Huambo – Agentes culturais da província do Huambo consideram o músico Justino Handanga, falecido, esta segunda-feira, em Luanda, como um verdadeiro promotor e divulgador dos hábitos e costumes, que soube internacionalizar a identidade do povo ovimbundu.
O músico, de 55 anos de idade, faleceu no Complexo Hospitalar Cardio-Pulmonar Cardeal Dom Alexandre do Nascimento, para onde havia sido transferido na última semana.
Em declarações à ANGOP, o director da Cultura, Turismo, Juventude e Desportos, Jeremias Piedade Chissanga, disse tratar-se de uma perda irreparável para a cultura nacional, sobretudo, do Huambo, pois Justino Handanga foi um músico que sempre velou pela valorização da identidade cultural do povo ovimbundu.
Considerou o malogrado músico como um agente cultural completo que sempre trabalhou para a valorização, conservação e divulgação da cultura local, por ter contribuído, grandemente, na internacionalização da língua nacional umbundu, onde se destaca a sua actuação, em 2010, nas comemorações do Dia da Independência Nacional a nível das embaixadas angolanas, decorrido em Itália.
“Perdemos não só um músico, mas, também, uma pessoa de trato fácil e de inúmeras qualidades humanas, cuja dimensão obriga as autoridades a retribuírem o seu legado, talvez com a construção de um monumento ou com a criação do Prémio cultural Justino Handanga”, enfatizou.
Sem adiantar o pormenor das exéquias, Jeremias Piedade Chissanga, disse estarem a trabalhar para a transladação do corpo que, em princípio, deverá ser enterrado no município do Bailundo, terra natal do músico.
“Quanta tristeza (…) acabo de receber a notícia do falecimento do nosso irmão e amigo Justino Handanga. É uma perda, absolutamente, irreparável pois, enquanto nação cultural ficamos mais pobres e seremos menos nos próprios, por isso, vou continuar a ouvi-lo como forma de homenagem e perpetuar a sua grata memória”, lamentou o antigo governador do Huambo, João Baptista Kussumua.
A cantora Edna Mateia, que partilhou várias vezes o palco com o malogrado músico, disse ter perdido a sua principal referência artística.
“Apesar de sabermos que Justino Handanga estava doente, pensamos que deveria vencer, mais uma vez, esta crise de diabetes, mas, infelizmente, desistiu de lutar”, lamentou.
O músico João Baptista Joly descreveu Justino Handanga como um homem íntegro, que nunca se negou em actuar com a nova geração, apesar ter sido um artista de renome internacional.
Lembrou que o malogrado músico, descoberto por si em 1991, no município do Bailundo, contribuiu, também, para o crescimento de muitos artistas da nova geração.
Castelo Ekuikui, embaixador do Reino do Bailundo, disse ser uma perda sem substituição, pois Justino Handanga assumiu-se, naturalmente, como porta-voz dos hábitos e costumes do povo umbundu.
Para si, o malogrado músico, a quem considerou de "mano e amigo", foi um dos melhores filhos do Reino do Bailundo, que fazia a vontade dos ancestrais, quer seja pelas visitas à Ombala e ou à Administração local, quer pela referência dos hábitos e costumes nas suas canções.
O promotor de eventos, José Catumbela, disse que a morte de Justino Handanga representa “um duro golpe”, pois tinha um espectáculo marcado para 28 de Abril próximo, que servia para homenageá-lo.
“Perdemos um ícone e um artista intemporal, que ainda tinha muito para dar aos angolanos que muito o amavam”, lamentou.
Por dentro
Justino Handanga, um nome que dispensa apresentações no panorama musical nacional, com um vasto repertório e vários sucessos, nasceu a 1 de Janeiro de 1969, na aldeia de Ndoluka, comuna da Luvemba, município do Bailundo, província do Huambo.
Possui dois discos no mercado musical, sendo o primeiro “Ondjonguele Ya Telisiwã (Alvo Atingido) ”, lançado em 2004 e o segundo “ Homenagem ao empresário Valentim Amões”, lançado em 2011.
Participou, em 2005, da 15ª edição do Top dos Mais Queridos da Rádio Nacional de Angola, ficando em 3° lugar, com a conhecida música “Paulina” e, em 2006, ficou em 5° lugar, partilhando o mesmo palco com o saudoso músico Bangão.
Justino Handanga, músico do estilo popular, iniciou a carreira musical na década de 80, após ter perdido os seus progenitores, aos cinco anos, com a participação no concurso denominado “Pio-Pio”, realizado aos domingos, pela Organização de Pioneiros Agostinho Neto (OPA), no município do Bailundo, onde imitava músicos nacionais e internacionais.
Aos 17 anos, Justino Handanga, um dos pesos-pesados do cancioneiro nacional, ingressou nas ex-Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA) e fez parte de um grupo musical da corporação, denominado “Pela Paz”.
O autor dos sucessos como “Ndumbalundo”, “Olonamba”, “Tenho saudades”, “Paulina”, “Carlito” e “Abílio”, ingressou nas fileiras da Polícia Nacional de Angola no dia 10 de Outubro de 1992, após cumprir o serviço militar nas Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA). ALH