Londres - O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, declarou hoje (quarta-feira) que os talibãs "serão julgados pelas suas acções, não pelas suas palavras", durante uma sessão especial do parlamento britânico dedicada à situação no Afeganistão.
"Julgaremos este regime pelas escolhas que fizer e pelas suas acções e não pelas suas palavras. (Julgaremos) pelo seu comportamento face ao terrorismo, aos crimes e aos estupefacientes, bem como pelo acesso humanitário e o direito das mulheres a receberem educação", declarou o líder conservador aos deputados.
Até ao momento, o Reino Unido retirou 306 cidadãos britânicos e 2.052 afegãos após a tomada do poder no Afeganistão pelo grupo extremista talibã, referiu Johnson.
Na sessão na Câmara dos Comuns, Johnson indicou que o seu país também processou a documentação de 2.000 outros afegãos.
"As autoridades do Reino Unido estão a trabalhar sem parar para manter a porta de saída aberta nesta circunstância muito difícil e estão a procurar ativamente por aqueles que acreditam terem direito (a sair), mas que não estão registados (para serem retirados)", acrescentou.
Boris Johnson disse que o Reino Unido fará todo o possível para ajudar os afegãos que apoiaram as forças do seu país e evitar uma crise humanitária no Afeganistão.
"Faremos tudo o que pudermos para apoiar aqueles que ajudaram a missão do Reino Unido no Afeganistão, investiremos tudo o que pudermos para apoiar uma grande área ao redor do Afeganistão e para prevenir uma crise humanitária", declarou ainda Johnson.
Johnson reconheceu que os eventos no Afeganistão aconteceram mais rápido do que "até mesmo os talibãs previam", mas insistiu que o Governo britânico tinha uma retirada planeada.
"O que não é verdade é dizer que o Governo do Reino Unido não estava preparado ou não previu isso", enfatizou Johnson, relatando que a difícil operação logística para retirar cidadãos britânicos do Afeganistão estava em andamento "há muitos meses".
O primeiro-ministro britânico lembrou que há quase 20 anos os Estados Unidos sofreram o "ataque mais catastrófico contra a sua população desde a II Guerra Mundial, no qual também 67 cidadãos britânicos perderam a vida nas mãos de grupos terroristas assassinos gerados no Afeganistão".
Johnson também informou que espera convocar nos próximos dias uma reunião virtual do G7 (os países mais ricos do mundo) para tratar da crise afegã.
"Concordamos que seria um erro para qualquer país reconhecer um novo regime em Cabul prematuramente ou bilateralmente", declarou Johnson.
O Governo britânico anunciou na noite de terça-feira o lançamento de um novo dispositivo destinado a receber, "a longo prazo", 20.000 refugiados afegãos, sem especificar uma data.
A retirada de afegãos e estrangeiros, que se encontravam no Afeganistão, precipitou-se desde domingo, quando as forças talibãs tomaram o poder em Cabul instaurando um Emirado Islâmico.
O avanço das forças talibãs intensificou-se desde maio, quando começou a retirada das forças dos Estados Unidos.
A retirada dos militares norte-americanos foi negociada em Fevereiro de 2020.