Nova Iorque - O secretário-geral da ONU avisou esta segunda-feira que qualquer anexação israelita da Cisjordânia seria "uma violação muito grave do direito internacional" e pediu que a UNWRA seja autorizada a trabalhar, além da entrada de jornalistas na Faixa de Gaza.
"Estou profundamente preocupado com a ameaça existencial à integridade e contiguidade do território palestiniano ocupado de Gaza e da Cisjordânia", declarou António Guterres durante uma reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre a situação no Médio Oriente.
O secretário-geral das Nações Unidas referiu que "altos responsáveis israelitas estão a falar abertamente sobre uma anexação formal de toda ou parte da Cisjordânia nos próximos meses", segundo a Lusa.
Estas declarações de Guterres no Conselho de Segurança acontecem no mesmo dia em que Donald Trump toma posse para um novo mandato na Casa Branca (presidência norte-americana) e em que começa um novo ciclo nas relações de Washington com Israel.
Durante o seu primeiro mandato (2017-2021), Donald Trump apresentou um plano que previa a anexação de quase 30% da Cisjordânia e, já depois de eleito nas últimas presidenciais, em Novembro de 2024, indicou Mike Huckabee, muito próximo dos círculos pró-colonatos israelitas, para embaixador em Israel.
Reiterando o seu apoio a uma solução de dois Estados, "com Israel e a Palestina a viverem lado a lado em paz e segurança", António Guterres apelou também para um "esforço colectivo", no sentido de permitir "a reunificação efectiva de Gaza com a Cisjordânia, nos níveis político, económico, social e administrativo".
Saudou ainda como um "raio de esperança" o acordo de cessar-fogo que entrou em vigor na Faixa de Gaza no domingo, juntamente com a libertação de reféns.
"Agora as partes devem respeitar os seus compromissos e implementar o acordo na íntegra. Peço às partes que garantam que este acordo conduza à libertação de todos os reféns e a um cessar-fogo permanente em Gaza", disse Guterres, a respeito da aplicação do entendimento entre Israel e o grupo islamita Hamas, ao fim de 15 meses de guerra no enclave palestiniano.
O secretário-geral das Nações Unidas instou, por outro lado, Israel a permitir o trabalho da agência das Nações Unidas para os refugiados palestinianos (UNRWA, na sigla em inglês), que no final do mês será severamente restringido por ordem do parlamento israelita, bem como a entrada da imprensa internacional na Faixa de Gaza, que Israel proibiu desde o início da guerra com o Hamas.
A UNRWA "deve ser capaz de executar a sua tarefa sem obstáculos", defendeu ainda Guterres junto do Conselho de Segurança durante a sessão trimestral dedicada à situação no Médio Oriente.
O antigo primeiro-ministro português insistiu na urgência de ser permitida a entrada de ajuda humanitária no território, como alimentos, água, medicamentos, combustível, abrigos e materiais de reconstrução, o que implica acesso irrestrito, incluindo "vistos e autorizações", outra questão que Israel vem adiando há largos meses.
Guterres apelou aliás aos membros do Conselho de Segurança que fizessem tudo o que estivesse ao seu alcance para "garantir a responsabilização" pelo que aconteceu durante a guerra.
Sobre o pós-guerra na Faixa de Gaza, pediu a "intensificação dos esforços para decidir sobre um quadro de governação e segurança" e reiterou que a Autoridade Palestiniana disse estar pronta para "assumir o seu papel e as suas responsabilidades" no enclave.
O conflito em curso foi desencadeado por um ataque sem precedentes do Hamas em solo israelita, em 07 de Outubro de 2023, que fez cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns.
Após o ataque do Hamas, Israel desencadeou uma ofensiva em grande escala na Faixa de Gaza, que provocou mais de 47 mil mortos, na maioria civis, e um desastre humanitário, desestabilizando toda a região do Médio Oriente. AM