Bruxelas - A União Europeia (UE) apelou hoje (sexta-feira) aos talibãs para um cessar-fogo "completo e permanente" no Afeganistão e alertou para o risco de isolamento e instabilidade no país se restabelecerem pela força um emirado islâmico.
"A UE apela aos talibãs para que retomem imediatamente conversações substantivas, regulares e estruturadas e apela também a um cessar imediato da violência em curso e a um cessar-fogo completo e permanente", afirmou o Alto Representante para a Política Externa, Josep Borrell, num comunicado.
A UE "condena as crescentes violações do direito internacional humanitário e dos direitos humanos, em particular nas áreas controladas pelos talibãs e nas cidades", disse.
Borrell avisou os talibãs de que "se o poder for tomado pela força e um emirado islâmico for restabelecido", enfrentarão "o não reconhecimento, o isolamento, a falta de apoio internacional e a perspetiva de conflito continuado e de instabilidade prolongada" no Afeganistão.
O Alto Representante da UE disse que a "actual ofensiva militar dos talibãs está em contradição directa com o seu compromisso declarado de uma solução negociada do conflito e do processo de paz de Doha".
O movimento extremista islâmico lançou a actual ofensiva em Maio, com o início da retirada final das tropas norte-americanas e estrangeiras, a qual deverá estar concluída até 31 de Agosto.
Em cerca de uma semana, os talibãs assumiram o controlo de quase metade das 34 capitais provinciais, incluindo Kandahar (sul), a segunda maior cidade do país.
O também vice-presidente da Comissão Europeia considerou que os ataques contínuos dos talibãs "estão a causar um sofrimento inaceitável aos cidadãos afegãos e estão a aumentar o número de deslocados internos e daqueles que deixam o Afeganistão em busca de segurança".
"Encorajamos a República Islâmica do Afeganistão a resolver divergências políticas, a aumentar a representação de todos os interessados e a envolver-se com os talibãs de uma perspetiva unida", afirmou.
Borrel disse ainda que a UE pretende continuar a apoiar o Afeganistão, mas condicionou esse apoio a uma "resolução pacífica e inclusiva e ao respeito pelos direitos fundamentais de todos os afegãos".
"É fundamental que os ganhos significativos obtidos pelas mulheres e raparigas ao longo das últimas duas décadas sejam preservados, inclusive no que diz respeito ao acesso à educação", acrescentou.
Na sequência da ofensiva dos talibãs, Canadá, Reino Unido e Estados Unidos decidiram enviar contingentes militares para garantir a evacuação das suas embaixadas em Cabul.
Em Camberra, o primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, disse hoje que o seu país está a trabalhar urgentemente com os EUA para retirar do Afeganistão os últimos afegãos que ajudaram as tropas e diplomatas australianos no país.
A Austrália encerrou a sua embaixada em Cabul em maio, e retirou as últimas das suas tropas em Junho.
Os talibãs lideraram o Afeganistão entre 1996 e 2001, impondo a sua versão rigorosa da lei islâmica.
Em 2001, foram atacados por uma coligação internacional liderada pelos EUA, que tentavam capturar Osama bin Laden depois dos atentados de 11 de Setembro.