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Retrospectiva 2023: Sonas encantam o mundo

     Cultura              
  • Lunda Norte • Quarta, 27 Dezembro de 2023 | 15h39
Arte etno-matemática de contar história através de desenhos "Sona"
Arte etno-matemática de contar história através de desenhos "Sona"
Cedida

Dundo - A elevação da arte etnomatemática “Sona”, símbolo da cultura tchokwe, à Património Cultural Imaterial da Humanidade, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), foi um dos factos marcantes em 2023, no domínio cultural.

Os "Sonas" é o segundo património Mundial da Humanidade inscrito por Angola, depois de em 2017 a UNESCO ter declarado o centro histórico da cidade de Mbanza Kongo, província do Zaire, norte de Angola.

A arte "Sonas" tornou-se no segundo Património Cultural Imaterial da Humanidade relacionado com a Matemática, tendo em conta que o único até então pertencia à China.  

O anúncio da elevação dos "Sonas" foi feito durante a 18ª sessão do Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, em Kasane, Botswana, onde Angola esteve representada por uma delegação coordenada pela secretária de Estado da Cultura, Maria de Jesus.

"Sonas", que significa escrita na areia, era uma forma de comunicação dos ancestrais da região Leste do país, predominada pelo povo tchokwe, que escreviam mensagens por gravuras em paredes de casas, árvores e no chão (areia) nas aldeias, para serem decifradas pelos demais membros da comunidade.

As gravuras, de difícil entendimento, encontram-se, actualmente, no Museu do Dundo, e num livro que aborda a cultura bantu, e já foi retratada na longa-metragem “Os deuses da água”, numa co-produção entre a Argentina e Angola, em 2013.

Pesquisas feitas recentemente indicam a existência, na altura da gravação da longa-metragem, de apenas um ancião, funcionário do Museu do Dundo, que ainda praticava o "Sona" e foi um dos actores locais do filme.

Actualmente, existem mais de 10 obras científicas publicadas em várias partes do mundo a retratar o "Sona" e nenhuma em Angola.

O ano ficou igualmente marcado com a realização da primeira edição do festival das tradições, em que foram  feitos rituais como as súplicas e oferta à Nzambi Kalunga (deuses), txiphwya (peregrinação), Mukanda e cikumbi (iniciação masculina e feminina), entre outros.

Durante o evento, foram feitas demonstrações das cerimónias matrimoniais e de recepção, trajes regionais, sinais do código comunicativo "Sona", jogos tradicionais, a forma de hospitalidade e do poder tradicional.

As danças, sessões de contos e provérbios Cokwe e o espectáculo musical, sendo o ponto mais alto a actuação do músico Santos Católica, marcaram a primeira edição do festival.

Um outro momento marcante foi a assinatura do memorando de cooperação entre a Fundação Brilhante (face social do subsector dos diamantes) e o governo local para a construção do aldeamento turístico "Aldeia Sona".

O projecto, que começa a ser implantado em 2024, prevê  uma área residencial com 90 unidades de tipologias T1 e T2, quatro campos de ténis, duas quadras para a prática de basquetebol, dois campos de futebol 11, além de espaços verdes e vários serviços técnicos.

Contempla igualmente uma escola de arte e lazer cultural, igreja, casa protocolar, espaço para rituais, como mukanda (iniciação masculina), Cikwmbi (iniciação feminina), mungonge-cyiwila (grau máxima de mukanda), entre outros.

Electrificação rural abre oportunidades de negócio

O projecto de electrificação rural, lançado em Novembro deste ano, na vila de Cafunfo, município do Cuango, foi também facto marcante na província, pois abriu novas perspectivas de negócio no sector da energia.

O projecto, que prevê beneficiar mais de 309 mil e 891 pessoas em 15 localidades rurais da província da Lunda Norte, vai, segundo o ministro da Energia e Águas, João Borges, permitir que surjam negócios ligados à comercialização de recargas para contadores pré-pagos, manutenção da rede e equipamentos, entre outros.

A intenção do governo é deixar que o sector privado se ocupe da manutenção da rede, dos equipamentos e da comercialização das recargas, no âmbito da descentralização dos serviços, sobretudo nas comunas.

A electrificação das 15 localidades rurais será feita através da expansão da rede eléctrica nacional e da construção de igual número de parques fotovoltaicos com sistemas de armazenamento de energia em baterias, como sistemas isolados de produção e abastecimento de electricidade.

Os 15 sistemas fotovoltaicos vão produzir um total de 111,45 megawatts de energia eléctrica, mais 256,39 armazenados em baterias, uma reserva que vai permitir a produção de energia no período nocturno.

Para além da  Lunda Norte, o projecto, cujo investimento global ronda os 5.9 mil milhões de euros, serão também electrificadas 45 localidades rurais das províncias de Malanje, Bié, Moxico e Lunda Sul.

Adiamento da inauguração da barragem do Luachimo

O adiamento da inauguração da barragem hidroeléctrica do Luachimo, com capacidade para produzir 34 megawats, devido à inundação regular do circuito hidráulico, também constitui destaque.

Este facto obrigou o alargamento  da capacidade e evacuação do circuito hidráulico, para garantir melhor drenagem das águas fluviais.

Os trabalhos em curso visam igualmente evitar a acumulação de areia no circuito hidráulico (tomada de água, canal de adução, câmara de carga e canal de restituição), um problema que condiciona o início da produção, em pleno, de energia eléctrica.

Enquanto durar a empreitada, num período de 49 dias, a ponte que dá acesso à barragem estará encerrada para viaturas, permitindo apenas a circulação de pessoas.

Orçada em 212 milhões de dólares, a empreitada contemplou a reabilitação dos equipamentos mecânicos, execução de um novo circuito hidráulico dimensionado para 240 metros cúbicos de água por segundo, constituído por tomada de água, canal de adução, câmara de carga e canal de restituição.

Foi também construída uma nova subestação de 60 quilovolts e remodelada a estrada de acesso à barragem, incluindo a passagem para a central.

A nova infra-estrutura da central tem 35 metros de altura, equivalente a um prédio de 11 andares, instalada numa área de 50 metros de extensão e 30 outros de secção transversal.  

O edifício da antiga central foi reabilitado para servir instituições de ensino técnico, perspectivando-se ser o primeiro museu do sector de energia em Angola.

A empreitada inclui a recuperação da linha de transporte de alta tensão de 85 quilómetros até à vila mineira do Nzagi, município do Cambulo, com um valor adicional avaliado em 40 milhões de dólares.  

A última etapa do projecto prevê o alargamento da rede de distribuição até à sede do Lucapa, incluindo a localidade de Calonda.

A linha de transporte vai também passar pelas localidades de Fucauma e Cassanguidi, tendo em consideração a existência de actividades económicas, sobretudo no sector da extracção mineiras.HD





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