Luanda - António Agostinho Neto denunciou, na sua poesia, a segregação do africano na sua própria terra, afirmou o Presidente da Academia Angolana de Letras, Paulo de Carvalho, durante a terceira conferência do ciclo, realizada quinta-feira, por ocasião do Centenário do primeiro Presidente de Angola.
Na conferência, inserida nas “Conversas da Academia à Quinta-feira”, Paulo de Carvalho referiu que a colonização conduziu à pilhagem do continente, cujos povos não podiam decidir sobre o seu próprio destino.
O sociólogo Paulo de Carvalho que dissertava, via Zoom, sobre o “Discurso libertador na poesia de Agostinho Neto”, na presença de académicos de Angola, Arábia Saudita, Brasil, Itália e Portugal, sob moderação do professor Mário César Lugarinho, da Universidade de São Paulo, Brasil, destacou a dimensão de António Agostinho Neto, tendo em atenção o contexto e a época, que lhe permitiram adquirir uma consciência de luta, desde a adolescência.
Por isso, o poeta “reclamava a libertação do povo sofrido de Angola, o mesmo povo onde ele ia buscar a força e a coragem para a luta”, frisou Paulo de Carvalho.
“Há, por exemplo, poemas em que Neto deixa claro que a luta de libertação precisava de um timoneiro, tendo ele próprio sido, depois, escolhido para a liderança da luta, culminando com a proclamação da independência”, apontou.
Segundo o conferencista, o pai-fundador da Pátria angolana tem vincado o desejo de liberdade na sua poesia e nela está, também, presente a questão filosófica que dá conta da justeza dos princípios da gesta libertadora. Entretanto, “não só sobre a luta o poeta cantava; também cantava o amor”.
Lembrou a repressão colonial, retratada em vários poemas de Agostinho Neto.
“A colonização reprimiu de forma radical as populações, obrigando-as a assimilar a cultura do colonizador, o que causou sentimento de revolta entre os colonizados. Foi nesse período que Neto cresceu, um período bastante marcado pelo sentimento de angolanidade e pelo desejo do despertar para um amanhã que se pretendia de liberdade e harmonia entre os homens”, realçou o sociólogo.
António Agostinho Neto nasceu a 17 de Setembro de 1922, em Kaxicane (Icolo e Bengo), e faleceu a 10 de Setembro de 1979.
Como primeiro Presidente de Angola, proclamou a independência do país do então jugo colonial português, a 11 de Novembro de 1975.
Tem obras traduzidas em várias línguas, com destaque para “Quatro Poemas de Agostinho Neto”, de 1957, “Sagrada Esperança”, 1974, e “A Renúncia Impossível”, de 1982.
Na próxima Conversa da Academia à Quinta-feira, agendada para o dia 22 de Setembro, sob moderação do crítico literário Mário César Lugarinho, será conferencista a escritora Inocência Mata, que falará sobre “Ficções da memória na poesia de Agostinho Neto”.