Beirute - Libaneses aguardam com pouca esperança a prevista eleição na quinta-feira, de um novo Presidente, após várias tentativas falhadas durante os últimos dois anos, que deixaram um vácuo de poder no país.
Tendo como pano de fundo um cessar-fogo frágil com Israel e de uma brutal crise económica que deixou de rastos o país outrora conhecido como "Paris do Médio Oriente", a esperança pelas ruas de Beirute que algo possa efectivamente mudar é pouca.
"Nada vai mudar, este presidente vai ser igual ao anterior, as pessoas aqui não mudam muito, politicamente" diz à Lusa Rania Imam.
A psicóloga de 26 anos está desempregada, como muitos outros jovens libaneses. Apesar do cepticismo, Rania espera que as coisas sejam diferentes. Em primeiro lugar, espera que o próximo Presidente consiga "melhorar a economia, definitivamente", depois assegurar direitos humanos básicos para as crianças, mulheres e a comunidade LGBT no país, e ainda apoiar os desalojados pela guerra, assim como a reconstrução das suas casas.
O Banco Mundial estima que o prejuízo da guerra ronda mais de oito mil milhões de euros.
Uma despesa monumental para um país que já enfrentava uma das piores crises económicas dos tempos modernos.
O próximo chefe de Estado terá ainda que lidar não só com a presente invasão do sul do país por Israel, mas também com o desarmamento do Hezbollah nesses territórios.
Após dois anos de tentativas e divisão interna, o nome do General Joseph Aoun emergiu como um candidato que poderá agradar às várias comunidades religiosas representadas por partidos políticos no parlamento. Aoun tem o selo de aprovação dos Estados Unidos e da França e de metade da bancada cristã. A outra metade, aliada do Hezbollah, já deu sinais de que não vai vetar Aoun.
"Pessoalmente, sou contra uma liderança militar", dia à Lusa o politólogo Fadi El-Hajjar, de 56 anos. "Um candidato tem que estar fora do uniforme e se calhar até ser treinado para conseguir trabalhar fora da mentalidade militar", diz.
El-Hajjar também não acredita que qualquer dos possíveis candidatos represente uma diferença substancial do historial político libanês, há muito corroído por uma elite altamente corrupta, equiparada pelo Banco Mundial a um esquema em pirâmide.
A eleição de um Presidente foi até agora impossibilitada pelas divisões internas e interesses políticos, como por exemplo o poder e influência substancial do Hezbollah. No entanto, este partido libanês xiita financiado pelo Irão apresenta-se agora numa posição enfraquecida após uma guerra violenta.
"Não podemos dizer que o Hezbollah já não tem nenhum poder, mas o seu poder mudou. Em segundo lugar, e ainda mais importante, são os acontecimentos na Síria: [o Hezbollah] perdeu a profundidade estratégica daqui até ao Irão", explica El-Hajjar.
"Não sabemos o que vai acontecer a seguir, mas eu pessoalmente não quero que o exagero de poder que o Hezbollah tinha passe para outro partido, independentemente de quem poderá ser. Há um novo balanço de poder, mas continuamos sem estabilidade", diz.
Para outros libaneses, a queda da influência do Irão já é um importante primeiro passo.
"Eu não acho que (o General Joseph Aoun) seja genuinamente capaz de fazer o que o povo libanês quer, mas acho que politicamente é a melhor opção, fazer parte do Ocidente e não do Oriente", diz à Lusa Omar Saad.
O jovem de 26 anos está de férias em Beirute, mas vive no Canadá, para onde emigrou há três anos por causa da crise económica e falta de oportunidades, como muitos outros.
Como todos os seus compatriotas, Omar quer um Líbano melhor, mas também ele sente que ter esperança é inútil. O jovem diz à Lusa que não planeia voltar a viver no país, com ou sem Presidente.
"No Líbano não há futuro. As coisas não vão melhorar. Enquanto Israel estiver na fronteira não vamos ser independentes ou poderosos o suficiente para tomar qualquer decisão", diz. AM