Havana - O Presidente de Cuba, Miguel Diaz-Canel, acusou esta quinta-feira os Estados Unidos de terem uma "atitude de interferência" e "manipuladora", após as críticas de Washington ao sistema judicial cubano pelos julgamentos resultantes dos protestos de 11 de Julho.
Miguel Diaz-Canel, que falava durante uma sessão do Comité Central do Partido Comunista de Cuba, referiu-se a uma manipulação que tenta "criar lacunas em questões tão sensíveis e prioritárias para a nação como a família e direitos humanos", noticiou a agência estatal cubana Prensa Latina.
"O nosso sistema judicial está focado na reeducação e reinserção na sociedade daqueles que cometem crimes, porque nele prevalece o humanismo e o respeito pelo ser humano", salientou.
Díaz-Canel referiu que os acusados estão a ser julgados de acordo com a lei e que os julgamentos foram realizados "com todas as garantias e sob total transparência".
O Presidente cubano questionou ainda porque é que os "julgamentos em Cuba são tão interessantes", mas não o desaparecimento de líderes sociais, as mortes de jornalistas, os abusos policiais, os centros clandestinos de tortura e as acções de paramilitares em outros países.
Miguel Diaz-Canel condenou também o uso de notícias falsas e mensagens de ódio nas redes sociais, denunciando "pressões" para que familiares e intelectuais se manifestassem publicamente contra os julgamentos de 11 de Julho.
Esta é a segunda vez, em menos de uma semana, que o Presidente cubano aborda estes controversos processos judiciais, após uma entrevista a uma rádio no fim-de-semana.
Naquela ocasião, Diaz-Canel realçou ser "mentira" que menores de 16 anos estivessem presos devido aos protestos de 11 de Julho e que pessoas fossem presas por criticar a revolução.
Segundo a Procuradoria-Geral da República cubana, um total de 790 pessoas foram acusadas pelos protestos de 11 de Julho, das quais 55 têm entre 16 e 17 anos. A idade mínima criminal em Cuba é 16 anos.
Além destes, segundo a mesma fonte, "o procedimento legal estabelecido" foi aplicado a 27 crianças menores de 16 anos. Dez foram internados em escolas de formação integral e comportamental e 17 receberam "atenção individualizada" na própria escola.
Por sua vez, a Organização Não-Governamental Defensores dos Prisioneiros garantiu, no seu último relatório, que no final de Março havia 891 pessoas em prisões cubanas pelos protestos de 11 de Julho e que registou medidas contra pelo menos 26 adolescentes entre os 14 e 17 anos.
Os EUA e a União Europeia, assim como ONG cubanas e internacionais, denunciaram irregularidades nos julgamentos e criticaram as altas penas de prisão, que às vezes chegam a 30 anos.
Em 11 de Julho, ocorreram em Cuba os maiores protestos antigovernamentais em décadas, manifestações cuja causa principal foi a grave crise económica que o país atravessa.