Luanda – O calendário assinala o 21 de Março “Dia Internacional da Luta Contra a Discriminação Racial”, uma data dedicada à reflexão, conscientização e combate ao racismo e à discriminação racial no mundo.
Por Catarina da Silva, jornalista da ANGOP
A efeméride é uma oportunidade para se reflectir sobre a persistência do fenómeno racismo e da discriminação racial, que continuam a afectar milhões de pessoas ao redor do mundo e reforçar a necessidade urgente de tomada de acções concretas para promover a igualdade e a justiça social.
Este dia, estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1966, tem as suas origens num evento trágico ocorrido em 1960, quando a polícia sul-africana disparou contra manifestantes pacíficos na cidade de Sharpeville, durante uma manifestação contra o regime do Apartheid.
O massacre resultou na morte de 69 pessoas e no ferimento de centenas, tornando-se um símbolo da luta contra o racismo e a opressão sistemática.
Embora o Apartheid tenha sido formalmente abolido na África do Sul, em 1994, o racismo sistémico (também entendido como racismo institucional ou estrutural, referindo-se a um sistema de discriminação racial que opera em nível institucional e estrutural, naturalizando e perpetuando desigualdades raciais) ainda persiste em muitas partes do mundo.
Este tipo de racismo pode ser praticado em forma de preconceito racial, discriminação institucional ou violência policial, cujas consequências continuam a marginalizar comunidades, afectando a dignidade e os direitos fundamentais de pessoas com base na cor da pele ou na origem étnica.
Em diversas regiões, pequenos grupos - como negros, indígenas, muçulmanos, latinos e migrantes - enfrentam discriminação no acesso a direitos essenciais, como educação, saúde, emprego e segurança.
O racismo estrutural, embora menos visível que as formas abertas de discriminação, continua a perpetuar desigualdades económicas e sociais, criando barreiras que dificultam o progresso e a inclusão.
Importância do Dia Internacional da Luta Contra a Discriminação Racial
O Dia Internacional da Luta Contra a Discriminação Racial é uma ocasião crucial para a mobilização global contra as diversas formas de preconceito racial que prevalecem nas sociedades modernas. A data não é apenas uma oportunidade para lembrar os “crimes” do passado, mas também para reflectir sobre o presente e analisar os passos que ainda precisam ser dados para se garantir a igualdade racial em todos os níveis da sociedade.
O dia também serve para promover a conscientização sobre a discriminação racial, suas diversas formas e como ela afecta as pessoas e as comunidades, lutar por políticas públicas que garantam a igualdade de oportunidades e direitos para todos, independentemente da sua origem racial ou étnica.
A efeméride é um “despertar” também da consciência para o impacto de eventos históricos de discriminação, como o Apartheid, a escravidão e o colonialismo, que moldaram as desigualdades, bem como fortalecer o compromisso global e reafirmar o comprometimento dos governos, organizações e indivíduos no combate ao racismo e à discriminação a nível mundial.
Desafios e conquistas
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), embora avanços importantes tenham sido alcançados em muitas áreas, as sociedades ainda são atormentadas por discriminação, racismo e desigualdades.
Nenhum dos desafios multifacetados e complexos dos tempos actuais pode ser enfrentado efectivamente sem inclusão. Esta é a mensagem da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) e sua promessa de “Não deixar ninguém para trás”.
O mundo está cada vez mais interconectado, mas isso não significa que indivíduos e sociedades realmente vivam juntos – pois temos assistido várias situações de exclusões sofridas por indivíduos pobres, mulheres, jovens, migrantes e minorias marginalizadas.
O racismo estrutural e institucional continuam a impactar o mercado de trabalho e o acesso a serviços de saúde e educação, especialmente para pessoas negras, indígenas e outras comunidades marginalizadas.
No entanto, também há exemplos de progresso. “Movimentos sociais”, como o “Black Lives Matter, nos Estados Unidos, e campanhas de sensibilização global, têm desempenhado um papel importante na luta contra a discriminação racial e na promoção de “políticas de inclusão e reparação”.
Em muitos países, legisladores e organizações internacionais têm implementado leis mais rigorosas contra a discriminação racial, embora a implementação dessas leis e a mudança cultural ainda sejam desafios constantes.
Enquanto a discriminação racial continuar a ser um problema significativo em muitas partes do mundo, os governos também continuarão a encarar esse “mal” como uma “batalha”, quiçá uma “guerra” a ser vencida. CS/ADR