Moscovo - A Rússia anunciou nesta quarta-feira (27) que destruiu uma "grande quantidade" de armas que os países ocidentais entregaram à Ucrânia e cortou o fornecimento de gás para Polônia e Bulgária, uma decisão que a União Europeia (UE) classificou de chantagem.
O conflito, que entrou no terceiro mês, é cada vez mais intenso no leste e sul da Ucrânia, onde a Rússia concentra actualmente seus esforços militares.
O ministério ucraniano da Defesa informou que as tropas russas tomaram o controlo de várias localidades do leste, tanto na região de Kharkiv como em Donetsk.
A Rússia também bombardeou no sudeste uma "grande quantidade" de armas fornecidas à Ucrânia pelos países ocidentais, que foram destruídas por mísseis de alta precisão Kalibr, de acordo com o ministério da Defesa.
Os ataques atingiram os hangares de uma fábrica de alumínio em Zaporizhzhia, afirmou o ministério num comunicado, que não cita os tipos de armamentos destruídos.
Os bombardeamentos aconteceram um dia após uma reunião entre Estados Unidos e países aliados na Alemanha, durante a qual Washington prometeu ajuda para a vitória de Kiev.
Mas o conflito também pode afectar o oeste da Europa, após várias explosões na região moldava de Transnístria, na fronteira com a Ucrânia e ocupada pelas forças de Moscovo há décadas.
As autoridades desta região separatista afirmaram que Cobasna, uma localidade na fronteira com a Ucrânia e com importantes depósitos de munições do exército russo, foi alvo de ataques.
Também nesta quarta-feira o grupo russo Gazprom suspendeu o fornecimento de gás para Bulgária e Polónia porque os dois países, membros da OTAN e da UE, não pagaram pelo abastecimento em rublos.
O presidente russo, Vladimir Putin, anunciou no mês passado que o país aceitaria apenas o pagamento do gás na sua moeda nacional, o rublo. O objectivo é proteger a divisa das sanções ocidentais.
Bulgária e Polónia, muito dependentes do gás russo, afirmaram, no entanto, que o abastecimento está garantido graças a outras fontes.
A suspensão do abastecimento é consequência de "acções inamistosas sem precedentes", declarou Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin.
Mas para a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o anúncio da empresa é "uma nova tentativa da Rússia de fazer chantagem com o gás".
A líder do Executivo da UE declarou que o bloco está preparado para uma eventual interrupção do fornecimento do gás russo e elabora uma "resposta coordenada" para o cenário.
A guerra na Ucrânia evidenciou a dependência da UE do gás russo, que representa 45% das importações do bloco no sector.
Até o momento, a UE impôs apenas um embargo sobre o carvão russo, mas não sobre o gás e o petróleo.
A Comissão apresentou uma proposta para suspender por um ano as tarifas às importações da Ucrânia, como um gesto adicional de apoio a Kiev.
Depois de mais de dois meses de guerra, as potências ocidentais se mostram menos hesitantes no momento de apoiar a Ucrânia com armamento para resistir aos ataques de Moscovo.
Poucas horas depois de um alerta da Rússia sobre o risco "real" de uma nova guerra mundial, o governo dos Estados Unidos reuniu representantes de quase 40 países aliados na sua base militar de Ramstein, na Alemanha.
"A Ucrânia acredita que pode vencer e todo mundo pensa o mesmo aqui", afirmou o secretário de Defesa americano, Lloyd Austin, durante o encontro.
A ministra britânica dos Negócios Estrangeiros, Lizz Truss, pedirá aos aliados que aumentem a produção militar, incluindo tanques e aviões, para a Ucrânia e fará um apelo para que o restante da Europa corte "de uma vez por todas" as importações de energia da Rússia.