Lubango - A Região Turística Sul está a trabalhar para classificar as cores e símbolos do tecido típico Samakaka como um património imaterial nacional, ainda este ano, por ser uma marca da identidade cultural da população angolana, concretamente na parte setentrional.
A Região Turística Sul compreende as províncias da Huíla, Namibe, Cunene, Cuando Cubango e Benguela.
Sobre o assunto, em declarações hoje, segunda-feira, à ANGOP, o director do Gabinete provincial da Cultura, Turismo, Juventude e Desportos da Huíla, Osvaldo Lunda, afirmou estar próximo de declara-se a Samakaka como património imaterial, um processo iniciado há um ano.
Declarou ser um processo a decorrer de forma normal, nas cinco províncias abrangidas, uma vez que alguns municípios destas utilizam a Samakaka como pano de referência para muitas actividades culturais.
A Samakaka não é produzida em Angola, disse a fonte, mas os seus símbolos, cores e formas de utilização são referenciados e utilizados nas cinco províncias, daí não estar-se a classificar o pano em si, mas o seu valor cultural e imaterial para as zonas em causa.
“Já temos um draft pronto apresentado ao Instituto Nacional do Património Cultural há um mês que está a analisar e fazer melhorias no material. Era previsto conseguir ter esse processo fechado para apresentar a declaração no dia 27 de Setembro do ano em curso por questões administrativas, mas estamos num tempo muito avançado para a sua declaração”, disse.
Acrescentou que precisam ainda fazer mais algumas investigações sobre o seu uso e importância nos mais variados actos culturais que existem na região e que utiliza o pano e outros adornos para essas festas. É um processo que é possível ser concluído ainda este ano e vamos fazer um esforço para conseguir.
Narrou que segundo informações existentes, Angola não produz a Samakaka, mas a foi produzida de acordo com as cores e simbologia da região, por isso a classificação é imaterial, mas a sua produção é feita em outro sítio, mas sendo a sua origem é da região podem classificar.
Avançou que a 1ª produção de Samakaka veio de comerciantes holandeses (boers) que estavam na região, na época colonial, que vendo os símbolos da Samakaka representada nas peles de animais que se usava como vestuários do povo nativo, levaram a ideia e trouxeram o pano com as características do que era utilizado.
Osvaldo Lunda fez saber que no país existem empresas de tecidos e elas podem recomeçar a fazer tal produção.
Destacou representar uma expressão de identidade obrigatória e status do povo Nyaneka, que surgiu como sendo uma forma de distinção entre os diferentes grupos da referida etnia, reflectindo a riqueza cultural, as tradições desta comunidade do Sul de Angola, por intermédio dos símbolos cravados em objectos decorativos e de ornamentação.
Ressaltou que esta seria o primeiro património classificado imaterial na Huíla, dos mais de 20 materiais existentes, estando em curso um trabalho para declarar o Onjdelwa-Festa do Boi Sagrado, como um património imaterial, pois há uma procura grande da actividade cultural dentro do turismo e a Região Turística Sul aposta em tal desiderato.
Por dentro
A Samakaka vem do termo Omakaka, que significa a verdura ou folhas de plantas rastejantes e trepadeiras, derivada de sementes como o caso da planta da abóbora, das variedades de feijoeiro e da matila, que depois de fervidas, são postos no processo de dissecação.
Esse processo é feito num formato de rodelas ou círculos sobre um balaio, pedras ou mesmo no Ocipale (espaço apropriado para estender os cereais depois da colheita como o milho, massango, massambala, o ombi-lombí seco) e outras leguminosas típicas.
É um tecido de eleição escolhido pelos Ovanhanekas, como sendo o pano com todas as qualidades e caro na aquisição e é utilizado em rituais como o Onjelwa (festa do boi sagrado), o Efiko (desta da puberdade feminina), no Alambamento, Epito Pondjo (saída pela primeira vez de um bebé um mês após o nascimento e o Ekwendje (circuncisão).
As cores têm os seguintes significados, a vermelha representa o sacrifício ou sangue vertido pelos antepassados, o preto o luto pelas vidas perdidas e as famílias desfeitas durante os conflitos, o amarelo, a riqueza, a luta contínua pela abundância, prosperidade e a reconstrução económica, e o branco, a paz e a esperança, uma busca diária pela felicidade.
Quanto aos símbolos cravados no pano, a cruz significa as instituições de poder ancestral, o círculo, o Ocoto (um espaço propício que serve até aos dias de hoje como uma sala de transmissão de conhecimentos geracionais), o triângulo traduz o Ewmbo, (as cubatas que são moradias construídas de pau a pique nas aldeias). EM/MS