Paris - Um ex-director-geral dos Serviços de Informação franceses focados no estrangeiro (DGSE, na sigla em francês), Bernard Bajolet, foi acusado de cumplicidade e tentativa de extorsão a um empresário, por factos datados de 2016.
Divulgada agora pela agência francesa AFP, a acusação foi feita em Outubro.
Bernard Bajolet, que dirigiu a DGSE entre Abril de 2013 e Maio de 2017 até se reformar, também foi acusado de atentado à liberdade individual por pessoa com autoridade pública, acrescentou a fonte conhecedora do assunto, confirmando informação avançada inicialmente pelo jornal Le Monde.
Em Março de 2016, Alain Duménil, empresário franco-suíço, de 73 anos, envolvido em vários processos judiciais e litígios comerciais relativos à gestão das suas empresas em França e na Suíça, preparava-se para embarcar num voo destinado a Genebra, no aeroporto parisiense Roissy-Charles de Gaulle, segundo a mesma fonte.
No balcão da Air France, é controlado por dois funcionários da Polícia de Fronteira que depois de lhe terem solicitado o passaporte, fizeram um controlo mais aprofundado e levaram-no para a esquadra.
Dois agentes da DGSE, à civil, entraram então nas instalações, ainda segundo a mesma fonte.
Apresentando-se como "o Estado", indicaram-lhe que teria de pagar 15 milhões de euros à França.
Para tal, teria de entrar em contacto com um advogado para determinar as modalidades de pagamento para anular a sua dívida.
Para reforçar a sua intenção, mostraram-lhe fotografias de si próprio e da sua família, feitas em Inglaterra e na Suíça. Segundo Alain Duménil, na ocasião fizeram-lhe várias ameaças.
O empresário irrita-se e manifesta a intenção de apresentar queixa e os agentes desaparecem.
Em Outubro de 2022, Bernard Bajolet foi ouvido e acusado.
Os nomes dos serviços e pessoas encarregadas do dossier, bem como dos agentes que fizeram o contacto, nunca serão divulgados, dado que estão protegidos por segredo.
O objectivo da justiça francesa é determinar o enquadramento legal da operação de controlo exercida pelos agentes envolvidos e as eventuais ameaças.
Desde o fim da Primeira Guerra Mundial, a DGSE gere um “património privado” que lhe foi confiado pelo Estado.
No final dos anos 1990, a DGSE tinha realizado investimentos infrutíferos em uma sociedade.
No início dos anos 2000, através de uma troca de acções, Alain Duménil tornou-se maioritário nesta sociedade e cede à DGSE partes da sua “holding” (sociedade de gestão de participações sociais).
Depois transferiu a totalidade das partes da “holding” destas pela DGSE para três outras empresas, que também eram suas. A “holding” foi colocada em liquidação judicial.
No processo judicial subsequente, o empresário foi acusado, em Novembro de 2016, de bancarrota. A DGSE estima que Alain Duménil lhe deve 15 milhões de euros, dos quais três milhões a título de juros.
Este ex-banqueiro administra empresas em áreas como luxo, imobiliário, aeronáutica ou comunicação social, tendo já sido condenado por cumplicidade, em 2012, pelo Tribunal de Recurso da Grenoble.
O Tribunal Europeu dos Direitos do Homem considerou que, neste caso, os seus direitos a um processo justo tinham sido violados.