Dundo – A arte etnomatemática “Sona”, símbolo da cultura tchokwe, foi elevada, terça-feira, à Património Cultural Imaterial da Humanidade, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).
O "Sona" é o segundo património Mundial da Humanidade inscrito por Angola, depois de em 2017 a UNESCO ter declarado o centro histórico da cidade de Mbanza Kongo, norte de Angola.
Mbanza Kongo foi a capital do estado mais poderoso da região austral de África, influenciando económica e politicamente muitos outros Estados vizinhos na altura.
A arte "Sona" tornar-se no segundo Património Cultural Imaterial da Humanidade relacionado com a Matemática, tendo em conta que o único até então pertencia à China.
O anúncio da elevação do Sona foi feito durante a 18ª sessão do Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, que decorre desde o passado dia 3 deste mês, no Cresta Mowana Resort, em Kasane, República do Botswana, onde Angola está representada por uma delegação coordenada pela secretária de Estado da Cultura, Maria de Jesus.
Na ocasião, a secretária de Estado da Cultura, Maria de Jesus, destacou a melhoria nos critérios de avaliação, uma vez que houve um aumento no número de patrimónios africanos inscritos, o que diminui a sub-representação dos países do continente.
Apelou a uma maior cooperação entre países e instituições, permitindo assim minimizar a distância existente, e fazer com que todos se sintam devidamente representados na lista do Património Cultural Imaterial.
A UNESCO, prosseguiu, deve procurar formas de assegurar assistência técnica e financeira contínua, de modo a reforçar a capacidade das instituições dos países que necessitem, sempre com o objectivo de se alcançar uma representatividade equilibrada e que realce as riquezas culturais dos países em desenvolvimento.
"O património cultural imaterial de cada um dos países africanos é de extrema importância para o Património Cultural Mundial, tendo um impacto significativo para as comunidades e para os povos em geral, merecendo por isso ser divulgadas”, frisou.
A décima oitava sessão do Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial da UNESCO, que decorre até domingo, em Kasane, República do Botswana, examinará as candidaturas para o registo de 55 novos elementos apresentadas por 72 Estados membros.
“Sona”
Sonas, que significa escrita na areia, era uma forma de comunicação dos ancestrais da região leste do país, predominada pelo povo Tchokwe, que escreviam mensagens por gravuras em paredes de casas, árvores e no chão (areia) nas aldeias, para serem decifradas pelos demais membros da comunidade.
Estas gravuras (Sona), de difícil entendimento, encontram-se, actualmente, no Museu Dundo, e num livro que aborda a cultura bantu e já foi retratada na longa-metragem “Os deuses da água”, numa co-produção entre a Argentina e Angola, em 2013.
Pesquisas feitas recentemente indicam a existência, na altura da gravação da longa-metragem, de apenas um ancião, funcionário do Museu do Dundo, que ainda praticava o Sona e que foi um dos actores locais do filme.
Actualmente, existem mais de 10 obras científicas, publicadas em várias partes do mundo, a retratar o Sona e nenhuma em Angola.HD