Berlim - A ministra dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Annalena Baerbock, pediu hoje uma "ponte aérea de solidariedade" para transferir refugiados da Ucrânia para os diferentes países da União Europeia (UE) e também "para a comunidade transatlântica".
"Temos de estar muito conscientes de que mais de três milhões de pessoas fugiram" do país e que "nos primeiros dias da guerra" foram "para outros países europeus com que têm uma ligação", disse Baerbock à entrada da reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros da UE, que hoje se realiza em Bruxelas.
"Com a brutalidade da guerra russa, mais pessoas virão, mais do que alguma vez tivemos na Europa", avisou Baerboch, estimando que a guerra na Ucrânia causará oito milhões de refugiados.
Perante a situação, "não precisamos apenas de corredores para sair da Ucrânia, mas também de uma ponte aérea solidária. Temos de distribuir [os refugiados] directamente a partir da fronteira para os países europeus", defendeu a ministra alemã.
"Cada país da Europa deverá acolher centenas de milhares de refugiados e distribuí-los também entre a comunidade transatlântica", acrescentou.
Baerbock considerou ainda que os bombardeamentos dos últimos dias contra "-, hospitais ou teatros onde se sabe que há civis, famílias, pessoas, são claramente crimes de guerra".
Na sua opinião, é, por isso, "evidente que, como UE e como comunidade internacional que acredita num sistema internacional baseado em regras, é preciso isolar claramente" o regime do Presidente russo, Vladimir Putin.
A ministra alemã salientou também que os ministros dos Negócios Estrangeiros europeus vão tomar hoje "uma decisão política" para conseguir mais meios financeiros que permitam à Ucrânia comprar armas.
Os chefes de Estado e de Governo acordaram em Versalhes, há duas semanas, aumentar o Fundo Europeu de Apoio à Paz (FEAP) - que é alimentado por contribuições dos Estados-membros fora do orçamento comunitário - para 1.000 milhões de euros.
Não é esperado, no entanto, que os ministros adoptem hoje a decisão formalmente. O Bundestag (o parlamento alemão), por exemplo, tem de autorizar o aumento do capital, dado que o fundo de 500 milhões de euros inicialmente previsto para envio de armamento está praticamente esgotado.
Embora admita que o envio de armas para a Ucrânia é uma questão de "responsabilidade para com os homens e mulheres ucranianos", Baerbock sublinhou que "se continua a fazer o possível para que esta guerra não envolva a Aliança [Atlântica, ou seja, a Otan], referindo que, por isso, não se pode "permitir que haja actos de guerra noutros países".
Sobre a possibilidade de impor um embargo energético à Rússia em futuras sanções, Baerbock destacou que mesmo "sob grande pressão, está-se a tentar acabar com a dependência das importações russas", pelo que o Governo alemão "está à procura de alternativas ao petróleo e gás [que permitam] acabar com a dependência dos combustíveis fósseis da Rússia".
A Rússia lançou, a 24 de Fevereiro, uma ofensiva militar na Ucrânia, depois de meses a concentrar militares e armamento na fronteira com a justificação de estar a preparar exercícios.
A guerra já matou pelo menos quase mil civis e feriu cerca de 1.500, incluindo mais de 170 crianças, de acordo com as Nações Unidas. Além disso, o conflito provocou a fuga de mais de 10 milhões de pessoas das suas casas, entre as quais mais de 3,3 milhões para os países vizinhos.
Segundo a ONU, cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.