Naipyido - A junta militar no poder em Myanmar vai impor a dissolução do partido de Aung San Suu Kyi, deposta pelo golpe de Estado de Fevereiro, enquanto se intensificam as perseguições judiciais contra a prémio Nobel da Paz.
A Comissão Eleitoral, nomeada pela junta militar, anunciou hoje que vai dissolver a Liga Nacional para a Democracia (LND), por ter cometido "fraude eleitoral" durante as legislativas de Novembro passado, a justificação original para o golpe militar de 01 de Fevereiro que destituiu o executivo liderado por Suu Kyi.
O anúncio foi emitido pelo presidente da Comissão Eleitoral, Thein Soe, durante uma reunião em Naipyido com um grupo de partidos políticos, segundo revelou um dos intervenientes no portal de notícia Myanmar Now.
A formação dirigida desde 2015 por Aung San Suu Kyi voltou a vencer por larga margem as últimas legislativas em Myanmar (antiga Birmânia) e arrasou o Partido da Solidariedade e Desenvolvimento da União (USDP), vinculado aos militares, que garantiu 24 lugares face aos 368 do partido da vencedora do prémio Nobel em 1991.
Os media oficiais publicam desde há semanas e diariamente as supostas provas apresentadas pelo Comissão Eleitoral sobre a alegada manipulação de mais de 10 milhões de votos realizada pela LND nas últimas eleições.
A rede asiática para umas eleições livres (ANFREL, na sigla em inglês), que participou nessas eleições como observador internacional, rejeitou as alegações de fraude ao apresentar, na passada segunda-feira, o seu relatório final sobre as eleições birmanesas.
"Não encontrámos provas sobre a manipulação das eleições. Pelo contrário, cremos que os resultados constituem uma ampla representação da vontade do povo birmanês", assinalou o observador Chung Lun.
Após o golpe, a junta militar liderada pelo general Min Aung Hlaing comprometeu-se na organização de um novo escrutínio após um ano no poder, mas em que não poderia participar a formação no poder até ao golpe de Estado.
No decurso do levantamento, os militares encerraram o parlamento e perderam diversos ministros, incluindo Suu Kyi, desde então em prisão domiciliária.
A antiga conselheira de Estado e ministra dos Negócios Estrangeiros enfrenta vários processos judiciais onde é acusada de diversos delitos, incluindo a importação ilegal de dispositivos electrónicos ou incumprimentos das normas sobre o covid-19.
O processo contra Suu Kyi e outros membros do Governo eleito decorre enquanto prosseguem os protestos e o movimento de desobediência civil contra a junta militar, duramente reprimidos pelas forças de segurança e com um balanço de pelo menos 810 mortos e cinco mil detenções.