Genebra - A directora-geral da Organização Internacional para as Migrações (OIM), Amy Pope, defendeu hoje que as sanções internacionais impostas à Síria "têm de ser reavaliadas" para permitir a reconstrução, apontando as consequências são muito visíveis e fragilizam o país.
Numa conferência de imprensa realizada esta manhã em Genebra, na Suíça, Amy Pope frisou que a economia na Síria se baseia apenas em dinheiro, já que não há sistema bancário devido às sanções impostas há vários anos ao regime do ex-Presidente Bashar al-Assad.
"Temos de adoptar excepções às sanções, é a única maneira de reconstruir e desenvolver o país e de darmos escala às respostas que precisamos dar a todas as necessidades que vemos", afirmou.
A responsável da agência da ONU, que visitou Damasco nos últimos dias descreveu ainda as "enormes faltas" em todas as áreas, referindo a necessidade de fornecer recursos em grande escala.
"O Governo atual não tem capacidade de responder às necessidades das pessoas, é preciso ajuda da comunidade internacional", sublinhou.
"O impacto de quase 14 anos de conflito é evidente em todo o lado", adiantou Amy Pope, referindo que o país "está num encruzilhada -- o seu povo resoluto, determinado a superar o passado, determinado a reconstruir as suas vidas, mas cauteloso com a imensa incerteza do que está por vir".
Em algumas zonas do país, descreveu, as infraestruturas essenciais, como hospitais e escolas, estão destruídas ou disfuncionais.
"Alepo, por exemplo, foi praticamente destruída durante o conflito entre 2012 e 2016, com mais de dois milhões de pessoas a abandonarem a cidade".
Portanto, resumiu, "as necessidades humanitárias vão desde as mais básicas -- abrigo, comida e água potável -- até à complexa tarefa de reconstruir uma sociedade destroçada".
Segundo assegurou, os vários representantes do Governo interino com quem se encontrou, manifestaram "interesse na reconstrução do país e abertura à comunidade internacional, com uma vontade declarada de fazer uma parceria para satisfazer as necessidades dos sírios".
Para ajudar, aponto a responsável, há que seguir algumas prioridades.
"A prioridade número um é a assistência humanitária. Os números são gritantes. Mais de 90% da população vive abaixo do limiar da pobreza e cerca de 800 mil pessoas tornaram-se novos deslocados nas últimas semanas".
Em segundo lugar, é fundamental ter estabilidade.
"Haverá uma transição -- a justiça, a reparação e a inclusão são uma parte importante disto. Os direitos à habitação, à terra e à propriedade são essenciais e estão no centro da estabilização da comunidade, no contexto dos retornos esperados", sublinhou Amy Pope, adiantando que é essencial recolher dados que estão, há muito, em falta.
"A realização rápida deste trabalho de base crítico é extremamente importante, porque sem os dados, não podemos saber onde priorizar a assistência e, portanto, isto é fundamental para toda a resposta", argumentou.
Por outro lado, a OIM vai aumentar a presença da organização na Síria, nomeadamente em Damasco, de onde está ausente desde 2018, e retomar esforços com parceiros e comunidades locais.
A organização está a fazer contactos com os países vizinhos que acolheram populações sírias durante a última década.
"Naturalmente, também estão atentos à situação e necessitam de apoio para se adaptarem à paisagem em mudança. Instamos a comunidade internacional a continuar a prestar apoio aos países que acolhem um grande número de cidadãos sírios", apelou, sublinhando que o compromisso com o povo da Síria vai continuar.CS