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Equador vive indefinição eleitoral com risco de tensão nas ruas

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  • Luanda • Quinta, 11 Fevereiro de 2021 | 12h44

Quito - O Equador vive desde as eleições gerais de domingo uma tensa indefinição quanto ao candidato que passa à segunda volta, com o movimento indígena a ameaçar tomar as ruas e as autoridades a apelarem à calma.

Nas últimas horas, quando tudo apontava para uma histórica segunda volta com participação do líder indígena e ambientalista Yacu Pérez, o candidato que estava em terceiro lugar, o ex-banqueiro Guillermo Lasso, 65 anos, passou à frente de Pérez, 51 anos.

Com 99,90% dos votos apurados, o liberal Guillermo Lasso, do Criando Oportunidades, tem agora 19,68% dos votos válidos enquanto Yacu Pérez, do movimento de esquerda Pachakutik, tem 19,54%.

A escassa diferença de 0,14% representa apenas 12.775 votos e revela a disputa voto a voto que marca a contagem de votos desde domingo, quando o empate técnico deixou o país num limbo eleitoral.

Há 24 horas, Pérez liderava a disputa pelo segundo lugar com a mesma diferença que Lasso exibe agora.

Quem vencer a disputa passará à segunda volta, prevista para 11 de abril, e enfrentará Andrés Arauz, 36 anos, candidato apoiado pelo ex-presidente Rafael Correa, que se mantém à frente com 32,49% dos votos válidos.

Yacu Pérez denuncia uma série de irregularidades no processo eleitoral e ameaça impugnar os resultados e pedir uma recontagem nas regiões onde diz haver "sérias irregularidades que levantam suspeitas".

"A democracia está ferida. Hoje a fraude foi consumada", declarou Pérez à porta da Junta Eleitoral de Guayas, província cuja capital é Guayaquil, reduto eleitoral do rival Guillermo Lasso.

"Estamos perante uma caricatura de democracia. Deixaram a fraude para o final", insistiu Pérez, rodeado de militantes que nas últimas horas passaram de gritar "Já se sente Yaku Presidente" a advertir "Se Lasso ganha, o povo se levanta".

Perante a latente ameaça de protestos dos movimentos indígenas, a Polícia e as Forças Armadas intensificaram já as medidas de segurança.

Pérez disse ter pedido ao coordenador nacional do seu partido, Marlon Santi, que não avance ainda com protestos: "Eu pedi para esperarem. Queremos esgotar os recursos legais", disse.

"Pedi aos companheiros para terem calma. Eu não quero confrontações. Não quero distúrbios. Eu quero a paz, mas para que haja paz tem de haver justiça e transparência", ponderou, convocando as bases do partido e as organizações sociais a "ficarem vigilantes em defesa dos votos".

A missão de observação da Organização dos Estados Americanos (OEA) pediu "calma".

Também o Presidente cessante, Lenín Moreno, saiu do seu rigoroso silêncio que tem mantido em temas eleitorais para pedir "calma", "paciência" e "prudência" a todas as partes.

Exortou ainda as autoridades eleitorais a "tratar todos os pedidos de revisão" dos votos e a fazê-lo de maneira transparente.

Ao seu apelo à calma juntaram-se os dirigentes de quatro dos cinco poderes do país.

Na capital, Quito, o Centro de Processamento Eleitoral está cercado pela Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (CONAIE), que se diz em "marcha pacífica".

O presidente do Movimento Indígena e Camponês (MICC), Leonidas Iza, disse que "não está em jogo uma candidatura, mas um projeto político que foi eleito".

A última grande mobilização indígena, coordenada por Leonidas Iza, aconteceu em outubro de 2019 contra o pacote económico de cortes do Governo, exigido pelo FMI. Foram 11 dias de confrontos nas ruas de Quito, com uma dezena de mortos e cerca de 1.500 feridos, até o Presidente Lenín Moreno recuar.

O movimento indígena denuncia um complô político entre Guillermo Lasso e o ex-presidente Rafael Correa, padrinho político do candidato Andrés Arauz, que ficou em primeiro lugar e tem por isso vaga garantida na segunda volta.

Rafael Correa vive na Bélgica e não pode voltar ao Equador sem ser preso. Foi condenado a oito anos de prisão por corrupção e tenta voltar ao país através do seu candidato, que promete indultar o ex-presidente.

"Quem está a mover as peças é o 'correísmo" (movimento político liderado pelo ex-Presidente Rafael Correa). Eles têm pânico de que seja eu a entrar na segunda volta. Do outro lado, funciona o ego de Lasso para passar à segunda volta, mesmo sabendo que não tem hipótese de ganhar", aponta Yacu Pérez.

Se a disputa na segunda volta for entre as duas esquerdas, a de Andrés Arauz e a de Yacu Pérez, as hipóteses de Yacu Pérez são maiores, garantem os analistas.

"Yacu Pérez teria boas hipóteses de ganhar porque existe muita resistência a votar num candidato de Rafael Correa. Esse voto anti-Correa, maioria entre os eleitores, pode ir para Yacu Pérez. Além disso, aqueles que votaram em Lasso devem preferir Yacu Pérez por ser uma esquerda mais moderada", explica à Lusa o cientista político equatoriano Simón Pachano, da Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (FLACSO).

"Por outro lado, se Lasso passar à segunda volta, o voto anti-Correa se dividiria porque há muita resistência da esquerda em votar num ex-banqueiro", conclui Pachano.





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