Brasília - O Presidente eleito do Brasil, Lula da Silva, afirmou hoje (22) que no dia 1 de Janeiro assumirá um país em situação de adversidades, que atribuiu à tempestade de fascismo desencadeado pelo Governo do actual chefe de Estado, Jair Bolsonaro.
Luiz Inácio Lula da Silva liderou uma cerimónia em que foi apresentado o relatório final elaborado pela equipa de transição, que disse revelar a irresponsabilidade que prevaleceu na gestão Bolsonaro, derrotado nas eleições de Outubro.
"Este material que acaba de ser entregue é um material (com o qual) não pretendo fazer pirotecnia, não pretendo fazer um show, um escândalo. Pretendo apenas que a sociedade brasileira saiba como é o Brasil que nós encontramos em Dezembro de 2022. Depois de quatro anos de mandato recebemos do actual Governo uma situação de penúria em que as coisas mais simples não foram feitas", afirmou.
"O Presidente (Jair Bolsonaro) preferia contar mentira no cercadinho (área do Palácio da Alvorada em que conversava com apoiantes) do que governar este país", acrescentou.
O conteúdo do relatório final da equipa de transição foi resumido pelo vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, coordenador deste trabalho, que disse que "o Brasil que Lula vai receber é muito mais difícil e triste" e "sofre reveses em todas as áreas".
O vice-presidente contou que o levantamento indicou problemas na saúde pública, nomeadamente no sistema de vacinação contra a covid-19 e outras doenças, citando as campanhas de imunização contra a poliomielite, doença contra a qual "50% das crianças" do Brasil não têm o esquema vacinal completo segundo o vice-presidente brasileiro.
"A má condução da saúde, irresponsável, fez com que o Brasil que tem 2,27% da população mundial tivesse quase 11% das mortes na pandemia", destacou.
Alckmin afirmou que as equipas que formularam o relatório também encontraram retrocessos e graves problemas orçamentais na educação, na cultura e nas infra-estruturas com "14 mil obras paradas", e uma "paralisação" na construção de habitações populares.
"Na questão da educação nós tivemos um enorme retrocesso. A aprendizagem diminuiu, a evasão escolar aumentou (...) Recursos essenciais como, por exemplo, a merenda escolar ficaram congeladas em 36 centavos (de real ou seis cêntimos de euro) e tivemos quase um colapso das universidades federais", acrescentou.
Comentando a gestão ambiental no Brasil, um dos pontos mais críticos do Governo Bolsonaro, o vice-presidente garantiu que nos quatro anos de mandato do líder de extrema-direita houve "um aumento de 59% no desflorestamento da Amazónia".
"Em suma, houve um desmonte do Estado brasileiro" não por "austeridade, mas por falta de eficiência", e agora o novo Governo terá "uma tarefa hercúlea" ??pela frente, disse Alckmin.
Tanto Lula da Silva, como o vice-presidente eleito, agradeceram ao Congresso brasileiro, que aprovou na quarta-feira uma emenda constitucional que deixará de fora da regulamentação fiscal o dinheiro que o novo Governo destinará à assistência aos mais pobres.
Lula da Silva sustentou que a aprovação desta medida era necessária "para acobertar a irresponsabilidade do Governo que vai sair", e o apoio que teve até mesmo das forças políticas que estarão na oposição a partir de 01 de Janeiro tem sido "uma demonstração de solidariedade com as pessoas mais pobres" do país.