Luena – Após o falecimento da rainha Nhakatolo Tchilombo, aos 86 anos de idade, vítima de doença, em Luanda, há quase um semana, ainda é uma incógnita quem vai herdar o trono do Reino dos Luvale.
Nhakatolo Lurdes Tchilombo, que dirigiu o reino dos Luvale durante 19 anos, assumindo com 67 anos de idade, sucedeu a sua avó, a Rainha Nhakatolo Tchissengo, que conduziu o reino durante 35 anos, após ter sido coroada a 27 de Fevereiro de 1957, aos 79 anos, substituído a sua mãe Nhacatolo Kutemba.
As fontes escritas e orais revelam que passaram pelo reino dos Luvale, que inicia na nascente do rio Luena até ao Nordeste do município do Alto Zambeze, cinco rainhas, nomeadamente Nhakatolo Kavangu, Nhakatolo Ngambo, Nhakatolo Kutemba, Nhakatolo Tchissengo e Nhakatolo Tchilombo.
Em declarações hoje, quinta-feira, à ANGOP, João Konde, neto e porta-voz da família, explicou que a substituição da rainha, conforme a tradição Luvale, só é realizada dias depois do funeral, quando um grupo de anciãos, denominados Ngambelas, Ndumas e Vilolos, reunir para apurar a “candidata de confiança” da falecida rainha.
Esse grupo de sábios, segundo a fonte, é composto de pessoas que protegeram a soberana durante a sua vivência, nomeadamente sobas, regedores e outras figuras importantes do reino e detentores de escritos históricos da rainha.
“Na nossa tradição, eles não podem contrariar o desejo da rainha, porque o que ela programa deve ser cumprido”, disse.
A fonte acrescentou que o reino poderá continuar a ser conduzido por uma mulher, por seguir uma linhagem de liderança matrilinear deste a sua constituição, sendo que a possibilidade recai mais para uma sobrinha, neta, filha e por último, uma irmã da antecessora.
Quanto ao tempo do óbito de uma rainha, disse que pode durar entre um a três meses no máximo, conforme a tradição.
Kalyungus – mensageiros espalham notícias nas comunidades
Após a confirmação da morte da rainha Nhakatolo, que na tradição Luvale significa “o rebentar do batuque”, um grupo de pessoas do reinado, ungidos de cinzas, com a parte do corpo descoberto, ocupam-se a propagar a informação nas comunidades a respeito do assunto.
Segundo João Konde, os Kalyangus circulam nas comunidades promovendo danças e cenas engraçadas, entretanto quem reagir com sorriso paga uma multa pesada.
“Esse evento é uma forma de as pessoas saberem que nesta comunidade o batuque rebentou, ou seja, há uma alta entidade que morreu”, concluiu.
De acordo com programa das exéquias a que a ANGOP teve acesso, a rainha Nhakatolo Tchilombo, será sepultada no próximo sábado na vila de Cazombo, município do Alto Zambeze, no cemitério de Chissamba, no mesmo local onde repousam os restos mortais da sua antecessora, a rainha Nhakatolo Tchissengo.
Conforme a nota, os restos mortais da soberana serão traslados na quinta-feira de Luanda para a vila de Cazombo, sede municipal do Alto Zambeze, cujo enterro acontece a 22 do corrente mês, coincidindo com o dia do falecimento da Rainha Nhakatolo Tchissengo.
A província do Moxico, com nove municípios, está localizada no extremo leste de Angola, com quase um milhão de habitantes. É uma província limítrofe que faz fronteira com a República Democrática do Congo e a República da Zâmbia.
A região é caracterizada por uma diversidade cultural e linguista, constituída pelos Tchokwe, Luvale, Umbundo, Mbundas, Luchazes e Lunda Dembo. TC/MS