Benguela - A musicalidade, danças e estampas angolanas estarão em evidência durante o desfile da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, no Carnaval 2025 do Rio de Janeiro (Brasil), considerado o melhor do planeta, soube a ANGOP.
Na edição 2025 do entrudo, essa tradicional escola de samba carioca vai apresentar as dores e paixões da ancestralidade e o povo bantu, com o enredo "A Flor da Terra: o Rio da negritude entre dores e paixões".
Segundo o carnavalesco da Estação Primeira da Mangueira, Sidnei França, que falava à ANGOP, a escola vai apresentar estampa nativa angolana adaptada ao tecido da Mangueira e a musicalidade (ritmo). "Quando se tem o grafismo marcante, você tem aqui uma verdade muito marcante", enfatizou.
“Nós vimos aqui um instrumento (chocalho) que fica no pé das mulheres e que é muito interessante, porque lá (Brasil) ele fica na mão e vamos dançando. Esta maneira de apresentar que vimos aqui também vamos apresentar no desfile da Mangueira”, disse
Explicou que a escola, no carnaval de 2025, vai falar das tradições do povo Bantu e de quando esta tradição chegou no Rio de Janeiro, mas concretamente no cais do Valongo, onde os escravizados vindos de Benguela e Angola, no geral, impactaram o saber, a cultura e o costume do povo carioca.
"É desta maneira que a Estação Primeira de Mangueira se prepara para mostrar o seu carnaval", disse.
Fez saber que a dança, música, oralidade, palavras e sonoridade impactam no Brasil e principalmente nos cariocas (Rio de Janeiro), que absorveram este saber e cultura que fazem da africanidade da Angola a sua identidade máxima.
"Estou a falar da base linguística, onde palavras como cachimbo, caçula, dengo, entre outras, são muito utilizadas no dia-a-dia da oralidade do povo brasileiro e está a ser muito emocionante estar aqui, na origem das nossas "células" da cultura africana e angolana", afirmou.
Destacou que, durante as recepções da comitiva em Benguela fica patente a cultura local, principalmente ao ver os instrumentos como batuques, que no Rio de Janeiro chama-se tambores e são muito presentes frequentes em diversas manifestações culturais directamente ligadas ao samba.
"Tudo o que estamos absorvendo em Angola, através de pesquisas, estará representado nas estampas em fantasias e trajes, musicalidade da bateria (ritmo e percussão), para mostrar um Carnaval muito pujante, rigoroso e com a cara de Angola", afirmou.
Já a vice-presidente para Projectos Especiais da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, Rafaela Bastos, disse que a vinda a Angola representa um intercâmbio cultural, com o Grémio a ser um agente desta transmissão de saber da cultura de Angola para a brasileira.
Explicou que estavam a contar a história do povo Bantu focados no Rio de Janeiro e, quando foram convidados pela Sociedade Gestora de Aeroportos (SGA), abraçaram a ideia de se conectar a Angola, regressar às origens e olhar para os símbolos, texturas, musicalidade, danças e cores com paixão.
Rafaela Bastos disse que foco em Angola resulta da história e ancestralidade Bantu e vamos levar tudo que se expressa e manifesta desta conexão com o Brasil para a avenida.
"Diferente dos nossos antepassados, nós estamos podendo regressar e olhar a nossa história numa narração que começa no Brasil (Rio de Janeiro), no nosso porto situado num lugar chamado pequena África", referiu.
Fez saber que na avenida o grupo vai levar a questão da sociabilidade, criatividade, dança, o lúdico, forma de se comunicar e a espiritualidade, vivendo com afecto a vida que se constrói.
Integram também a delegação, dois directores musicais e outros investigadores.
Na ocasião, revelou que a pesquisa do enredo teve início no dia 28 de Abril, data da fundação da escola e que o enredo é baseado num livro intitulado A Flor da Terra.
Em Agosto fez-se a primeira versão das fantasias que vão ao desfile, a escolha da música para o samba enredo e até Janeiro deverão estar terminadas as 3.500 vestes para os integrantes do grupo.
Em Benguela, a comitiva visitou o Museu de Arqueologia e trabalhou também na comuna do Dombe-Grande, onde tiveram contacto com a cultura daquela região.
O grupo segue depois para o Lubango e posteriormente regressa a Luanda.
O povo Bantu representa a maioria dos negros que foram escravizados e trazidos ao Cais do Valongo, na Pequena África. A Mangueira vai retratar a vivência dessa população em toda a cidade, mostrando como sua história floresceu em solo brasileiro.
Sobre a Mangueira
O Grémio Recreativo Estação Primeira de Mangueira (ou simplesmente Estação Primeira de Mangueira) é uma tradicional escola de samba brasileira da cidade do Rio de Janeiro, conhecida e admirada em todo mundo.
A agremiação, que tem nas suas cores verde e rosa uma de suas marcas registadas, acumula 96 anos de glórias e de histórias, sendo uma das mais importantes instituições culturais do Brasil.
Os seus símbolos, o surdo, a coroa, os ramos e as estrelas, podem ser vistas na bandeira da escola. Foi fundada em 1928, no morro da Mangueira, pelos sambistas Carlos Cachaça, Cartola, Zé Espinguela, entre outros. Sua quadra está sediada no bairro com o mesmo nome e detém 20 títulos do Carnaval. CRB