Teerão - As autoridades iranianas adiantaram na segunda-feira que forneceram provas aos países que acusam de estar envolvidos nas manifestações que decorrem no Irão sobre os actos cometidos pelos seus cidadãos, noticia a agência IRNA.
Os protestos no Irão foram desencadeados após a morte de Mahsa Amini em 16 de Setembro, três dias depois de ter sido detida em Teerão pela chamada “Polícia dos Costumes”, que a acusou de violar o rígido código de indumentária, "abriram caminho" para este tipo de ataque.
As autoridades iranianas denunciaram estes protestos como "motins" incentivados por países ocidentais, principalmente os Estados Unidos, inimigo do Irão.
Dezenas de pessoas, principalmente manifestantes, mas também membros das forças de segurança, foram mortas desde o início dos protestos, segundo as autoridades iranianas, que não fornecem uma avaliação precisa ou geral.
Segundo o mais recente balanço da organização não-governamental Iran Human Rights (IHR), nas últimas semanas, o número de mortes às mãos das forças de segurança iranianas chega a 326, incluindo 43 menores.
O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Nasser Kanani, destacou esta segunda-feira aos jornalistas que as provas sobre os estrangeiros detidos no Irão ligados aos distúrbios foram "fornecidas aos países envolvidos".
Kanani não adiantou as suas nacionalidades, mas no início de Outubro, as autoridades iranianas tinham anunciado a detenção de nove estrangeiros, principalmente da Polónia, Itália e França, acusados de ligações com o movimento de protesto.
No entanto, o porta-voz da diplomacia iraniana acrescentou que perante "interferências de países estrangeiros que causaram danos ao Irão ou tentativas de tumultos, foram tomadas medidas legais e os Negócios Estrangeiros entraram em contacto com os Estados interessados através de canais diplomáticos", sem explicar quais as "medidas judiciais".
Em alguns casos, "enviámos reclamações às embaixadas ou convocámos os embaixadores desses países, fornecendo provas e exigindo uma resposta do seu país", vincou Kanani.
Vários embaixadores, principalmente da Alemanha, Reino Unido ou França, foram convocados nas últimas semanas para receberem notas de protesto.
Também esta segunda-feira, o embaixador alemão Hans Edo Motsel foi novamente convocado ao Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano após declarações do chanceler alemão Olaf Scholtz que criticou fortemente a República Islâmica, acusando-a de ser "a única responsável pela explosão da violência" no país.
Em reacção, o responsável da diplomacia iraniana para a Europa Ocidental condenou as declarações "irresponsáveis" do chanceler alemão e transmitiu ao embaixador o forte protesto do Irão contra "a atitude destrutiva da Alemanha".
A autoridade iraniana também culpou Berlim pelas "repercussões de tais declarações no futuro das relações entre os dois países", noticiou a agência oficial IRNA.
Os protestos estão a ser liderados sobretudo por jovens e mulheres, em que são gritadas palavras de ordem como "mulher, vida, liberdade" e lançados “slogans” contra o Governo, ao mesmo tempo que se assiste nas ruas à queima de véus, um dos símbolos da República Islâmica, algo impensável há pouco tempo.
A emissão da primeira sentença de morte pela Justiça iraniana para um activista que participou nas mobilizações de protesto contra o autoritário regime teocrático no Irão levou esta segunda-feira a várias associações locais a reforçar os apelos a manifestações idênticas.
Desde que os protestos eclodiram, os Estados Unidos e a União Europeia (UE) impuseram sanções adicionais ao Irão pelo seu tratamento brutal aos manifestantes e a sua decisão de enviar centenas de “drones” à Rússia para a utilização na sua guerra na Ucrânia.
No sábado, Olaf Scholz, pediu novas sanções à escala da UE contra o Irão, em resposta à repressão das manifestações pacíficas.
Também esta segunda-feira, o Conselho de Direitos Humanos da ONU anunciou que vai realizar uma sessão especial a 24 deste mês para discutir "a deterioração dos direitos humanos e do Irão", na sequência de um pedido apresentado pela Alemanha e pela Islândia e aprovado por mais de um terço dos 47 países membros.