Porto Príncipe - Um surto de cólera que está a assolar o Haiti está a provocar um número cada vez maior de mortes entre crianças, numa altura em que o país está já a sofrer as consequências da forte vaga de desnutrição que continua sem dar tréguas, alertou a UNICEF esta quarta-feira, aqui citada pela Associated Press.
Cerca de 40 por cento dos casos de cólera no país estão a ser registados em crianças. Por sua vez, nove em cada 10 estão a ser identificados em áreas onde as pessoas estão a passar fome, de acordo com a agência das Nações Unidas.
"Temos de planear o pior", disse Manuel Fontaine, diretor do Gabinete de Programas de Emergência da UNICEF, à Associated Press, na terça-feira, durante uma visita ao Haiti. "A cólera e a desnutrição são uma combinação letal, uma conduzindo à outra", acrescentou ainda.
A cólera já matou mais de 200 pessoas desde que as primeiras mortes foram anunciadas, no início de Outubro. Outras 9.300 vítimas estão hospitalizadas, de acordo com o Ministério da Saúde do Haiti, embora os especialistas acreditem que o número de afetados pela doença seja muito superior.
Face a este cenário, a UNICEF e o governo do Haiti procuram pelo menos 28 milhões de dólares para ajudar a alimentar, hidratar e fornecer cuidados médicos a 1,4 milhões de pessoas afectadas por esta crise, numa altura em que se espera que tal número possa vir a aumentar à medida que a desnutrição da população se assevera.
O Governo do Haiti pediu, recentemente, a disponibilização de vacinas contra a cólera. Porém, existe neste momento uma escassez mundial das mesmas, num momento em que 31 países comunicaram já a ocorrência de surtos, o que impede que existam certezas acerca da data de chegada das mesmas (ou se isso vai, efetivamente, acontecer).
O primeiro surto de cólera no país remonta a 2010, após as forças de manutenção da paz da ONU do Nepal terem introduzido a bactéria no maior rio do país através dos esgotos. Cerca de 10.000 pessoas morreram, ao passo que outras 850.000 ficaram doentes.