Luanda – A realização da 3ª edição da Bienal de Luanda - Fórum pan-africano para a cultura de paz, que reuniu várias figuras emblemáticas da política africana, constituiu um dos eventos de destaque do panorama político-cultural do país, em 2023.
A Bienal", realizada de dois em dois anos, é um evento internacional que busca promover a prevenção da violência e a resolução de conflitos, incentivando o intercâmbio cultural em África e o diálogo entre as gerações.
Trata-se de uma iniciativa conjunta da UNESCO, União Africana e do Governo de Angola, que impulsiona a implementação do Plano de Acção para uma Cultura de Paz em África, aprovado em Março de 2013, em Luanda, Angola.
O evento é um espaço de reflexão e divulgação de ideias e boas práticas relacionadas à cultura de paz, que reúne representantes de governos, da sociedade civil, da comunidade artística e científica, bem como de organismos internacionais.
Este ano, a componente cultural da Bienal incluiu, entre outras actividades, uma exposição da artista plástica Fineza Teta e performances dos músicos Namanhonga, Gelson Castro, Afrikkanitha, Selda, Robertinho, Dom Caetano e Ângela Ferrão.
Noutro domínio, os últimos 12 meses ficaram igualmente marcados pela elevação, em Kasane, no Botswana, dos Sona “desenhos e figuras geométricas na areia”, arte milenar do povo Lunda Cokwe, a Património Cultural Imaterial da Humanidade.
O acto, promovido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), ocorreu dois anos depois de terem sido declarados Património Cultural Imaterial Nacional, nos termos do Decreto Executivo 99/21, de 20 de Abril.
Com efeito, o Executivo angolano, através do Ministério da Cultura e Turismo, em parceria com a Universidade Lueji A’Nkonde, remeteu a candidatura dos Sona à UNESCO, para o reconhecimento mundial, o que veio a confirmar-se.
Com esse passo, Angola voltou a inscrever o seu nome no conjunto da riqueza imaterial mundial, depois de ter conseguido elevar a cidade de Mbanza Kongo, capital da província do Zaire, à categoria de Património Mundial da Humanidade.
Os Sona são o primeiro Património Cultural Imaterial da Humanidade inscrito por Angola na UNESCO e o segundo sobre a Matemática. O primeiro pertence à China.
Ao longo do ano, também constituiu manchete o lançamento da primeira pedra para a construção da Casa do Artista e Palácio da Música e do Teatro, na antiga instalação da Assembleia Nacional, em Luanda, que passa por transformações de fundo.
O projecto, orçado em USD 85 milhões, poderá estar concluído em 2025.
Trata-se de um espaço com uma área de 24 mil m2, com cinco unidades principais, sendo uma das quais relacionada com a Casa do Artista, onde se prevê acomodar, aproximadamente, 80 artistas com idade já avançada e em final de carreira.
De igual modo, conta com área administrativa e suporte, sala de teatro, exposições, eventos, unidade para a formação artística e uma área técnica.
Conforme o projecto, a sala principal de teatro, considerada a peça central da Casa do Artista e Palácio da Música e do Teatro, terá capacidade para 600 pessoas.
Outro marco, no segmento cultural, foi o anúncio do já habitual Prémio Nacional de Cultura e Artes, que distinguiu este ano, na categoria da música, o Mestre Kituxe.
No domínio da literatura, o galardão foi para o poeta e prosador João Tala, enquanto Ana Suzana David “Kiana” levou o prémio na categoria de artes visuais e plásticas.
O grupo Palace Dance Company venceu na disciplina de dança, Carlos Conceição na de cinema e audiovisuais, enquanto os autores da colectânea “Várias Línguas uma Nação, Construamos o Futuro”, venceram na de ciências humanas e sociais.
No teatro, o prémio ficou com o grupo Amostra Nacional, da província do Uíge.
Quanto à música, fez eco o Top dos Mais Queridos, que teve como grande vencedor a cantora Supe Muteca, da província do Namibe, com a música “Mãe África”.
O segundo lugar coube ao músico Andrade Félix, da província do Moxico, enquanto o terceiro lugar ficou com a dupla Tiagão e Grande Nico, da província do Huambo.
A edição deste ano homenageou o músico Sam Mangwana.
Em relação ao Carnaval, a maior festa cultural do país, o desfile em Luanda contou este ano com a participação de 13 grupos na classe A, 15 na classe B e 16 na infantil.
O União Recreativo do Kilamba venceu na classe A, o Grupo União Operário Kabocomeu na classe B e o Grupo Viveiros do Njinga Mbande na classe infantil.
No domínio do teatro, o destaque recaiu para a 8ª edição do Circuito Internacional de Teatro, marcada pela entrega da carteira profissional ao homenageado deste ano, o actor e encenador Adelino Caracol.
Com duração de quatros meses, o festival distinguiu actores e agentes do movimento artístico e cultural, que receberam diplomas de mérito do Governo de Luanda.
Ainda em relação às artes cénicas, fez destaque a eleição do novo presidente da comissão directiva da Associação Angolana de Teatro (AAT), Tony Frampênio, que prometeu fazer um trabalho de proximidade junto dos seus associados.
O seu plano de acção contempla, entre outras tarefas, a realização de um Encontro Nacional de Teatro, para estruturar uma visão inclusiva e propor ao Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente a criação da Companhia Nacional de Teatro.
A nova direcção pretende ainda fortalecer as parcerias com os governos provinciais, para a elaboração de um roteiro turístico-artístico cultural pelo país, no âmbito do Dia Nacional da Cultura e do Dia Mundial do Teatro.
Entretanto, outro aspecto que marcou o ano cultural foi o ressurgimento de “Sebem” no mercado discográfico, depois de 10 anos de ausência, por questões de saúde.
Apesar de não estar 100 por cento recuperado da enfermidade, o artista apresentou, recentemente, em Luanda, o novo álbum intitulado “Onde estás?”, que está a ser considerado pelos “kuduristas” como um exemplo de resiliência e de motivação.
Ao longo do ano prestes a terminar, o músico angolano Carlos Lamartine celebrou 65 anos de carreira, com um show intimista, que juntou amigos e colegas.
Também homenageado foi o músico Dom Caetano, no encerramento da temporada do “Muzonguê da Tradição”, pelo seu contributo na divulgação e preservação da música.
De igual modo, a Banda Maravilha assinalou, este ano, 30 anos de carreira.
O ano ficou marcado por poucas realizações do projecto. A primeira edição ocorreu em Maio, com Os Kiezos, Calabeto, Robertinho, Augusto Chakaya, Eddy Tussa, Fiel Didi, Lolito da Paixão e Suzanito. Em Julho, actuaram os Jovens do Prenda.
A 29 de Outubro, actuaram no “Muzonguê da Tradição”, criado em Fevereiro de 2007, as Gingas do Maculusso, Lulas da Paixão, Tony do Fumo Filho e Banda Movimento.
O “Muzonguê da Tradição” é um programa que visa a promoção, divulgação e valorização da música angolana. Na fase inicial, o evento teve a parceria da Rádio Nacional de Angola, com o projecto Caldo do Poeira.
Mas nem tudo foi “um mar de rosas no panorama cultura, que viu partir, entre outros artistas, os músicos Lisboa Santos e Ilunga Mabanza da Costa, ou simplesmente “Rei da Costa, este último o líder do grupo Sassa Tchokwe “Kwata Kwata”.
De igual modo, morreu o rei do Tchingolo, António Moreira, aos 81 anos.
António Moreira, nascido na comuna da Catata, a 20 de Agosto de 1942, liderou a Ombala do Tchingolo desde 3 de Abril 1983, onde ficou por 40 anos.
No domínio do Turismo, o destaque recaiu para o Fórum BITUR Angola 2023-Bolsa Internacional do Turismo, que decorreu em torno do tema "Turismo como factor determinante para a diversificação da Economia de Angola”.
O evento, que reuniu líderes e profissionais de vários sectores para discutir os principais desafios da indústria do Turismo, visou mostrar o país e as suas actividades, bem como divulgar aspectos culturais, históricos, gastronómicos e naturais do turismo nacional.
ELJ/ART