Dundo – A cultura tchokwe é marcada por rituais vibrantes e uma produção de arte manual muito rica, particularmente as estatuetas e máscaras, onde se destaca a famosa mwana pwo, precursora da música e dança tchianda, que hoje, quinta-feira, foram declarados como património imaterial nacional.
Na cultura tchokwe a música e dança é considerada arte espiritual, com significado profundo, que une o corpo, o espírito, a mente, o passado e o presente.
Os tchokwes, que habitam maioritariamente nas províncias da Lunda-Norte, Lunda-Sul, Moxico e Cuando-Cubango e Bié, consideram a música e dança tradicional como veículos culturais criados para trazer equilíbrio, cura, felicidade e alegria à comunidade, ao mesmo tempo que os liga aos poderes sobrenaturais.
Na cultura tchokwe, a arte é também o espelho da vida comunitária e do além, pois permite o diálogo com os espíritos sobre sentimentos e reflexões, bem como joga papel crucial na protecção dos descendentes desta etnia, quando abordada de forma apropriada, através de máscaras e pintura.
O Ngoma, Ndjimba, Txissaji, Txikuvu (tambores/batuque), a Puita e Calialia são os principais instrumentos musicais utilizados pelos grupos tradicionais de dança e música.
Entre as danças e músicas folclóricas na cultura tchokwe, destaca-se a Tchianda, uma arte recreativa e comemorativa, usada para a recepção de grandes entidades governamentais ou tradicionais, em determinada aldeia, como forma de saudação, agradecimento e demonstração da felicidade da comunidade visitada.
A associação da máscara mwana pwo à tchianda remonta na ancestralidade e marca o ponto mais alto das festas comemorativas para celebrar a maturidade dos que passam da adolescência para fase adulta, depois de permanecerem cerca de um ano no retiro “Mukanda” longe dos seus pais (circuncisão).
Tradicionalmente, a mesma vem reforçar o simbolismo da ancestralidade feminina neste rito de passagem, assim como representa uma forma de expressão da espiritualidade e de ligação com o sobrenatural.
A exaltação das qualidades femininas é uma característica milenar da tchianda, por significar delicadeza na atitude, fertilidade, beleza e força da juventude.
Actualmente é amplamente difundida em Angola, incluindo fora das suas fronteiras, através de eventos como o Carnaval, actividades recreativas e culturais a diferentes níveis, um dos factores que incentivou o Ministério da Cultura a declarar a arte como Património Imaterial Nacional.
Como todas as músicas e danças populares ou tradicionais, a tchianda tem vindo a sofrer ao longo dos últimos trinta anos, o impacto das tendências urbanas, com a introdução de sonoridades que elevaram a qualidade estética desta “relíquia musical” do Leste do país, a um nível de excelência amplamente aceite no mercado discográfico angolano.
Santos Católica cria projecto de aprendizagem
O músico, compositor e dançarino, Santos Católica, anunciou para breve o lançamento de um projecto de ensino e aprendizagem da tchianda, em formato digital, ou seja, uma espécie de tele-escola.
O projecto denominado “Fórmula tchianda” está inserido no trabalho que o músico tem vindo a desenvolver para recriar novos movimentos, passos e expressões corporais da dança tchianda.
Santos Católica, disse que o lançamento do projecto está atrasado por falta de patrocínios, mas garantiu que restam apenas 40 por cento para a sua conclusão, desde o seu Estúdio de Gravação e sala de espectáculos em construção no município do Lucapa, na Lunda- Norte.
Para além da tchianda, foram também declarados como património imaterial, o género de música e dança Kizomba, bem como os instrumentos musicais marimba e quissanje, durante uma cerimónia decorrida, hoje, quinta-feira, no Palácio de Ferro, em Luanda. HD