Damasco – As autoridades espanholas vão pedir a retirada progressiva das sanções impostas pela União Europeia (UE) à Síria, juntando-se assim a Alemanha, França, Dinamarca, Finlândia e Países Baixos, disse hoje o ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE) espanhol.
O ministro José Manuel Albares fez o anúncio em Damasco, depois de uma reunião com as novas autoridades da Síria, que assumiram o poder após a queda do regimento de Bashar al-Assad, em 08 de Dezembro, cita o Notícias ao Minuto.
A Síria está desde então a ser governada por uma coligação de rebeldes, liderada pela Organização para a Libertação do Levante (Hayat Tahrir al-Sham, HTS), de Ahmad al-Charaa, com quem o MNE espanhol se reuniu hoje.
José Manuel Albares afirmou que transmitiu a al-Charaa as preocupações e questões que são fundamentais para Espanha, como o respeito pelos direitos das mulheres e das minorias religiosas e étnicas, a integridade territorial da Síria, a integração dos grupos armados as Forças Armadas e o desmantelamento dos arsenais químicos e dos laboratórios para produção de drogas que tinha o governo anterior.
"As respostas que recebi dão-me garantias de que o caminho que se quer percorrer é precisamente aquele que Espanha defende", disse Albares a jornalistas, para justificar o pedido de retirada de sanções europeias.
O MNE realçou que "se esse caminho que a nova Síria está a empreender se alterar" será possível tomar novas decisões e acrescentou que as sanções da UE foram impostas a um regime que caiu em Dezembro e "pertencem a outro momento que ficou para trás".
"O povo sírio não tem culpa nenhuma", afirmou Albares, que se mostrou optimista em relação ao apoio de todos os países da UE à proposta de retirada progressiva das sanções, que deverá entrar na agenda do Conselho Europeu de 27 de Janeiro.
"Abre-se uma nova página e todos temos interesse, pelo povo sírio e pela estabilidade no Médio Oriente, em os acompanhar", acrescentou.
A Organização para a Libertação do Levante integra a lista de organizações terroristas das Nações Unidas e dos Estados Unidos. Questionado sobre este facto, Albares defendeu que é preciso "apoiar uma nova Síria", que existem sinais que permitem ter esperança e que as novas autoridades do país devem ser julgadas por aquilo que fizerem.
Albares destacou a recepção "com amizade e franqueza" que teve por parte de Ahmad al-Charaa hoje e revelou que Espanha vai desbloquear um novo pacote de seis milhões de euros em ajuda humanitária à Síria, a que se somam três milhões para apoio a refugiados.
Em relação aos refugiados, disse que devem regressar ao país sempre que o façam de forma voluntária e em condições dignas.
Nesta passagem por Damasco, o MNE espanhol visitou também a prisão de Sednaya, onde se estima que 30 mil pessoas foram executadas e torturadas durante o regimento anterior, e reuniu-se com representantes de minorias religiosas.
Albares assistiu ainda a uma cerimónia de içar da bandeira na embaixada de Espanha, de onde tinha sido retirada em 2012, quando o embaixador saiu da Síria por causa da guerra civil.
A chefe da diplomacia da UE, Kaja Kallas, afirmou no domingo que para as sanções de Bruxelas serem aliviadas a Síria deverá seguir um progresso "tangível", com uma transição política que reflicta a diversidade do país.
"Analisaremos como aliviar as sanções. Mas isso deve seguir um progresso tangível numa transição política que reflicta a Síria em toda a sua diversidade", afirmou a alta representante da UE para os Negócios Estrangeiros, numa publicação nas suas redes sociais.
"A União Europeia está aqui para ajudar nessa transição, onde somos necessários e onde podemos ser mais úteis", disse. MOY/AM