Luanda - Os poemas de Agostinho Neto encerram uma temática de experiências e de vivências com estética dimensionada na ideologia nacionalista ou panafricanista, afirmou, esta quinta-feira, a crítica literária Inocência da Mata.
A conferência, que teve como tema “Ficções da memória na poesia de Agostinho Neto”, encerrou um ciclo de quatro organizadas pela Academia Angolana de Letras, no âmbito da série Conversas da Academia à Quinta-feira, na presença de académicos de Angola, Arábia Saudita, Brasil e Portugal.
Na sua dissertação, a conferencista começou por referir o facto de a literatura e a música terem exercido importante papel no ideal libertador angolano, destacando o activismo de intelectuais da Geração da Mensagem e poetas da era seguinte, que difundiam aquilo que Ndunduma designou por uma “ideologia da angolanidade”.
Para a crítica literária, Agostinho Neto integrou a plêiade de poetas políticos angolanos, em conjunto com António Jacinto, Viriato da Cruz, Mário António e Aires de Almeida Santos.
Destacou uma série de poemas, vários dos quais, segundo disse “com elevada dose de inteligência verbal”, mas fez também referência ao “messianismo de Neto, que possui uma ontologia profética marxista”.
A professora de literaturas africanas explicou que, se, por um lado, “a poesia de Agostinho Neto foi uma arma portentosa de luta anti-colonial”, por outro representa a “transformação da memória individual em memória colectiva, a partir do conhecimento da realidade”.
“Estamos a lidar com poemas que encerram uma tematização de experiências e de vivências, uma poesia com estética dimensionada na ideologia nacionalista ou na ideologia panafricanista”, enfatizou.
“Este projecto libertário nacional incluía uma reparação histórica para os dominados, os colonizados”, bem como uma releitura do passado com uma “lógica propulsora de mudança”, concluiu.
A Academia Angolana de Letras realizou, por ocasião do Centenário do primeiro Presidente de Angola, António Agostinho Neto, um ciclo de quatro conferências da série Conversas da Academia à Quinta-feira, que tiveram início no dia 01 (um) de Setembro.
Foram conferencistas, além de Inocência da Mata, António Quino, que falou sobre a “Pátria angolana no olhar de Agostinho Neto”; Virgílio Coelho, dissertou sobre o “Pensamento político nos discursos de Agostinho Neto”; Paulo de Carvalho e o “Discurso libertador na poesia de A. Neto”.
A próxima Conversa da Academia à Quinta-feira, agendada para 6 de Outubro, terá como orador o antropólogo António Tomás, da Universidade do Cabo, que falará sobre “A cidade de Luanda e a questão urbana”.