Moscovo - O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou nesta terça-feira que a Rússia deve estar atenta às suas exportações de alimentos para "países hostis", porque as sanções impostas pelo Ocidente fomentaram uma crise alimentar global, bem como uma subida "em espiral" dos preços da energia, noticiou a Reuters.
O chefe de Estado da Rússia alertou que os preços mais elevados da energia, combinados com a falta de fertilizantes para a agricultura, podem obrigar o Ocidente a imprimir dinheiro para comprar provisões - o que pode resultar na escassez de alimentos nos países mais desfavorecidos.
"Eles irão, inevitavelmente, exacerbar a escassez de alimentos nas regiões mais pobres do mundo, estimular novas ondas de migração e, em geral, fazer subir ainda mais os preços dos alimentos", afirmou Vladimir Putin, numa reunião sobre o desenvolvimento da produção alimentar, aqui citado pela Reuters.
"Nas condições actuais, a escassez de fertilizantes no mercado global é inevitável", acrescentou ainda o Presidente da Rússia. "Teremos de ser mais cuidadosos com o abastecimento alimentar do estrangeiro e, especialmente, controlar cuidadosamente as exportações para países que são hostis", prosseguiu.
"É importante lembrar, a este propósito, que a Rússia é o maior exportador mundial de trigo, fornecendo-o especialmente a países de África e do Médio Oriente. É também um grande produtor de potássio, fosfato e fertilizantes à base de azoto - todos eles fundamentais para a prática da agricultura", sublinhou.
Vladimir Putin condenou, por outro lado, a pressão exercida contra a companhia russa de gás Gazprom e advertiu que nacionalizar os seus activos vai ser uma "faca de dois gumes".
"A situação no sector da energia agrava-se devido às medidas brutais e não vinculadas ao mercado, sobretudo a pressão administrativa contra a nossa companhia Gazprom em vários países europeus", disse.
"Escutamos declarações de responsáveis sobre a nacionalização de alguns dos nossos activos. Se for tão longe, não se deve esquecer que isso é uma faca de dois gumes", destacou Putin .
Essas declarações acontecem após a Alemanha ter anunciado, um dia antes (4), a tomada de controlo temporário de uma filial da Gazprom, com o objectivo de garantir a continuidade do fornecimento de gás.
A decisão foi tomada depois que o grupo russo anunciou, na sexta-feira (1), a sua retirada dessa filial, sem indicar imediatamente nenhum comprador, criando incertezas sobre o futuro da empresa.
As filiais da Gazprom são operadores de importantes infraestruturas de armazenamento de gás e combustível na Alemanha.
A Rússia e os países europeus estão estreitamente vinculados pela sua interdependência em matéria energética. Moscovo necessita do dinheiro que o gás proporciona, enquanto a UE é muito dependente dessa fonte de energia russa.
A UE afirma tentar reduzir a dependência de Moscovo nesse sector.
Por sua vez, Moscovo impôs aos clientes europeus o pagamento das suas dívidas de gás em rublos.