Dois modelos de sociedade em confronto decisivo nas eleições na Turquia

     Mundo           
  • Luanda     Sábado, 13 Maio De 2023    11h46  
Bandeira de Israel
Bandeira de Israel
Divulgação

Ancara - A campanha eleitoral para as eleições legislativas e presidenciais de domingo na Turquia revelaram-se uma escolha de modelo de sociedade entre um líder poderoso e um opositor que propõe o consenso e a negociação.

Os cerca de 61 milhões de eleitores turcos vão decidir qual a verdadeira escolha que pretendem, o prosseguimento de um homem forte, o actual Presidente Recep Tayyip Erdogan, com crescente risco de autoritarismo, ou um regresso ao reforço do poder do parlamento, com o provável regresso da instabilidade política, segundo a Lusa.

O regime ultra-presidencial instaurado nos últimos anos tornou estas eleições mais num caso de personalidade que de ideologia, apesar de uma vitória da oposição não significar uma verdadeira rutura na lógica estratégica e diplomática do país.

Recep Tayyip Erdogan, 69 anos e no poder desde 2003 - de início como primeiro-ministro após a arrasadora vitória do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP) nas legislativas e na presidência desde 2014 -, enfrenta no domingo a prova final da sua capacidade de sobrevivência política, com a maioria das sondagens a anunciarem a sua derrota nas eleições presidenciais.

O fundador do AKP, uma formação conservadora e islamistas, enfrenta o líder do Partido Republicano do Povo (CHP, social-democrata e nacionalista), Kemal Kiliçdaroglu, 74 anos, apoiado por uma coligação heterogénea de seis partidos e por uma formação de esquerda defensora dos direitos da minoria curda, terá talvez a sua última oportunidade de terminar nas urnas com o crescente autoritarismo de Erdogan.

Após uma abertura democrática na década de 2000, protagonizada por Erdogan e o partido que fundou, o país registou um regresso do autoritarismo e uma personalização do poder na década seguinte e que tornaram estas eleições centradas em torno de Presidente amado ou odiado, e que confirma a tradicional personalização da vida política turca.

Nos últimos dias de campanha, Erdogan radicalizou o discurso, quando as últimas sondagens do conceituado instituto Konda sugerem que Kiliçdaroglu poderá vencer na primeira volta.

A três dias do escrutínio, o candidato da Aliança da Nação, liderada pelo CHP e que agrega mais cinco partidos, de centristas, a nacionalistas de direita e uma formação islamista, estava creditado com 49,3 por cento dos votos, caso a opção dos indecisos (7%) fosse distribuída proporcionalmente pelos dois candidatos. O Presidente Erdogan apenas receberia 43,7 por cento dos votos.

Para as eleições legislativas, o cenário altera-se, com a Aliança Popular de Erdogan - liderada pelo AKP e que repete a coligação com o Partido de Ação Nacionalista (MHP, extrema-direita) de Devlet Bahçeli e duas outras pequenas formações ultranacionalistas - em vantagem, com cerca de 44 por cento, dos votos expressos contra 39,9 por cento para a Aliança da Nação.

Neste caso, será decisiva a votação na Aliança Trabalho e Liberdade, liderada pelo Partido da Esquerda Verde, defensor dos direitos da população curda e creditado com 10,5 por cento dos votos e que poderá retirar ao AKP e aliados a sua sólida maioria absoluta.

Nos seus últimos comícios e intervenções públicas, Erdogan comparou estas eleições com a tentativa golpista de que foi alvo em julho de 2016, com a oposição a pedir calma aos seus apoiantes para evitar provocações e que sejam comedidos nas celebrações, devido ao risco ações violentas de grupos paramilitares apoiantes de Erdogan.

Diversos observadores admitem que o Presidente turco poderá optar por não reconhecer o resultado, ou impugnar as eleições caso seja derrotado por uma curta margem.

A arquitetura institucional elaborada por Erdogan, em particular após o referendo de 2017 - que institui um regime presidencialista com a abolição do cargo de primeiro-ministro, reforço dos seus poderes executivos, controlo de parte significativa do aparelho judicial e exercício do poder sem partilha a-, esteve sempre presente nos discursos do líder da oposição.

Numa sociedade fragmentada, Kiliçdaroglu prometeu devolver ao país o sistema parlamentar interrompido em 2017 e uma restauração dos direitos e liberdades, muito deterioradas devido ao crescente autoritarismo do Presidente.

O combate ao elevado desemprego, à corrupção, o regresso a uma justiça independente onde os veredictos sejam baseados na lei e não em decisões políticas, e a liberdade dos 'media', num país com quase 50 jornalistas na prisão, foram outras prioridades enunciadas pelo candidato da Aliança da Nação.

Kiliçdaroglu também prometeu restaurar a confiança no meio empresarial e na população, relações externas baseadas nos interesses da política nacional, melhoria das relações com a União Europeia e manter as relações cordiais com a Rússia, aliado político e importante parceiro comercial.

A estratégia de campanha de Erdogan foi antes centrada em propagar a ideia de uma Turquia moderna, que inaugurou a sua primeira central nuclear em cooperação com a Rússia, e poderosa, com um desenvolvimento exponencial da indústria do armamento.

O Presidente turco também acusou o bloco opositor de serem "infiéis, de colaborarem com a guerrilha curda do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), ilegalizado e considerado "organização terrorista" por Ancara e países ocidentais, de pretenderem fragmentar o país e colocar a Turquia sob a alçada de "potências imperialistas".

Num dos seus cartazes eleitorais, enfatizava a ideia de que trabalha como um homem "e não está na cozinha como uma mulher", numa referência aos vídeos eleitorais de Kiliçdaroglu desde a cozinha da sua casa.

O opositor apressou-se a responder em tom irónico, ao anunciar que preferia viver num simples apartamento que num palácio com "mil assoalhas", referência ao colossal Bestepe que o Presidente mandou construir após ser eleito em 2014.

Erdogan, que tenta o seu terceiro mandato, ainda garante o apoio de uma parte considerável da sociedade turca, com um eleitorado muito fiel e que o idolatra.

A sua política agressiva, incluindo com intervenções militares no Iraque e Síria contra a guerrilha curda do PKK, após o colapso de negociações directas que promoveu em 2012, fortaleceram a sua imagem de líder disposto a defender a soberania do país de inimigos internos e externos.

Serão estas duas opções numa Turquia fraturada que se vão enfrentar nas eleições de domingo.DSC





Fotos em destaque

SODIAM arrecada USD 17 milhões em leilão de diamantes

SODIAM arrecada USD 17 milhões em leilão de diamantes

Sábado, 20 Abril De 2024   12h56

Fazenda colhe mil toneladas de semente de milho melhorada na Huíla

Fazenda colhe mil toneladas de semente de milho melhorada na Huíla

Sábado, 20 Abril De 2024   12h48

Huambo com 591 áreas livres da contaminação de minas

Huambo com 591 áreas livres da contaminação de minas

Sábado, 20 Abril De 2024   12h44

Cunene com 44 monumentos e sítios históricos por classificar

Cunene com 44 monumentos e sítios históricos por classificar

Sábado, 20 Abril De 2024   12h41

Comuna do Terreiro (Cuanza-Norte) conta com orçamento próprio

Comuna do Terreiro (Cuanza-Norte) conta com orçamento próprio

Sábado, 20 Abril De 2024   12h23

Exploração ilegal de madeira Mussivi considerada “muito crítica”

Exploração ilegal de madeira Mussivi considerada “muito crítica”

Sábado, 20 Abril De 2024   12h19

Hospital de Cabinda realiza mais de três mil cirurgias de média e alta complexidade

Hospital de Cabinda realiza mais de três mil cirurgias de média e alta complexidade

Sábado, 20 Abril De 2024   12h16

Camacupa celebra 55 anos focado no desenvolvimento socioeconómico

Camacupa celebra 55 anos focado no desenvolvimento socioeconómico

Sábado, 20 Abril De 2024   12h10

Projecto "MOSAP 3" forma extensionistas para escolas de campo em todo país

Projecto "MOSAP 3" forma extensionistas para escolas de campo em todo país

Sábado, 20 Abril De 2024   12h05

Comunidade do Lifune (Bengo) beneficia de biofiltros

Comunidade do Lifune (Bengo) beneficia de biofiltros

Sábado, 20 Abril De 2024   11h58


Notícias de Interesse

Angola e Zimbabwe discutem reforço da cooperação

Segunda, 13 Maio De 2024   17h12

Ministro recebe delegação cubana

Segunda, 13 Maio De 2024   16h03

SADC realiza cimeira extraordinária 

Segunda, 13 Maio De 2024   10h44

+