Nova Iorque - O embaixador palestiniano junto às Nações Unidas, Riyad Mansour, saudou hoje a "mensagem poderosa" enviada pela Assembleia-Geral da ONU, onde 153 países exigiram um cessar-fogo humanitário imediato em Gaza, defendendo que se trata de um "dia histórico".
“É nosso dever colectivo continuar neste caminho até que possamos ver o fim desta agressão, desta guerra contra o nosso povo. (...) É nosso dever colectivo salvar vidas", disse Riyad Mansour aos jornalistas.
Frisou ainda que não irão descansar até ver Israel a cumprir esta exigência da Assembleia Geral.
A Assembleia-Geral das Nações Unidas aprovou hoje, com apoio esmagador de 153 países, uma resolução não vinculativa que exige um cessar-fogo humanitário imediato em Gaza, após o Conselho de Segurança ter falhado em aprovar a mesma exigência com um veto dos Estados Unidos.
O resultado excedeu mesmo o apoio à condenação da invasão russa da Ucrânia que, na melhor das votações na Assembleia-Geral, conseguiu 143 votos, um resultado que os Estados Unidos na ocasião consideraram uma prova do isolamento da Rússia.
Este projecto de resolução sobre Gaza, apresentado à Assembleia pelo Egipto, e co-patrocinado por cerca de 80 Estados-membros da ONU, obteve 153 votos a favor, 10 contra e 23 abstenções dos 193 Estados-membros da ONU.
Votaram contra este texto países como Israel, Estados Unidos ou Áustria e entre os países que se abstiveram estão Ucrânia, Itália, Reino Unido, Argentina, Alemanha ou Cabo Verde.
A resolução responde a uma exigência sem precedentes do secretário-geral da ONU, António Guterres, que teme um "colapso total da ordem pública" no território palestiniano devastado pela guerra.
O texto aprovado manifesta preocupação com a "situação humanitária catastrófica na Faixa de Gaza", e "exige um cessar-fogo humanitário imediato", apelando à protecção dos civis, ao acesso humanitário e à libertação "imediata e incondicional" de todos os reféns.
Após a votação, Mansour sublinhou a importância de salvar a vida de crianças palestinianas, que estão entre as maiores vítimas da ofensiva israelita em Gaza.
Ao contrário das resoluções do Conselho de Segurança, as resoluções da Assembleia-Geral não são juridicamente vinculativas.
Mas, como disse segunda-feira o porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric, as mensagens da assembleia "também são muito importantes" e reflectem a opinião da comunidade internacional.
A votação na Assembleia-Geral reflecte o crescente isolamento dos Estados Unidos e de Israel que se recusam a aderir às exigências de um cessar-fogo em Gaza.
"O tamanho desta maioria vai prejudicar muito os Estados Unidos", comentou o analista Richard Gowan, do International Crisis Group, em declarações à agência France Press (AFP).
Segundo Gowa,, isto mostra que a grande maioria dos Estados-membros da ONU perderam a paciência com a posição dos Estados Unidos.
Mais do que as Nações Unidas ou qualquer outra organização internacional, os Estados Unidos são vistos como os únicos capazes de persuadir Israel a aceitar um cessar-fogo como seu aliado mais próximo e maior fornecedor de armamento.
Face ao posicionamento norte-americano, são cada vez mais as vozes a acusar Washington de "cumplicidade" face aos crimes que estão a ser cometidos por Israel no enclave.
O Canadá que até agora se alinhava com as políticas dos Estados Unidos e de Israel, mudou o seu posicionamento e apoiou hoje, pela primeira vez, um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza.
Tal como o texto adoptado pela Assembleia-Geral no final de Outubro que obteve o apoio de 120 países e que apelava a uma "trégua humanitária imediata, duradoura e sustentada", a resolução hoje aprovada não condena especificamente o grupo palestiniano Hamas, uma ausência que tem sido sistematicamente criticada por países como Estados Unidos, Reino Unido ou Israel.
"Porque é que é tão difícil condenar o Hamas. Dizer, inequivocamente, que assassinar bebés e matar pais a tiros na frente dos filhos é horrível. Que queimar casas enquanto famílias se abrigam lá dentro e fazer civis como reféns é abominável", declarou o embaixador dos EUA junto à ONU, Linda Thomas-Greenfield, antes de votar contra um cessar-fogo imediato em Gaza.
A guerra entre Israel e o Hamas começou em 07 de Outubro quando o grupo islamita atacou, de surpresa e com uma força inédita, o território israelita, matando, segundo as autoridades de Telavive, 1.200 pessoas, na sua maioria civis, e fazendo mais de 200 reféns.
Em retaliação, Israel bombardeou Gaza e bloqueou a entrada de bens essenciais como água, medicamentos e combustível.
Embora os dois lados tenham feito uma trégua de alguns dias para troca de prisioneiros e reféns, bem como para permitir o acesso de ajuda humanitária, os últimos dados actualizados das autoridades de Gaza, território controlado pelo Hamas desde 2007, apontam para mais de 18 mil mortos e 50 mil feridos no enclave palestiniano. CNB/GAR