrentes ao longo dos anos, alguns deles, envolvendo o Saara Ocidental, antiga colónia espanhola ocupada por Marrocos há quase 48 anos, e Ceuta e Melilla, que o país do norte de África reclama, considerando-as "cidades ocupadas".
Em Abril do ano passado, Espanha e Marrocos assinaram uma declaração conjunta para pôr termo a mais uma crise diplomática que se arrastava há um ano.
Nesse período de crise, as trocas comerciais caíram, Marrocos fechou fábricas espanholas que estavam no país e permitiu a passagem, em Maio de 2021, de milhares de pessoas, a maioria, menores não acompanhados, pelas fronteiras de Ceuta e Melilla, duas cidades espanholas no norte de África que são as únicas fronteiras terrestres da União Europeia (UE) com o continente africano.
Para resolver o diferendo, na declaração de Abril de 2022, Espanha mudou a sua posição histórica em relação ao Saara Ocidental e reconheceu que a proposta apresentada por Rabat em 2007, para que aquele território seja uma região autónoma controlada por Marrocos, é "a base mais séria, credível e realista para a resolução deste litígio".
Espanha defendia até então que o controlo de Marrocos sobre o Saara Ocidental era uma ocupação e que a realização de um referendo patrocinado pela ONU deveria ser a forma de decidir a descolonização do território.
Em troca, na mesma declaração de Abril passado, Marrocos reconheceu implicitamente ter fronteiras terrestres com Espanha, ao acordar a instalação de alfândegas em Ceuta e Melilla.
No final da cimeira de Fevereiro, os primeiros-ministros dos dois países disseram que Marrocos e Espanha decidiram criar mecanismos para manter um diálogo permanente sobre todos os temas, "por mais complexos que sejam", e acabar com "actuações unilaterais", segundo as palavras de então de Pedro Sánchez.
Em 2022, e com a recuperação das relações diplomáticas, as trocas comerciais entre os dois países aumentaram 33% em relação a 2021 e os fluxos migratórios ilegais que chegaram a Espanha desde Marrocos diminuíram 25%. GAR