Bruxelas - As relações externas dominam a agenda do Conselho Europeu que decorre entre hoje e terça-feira, o primeiro realizado presencialmente este ano em Bruxelas, o que permitirá designadamente aos líderes abordar assuntos sensíveis, como a Rússia.
Inicialmente convocada pelo presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, para 25 de Maio, esta cimeira foi alargada para dois dias, começando ao início da noite de hoje, com um jantar de trabalho consagrado à política externa, destacando-se a "discussão estratégica" sobre a Rússia, que já esteve na agenda do Conselho de março passado.
Na altura, a reunião de chefes de Estado e de Governo da UE, de 25 e 26 de Março, que deveria ser presencial, acabou por ter de ser celebrada no formato virtual, devido ao agravamento da situação epidemiológica da covid-19, tendo o debate sobre a Rússia sido adiado por receios de segurança relacionados com a "vulnerabilidade" das videoconferências.
Agora que os líderes dos 27 podem voltar finalmente a reunir-se em Bruxelas, o que não sucedia desde Dezembro de 2020 -- as cimeiras do Porto de há duas semanas, a 07 e 08 de Maio, foram as primeiras "físicas" de 2021, mas com uma agenda própria -, terá então lugar o debate sobre a Rússia, devendo o Conselho "condenar as actividades da Rússia contra a UE e os seus Estados-membros", segundo fontes europeias, que não excluem a possibilidade de serem consideradas novas sanções.
As mesmas fontes apontam que, além de reiterar solidariedade com os parceiros de Leste e Estados-membros mais atingidos pelas "provocações" de Moscovo -- designadamente a República Checa -, o Conselho deverá convidar a Comissão Europeia e o Alto Representante para a Política Externa a elaborar um relatório sobre o estado atual das relações UE-Rússia e propostas sobre o caminho a seguir.
"As acções ilegais e provocatórias da Rússia têm prosseguido, tanto junto dos Estados-Membros da UE como fora, mais recentemente com a chamada lista de 'Estados não amigos'. Um futuro debate entre nós poderia ser utilmente enquadrado por um relatório do Alto Representante e da Comissão, em conformidade com os cinco princípios orientadores das relações UE-Rússia", escreveu Charles Michel, na carta-convite dirigida aos chefes de Estado e de Governo.
Ainda em matéria de política externa, os chefes de Estado e de Governo dos 27 vão discutir pela primeira vez as relações com o Reino Unido desde a consumação do 'Brexit', no final de Janeiro passado, e já à luz da entrada em vigor de forma definitiva, a 01 de Maio, do Acordo de Comércio e Cooperação, que rege agora as relações entre as partes.
Fontes europeias indicaram que, não sendo pontos oficiais da agenda, há dois outros temas que muito provavelmente serão discutidos também na segunda-feira à noite: o conflito israelo-palestiniano e as migrações, este último por solicitação do primeiro-ministro italiano, Mário Draghi.
A esta agenda inicialmente prevista, juntou-se no domingo o desvio pela Bielorrússia de um avião da Ryanair que voava de Atenas para Vilnius, onde viaja o jornalista e opositor ao regime bielorrusso Roman Protasevich, que acabou por ser detido em Minsk.
No segundo dia de trabalhos, terça-feira, os líderes europeus dedicar-se-ão aos outros dois grandes temas deste Conselho Europeu: a coordenação europeia no combate à pandemia da covid-19 -- um tema "obrigatório" há já mais de um ano -- e o combate às alterações climáticas.
Relativamente à covid-19, a discussão tem lugar poucos dias após a presidência portuguesa do Conselho da UE ter alcançado um acordo político provisório com o Parlamento Europeu sobre o "certificado digital covid-19 da UE", devendo os líderes focar-se sobretudo na utilização deste livre-trânsito criado com vista a facilitar a livre circulação na União a tempo de salvar a época turística de verão e promover a recuperação económica.
"O recente acordo sobre o certificado digital covid é um passo bem-vindo. Devemos prosseguir a nossa abordagem coordenada para facilitar a livre circulação na UE", lê-se na carta-convite do presidente do Conselho Europeu, que acrescenta que é, no entanto, "da maior importância" a Europa continuar "vigilante relativamente às novas variantes" do coronavírus e estar "preparada para agir, se necessário".
Quanto às alterações climáticas, os 27 deverão focar-se em como atingir as novas metas com as quais se comprometeram em Dezembro passado - uma redução das emissões de gases com efeito de estufa da UE de, pelo menos, 55 % até 2030, em comparação com 1990 -, designadamente o regulamento sobre a partilha de esforços para alcançar esse objetivo.
Portugal estará representado na cimeira pelo primeiro-ministro, António Costa, presidente em exercício do Conselho da UE até final de Junho.