Bruxelas - A organização não-governamental Save the Children considerou hoje que o acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas é insuficiente, defendendo que tem de ser permanente para permitir a entrada sem restrições de ajuda humanitária no enclave, cita o Notícias ao Minuto.
"Esta pausa oferece um espaço vital para respirar, mas não é suficiente", garantiu a directora executiva da organização, Ingre Ashing, sublinhando que "as crianças têm de receber a assistência de que necessitam de forma segura para as salvar da fome e das doenças".
Para isso, considerou, é essencial que a pausa seja transformada "num cessar-fogo permanente e que os esforços sejam intensificados para acabar com o cerco e permitir fluxos irrestritos de ajuda".
Israel e o grupo islamita Hamas chegaram, na quarta-feira, a um acordo que prevê um cessar-fogo completo a partir de domingo e durante 42 dias e a troca de 33 reféns israelitas por centenas de prisioneiros palestinianos.
O acordo ainda não está totalmente aprovado, segundo anunciou hoje o Governo israelita, invocando uma "crise de última hora".
De acordo com o primeiro-ministro de Israel, o Hamas recuou num entendimento que, segundo Benjamin Netanyahu, daria a Israel o poder de veto sobre quais os prisioneiros palestinianos condenados por homicídio que seriam libertados em troca de reféns.
Ainda assim, o acordo já está a ser festejado pelos palestinianos e a receber reacções de toda a comunidade internacional.
Para a Save the Children, o acordo chega demasiada tarde, "mesmo para as crianças que sobreviveram", já que "as suas infâncias foram roubadas e substituídas por ferimentos e deficiências, danos mentais potencialmente irreversíveis, perda de familiares e amigos e destruição de lares, escolas e centros de saúde".
As consequências da fome infantil, da subnutrição e das doenças "são indeléveis", alertou.
Ashing enfatizou ainda a necessidade de garantir a responsabilização pelos crimes cometidos contra crianças em Gaza, argumentando que "isso também significa abordar as suas causas profundas, acabar com a ocupação, suspender o bloqueio em Gaza e criar as condições para uma paz duradoura e definitiva".
"Qualquer solução que não inclua um cessar-fogo definitivo e a responsabilização pelas atrocidades cometidas fica muito aquém da segurança, da assistência e dos direitos mais amplos que as crianças palestinianas necessitam, merecem e a que têm direito, e significa que a comunidade internacional estará mais uma vez a falhar", defendeu a directora executiva da organização.
O acordo, alcançado após meses de negociações indirectas, será dividido em três fases.
A primeira vai durar 42 dias e irá certificar o fim das hostilidades, a retirada das tropas israelitas da fronteira e a troca de 33 reféns por prisioneiros palestinianos.
A segunda fase envolve a distribuição de ajuda humanitária "segura e eficaz" a grande parte da Faixa de Gaza, devastada por mais de 15 meses de ofensiva israelita e a realização de reparações em instalações de saúde, sendo também fornecidos mantimentos e combustível ao enclave.
Os pormenores sobre a segunda fase e a previsão para a terceira vão ser divulgados após a certificação da primeira.
Israel lançou a sua ofensiva contra Gaza após os ataques do Hamas a 07 de Outubro de 2023, que fizeram quase 1.200 mortos e cerca de 250 reféns.
Desde então, mais de 46.700 palestinianos foram mortos na Faixa de Gaza, de acordo com as autoridades controladas pelo Hamas, com mais de 850 mortos pelas forças de segurança e em ataques de colonos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental. CQ/AM