Teerão - O líder supremo iraniano afirmou hoje que "acolheria de bom grado" o restabelecimento de relações diplomáticas entre o Egipto e o Irão, aumentando a expectativa de que ambos os países normalizem relações após décadas de tensão.
Os comentários do ayatollah Ali Khamenei surgem numa altura em que uma série de portais ligados à Presidência do Irão exibiram imagens de dois líderes de um grupo de oposição no exílio, enquanto outros mostravam riscadas as imagens de Khamenei e do Presidente egípcio, Ebrahim Raisi.
No entanto, as palavras de Khamenei foram divulgadas pela televisão estatal iraniana que reportava um uma reunião do líder supremo iraniano com o sultão de Omã, Haitham bin Tariq.
Já há várias semanas sinais crescentes de que o Egipto e o Irão poderão vir a restabelecer as relações político-diplomáticas, sobretudo porque a Arábia Saudita e o Irão fizeram o mesmo em Março, sob mediação chinesa, após anos de tensões.
O Egipto depende da Arábia Saudita e de outros Estados árabes do Golfo, ricos em petróleo, para obter apoio económico.
"Congratulamo-nos com esta questão e não temos qualquer problema a este respeito", disse Khamenei, citado pela televisão iraniana.
No entanto, as palavras de Khamenei não obtiveram ainda uma reacção pública do Cairo, cujas autoridades, segundo reporta a agência noticiosa Associated Press (AP), não responderam a um pedido de comentário.
Em 1979, sob a presidência de Anwar el-Sadat (1970/1981), o Egipto cortou as relações com o Irão, na sequência da revolução islâmica que levou o ayatollah Ruhollah Khomeini ao poder.
Sadat era um amigo próximo do Xá Mohammad Reza Pahlavi, que foi recebido em territóio egipcio pouco antes da sua morte e que foi o anfitrião do seu funeral de Estado em 1980.
Os restos mortais do Xá estão sepultados na mesquita Al-Rifai, no Cairo.
O acordo de paz do Egipto com Israel também irritou o governo teocrático do Irão, que vê Israel como o seu principal inimigo regional.
Após a Primavera Árabe, de 2011 e a eleição do Presidente Mohammed Morsi, um islamista que pertencia à Irmandade Muçulmana, as relações com o Irão melhoraram, mas o golpe de Estado militar de 2013 derrubou Morsi e o Presidente egípcio Abdel Fattah el-Sissi assumiu o poder, inviabilizando a aproximação ao Irão.
Entretanto, hoje, uma conta na rede social Internet que se descreve como um grupo de piratas informáticos reivindicou a responsabilidade pela destruição de portais na Web associados à presidência do Irão.
No início deste mês, a conta GhyamSarnegouni, cujo nome em farsi significa "levantar-se para derrubar", já tinha reivindicado a pirataria de portais da Web associados ao Ministério dos Negócios Estrangeiros do Irão
Os meios de comunicação social e as autoridades iranianas não reconheceram imediatamente os aparentes atos de pirataria informática.
No entanto, os jornalistas da AP que acederam aos portais encontraram-nos desfigurados com imagens de Massoud Rajavi, o líder há muito desaparecido do grupo iraniano no exílio Mujahedeen-e-Khalq, e da sua mulher Maryam, que é agora o rosto público do grupo.
Um dos portais apresentava a palavra de ordem "Morte a Khamenei Raisi - Viva Rajavi", comprovando-se que Khamenei e Raisi, foram ambos visados de forma semelhante na pirataria informática reivindicada no início deste mês.
O Irão tem sido alvo, considera a AP, de uma série de ataques informáticos "embaraçosos" no meio das tensões crescentes sobre o programa nuclear de Teerão, "que tem avançado rapidamente".
O sinal da televisão estatal iraniana foi alvo de um ataque informático, bem como as bombas de gasolina que fornecem combustível subsidiado, em que foram divulgadas imagens de câmaras de vigilância do governo, incluindo as de uma prisão de alta segurança.DSC