Nova Iorque - Mais de 530 pessoas foram mortas a tiro no Haiti desde Janeiro, muitas das quais por franco atiradores, e 280 foram raptadas por grupos criminosos, alertou hoje o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos.
"Só nas primeiras duas semanas de Março, os confrontos entre grupos rivais fizeram pelo menos 208 mortos, 164 feridos e 101 raptos. A maioria das vítimas foi morta ou ferida por franco atiradores que alegadamente disparam de forma indiscriminada contra pessoas que se encontram em casa ou na rua", disse hoje Marta Hurtado, do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, em Genebra.
Desde o início de Janeiro até meados de Março, um total de 531 pessoas foram mortas, 300 ficaram feridas e 277 foram raptadas em incidentes relacionados com o crime organizado, principalmente na capital, Port-au-Prince, de acordo com informações recolhidas pela Unidade de Direitos Humanos da Missão da ONU no Haiti (BINUH).
"Apelamos à comunidade internacional para se empenhar no envio de uma força de emergência especializada (...) com um plano de acção completo e preciso", disse Hurtado aos jornalistas.
De acordo com as Nações Unidas, os grupos organizados praticam a violação sexual como "arma para aterrorizar" e submeter a população e extorquir bens às famílias das vítimas.
"Estamos seriamente preocupados porque a violência continua fora do controlo no Haiti. Os confrontos entre bandos rivais estão a tornar-se cada vez mais violentos e frequentes à medida que tentam alargar o controlo territorial na capital e noutras zonas do país", acrescentou.
Hurtado disse ainda que estudantes e professores são por vezes atingidos por balas perdidas durante confrontos entre grupos rivais de crime organizado, enquanto um número crescente de estudantes, assim como os pais, estão a ser raptados perto das escolas.
Como consequência, muitos estabelecimentos de ensino estão a ser encerrados.
A ONU estima que desde o início do mês, o número de deslocados internos tenha aumentado para 160 mil por causa da violência e das condições de vida precárias, sem acesso a alimentos ou a água potável.
Paralelamente, a organização não-governamental Plan International disse hoje em Port-au-Prince que "quase metade da população" do Haiti (4,9 milhões de pessoas), enfrenta uma grave situação de insegurança alimentar.
De acordo com a Plan International, pelo menos "cem mil crianças com menos de cinco anos de idade" enfrentam graves situações de subnutrição, no Haiti.
A mesma organização, indicou através de um comunicado que 19.200 pessoas estão "em situação catastrófica", na fase 05 do índice de Preços do Consumidor (IPC, sigla do índice em inglês).
A fase 05 do IPC é a mais alta na escala referente à insegurança alimentar aguda, atribuída quando pelo menos 20 por cento das famílias e 30% das crianças estão perante subnutrição por falta de alimentos. DSC