Talatona – Um livro de memórias, das guerras civil e de libertação nacional, intitulado "Grandes Batalhas e Operações Militares Decisivas em Angola”, do General Higino Carneiro, foi lançado, na noite de sexta-feira, em Luanda.
O trabalho escrito em 544 páginas e dividido em 11 capítulos, traz uma sequência de acontecimentos que servem para o enriquecimento do mosaico político angolano, com um prefácio escrito pelo General João Luís Neto (Xietu).
No seguimento da sua explanação sobre as grandes batalhas, o autor destaca algumas regiões e locais mais marcantes como o Kangamba, caracterizando o confronto ocorrido em 1983 no Leste do país como duro, sangrento e com inúmeras baixas entre as Forças Armadas Popular de Libertação de Angola (FAPLA) e de membros da organização da defesa popular.
Uma disputa memorável, segundo o escritor, devido as implicações militares no contexto do teatro da guerra interna.
O General Higino Carneiro narra as grandes operações desenvolvidas pelas forças de defesa da Àfrica de Sul e também pelas FAPLA, sublinhando a firmeza, a entrega e a resistência registada nas tropas, a qual fazia parte, como factores que permitiram travar os intentos do inimigo.
Foi nestas circunstancia, segundo o autor, que teve lugar a batalha das batalhas na região do Cuíto Cuanavale, tendo considerada a mesma de “épica”, devido a sua complexidade, entrando nos anais da história de Angola.
Conforme o autor, esta batalha criou condições políticas para a marcha das negociações, rumo aos acordos de Nova Iorque, dinamizando o processo de mudança na África do Sul.
Na obra entende-se que a victória conquistada permitiu, também, abrir caminhos para a independência da Namíbia, colocando fim na crise da África Austral, apesar de continuar a guerra interna em Angola.
Em declarações à imprensa à margem da cerimónia, o General Higino Carneiro disse que os confrontos tiveram como objectivo derrubar o MPLA, tendo citado os acontecimentos registados pouco depois da independência, a crise política de 27 de Maio e os confrontos de 1992, após o resultado das primeiras eleições realizadas em Angola.
Disse ser necessário escrever os meandros das grandes batalhas para que se possa mostrar o quão difícil foi a conquista da paz .” Foi um sacrifício consentido pelo povo angolano, que deu lugar a paz, e esperamos que ela perdure e sirva de um elemento catalisador para o desenvolvimento, progresso e fortaleça a democracia do país”, referiu.
Informou que na batalha do Cuíto Cuanavale foram empregues meios modernos, com a integração de forças convencionais, marcando a viragem da história em todo o continente africano.
"Nesta disputa contou-se com o contributo dos militares soviéticos e cubanos, na área de assessoria prestada no início de 1975, e que permitiu fortalecer as Forças Armadas de Libertação de Angola", asseverou.
Em relação a história sobre o político Nito Alves, o ex-militar das FAPLA disse ser necessário acabar com os mitos que vão se desenrolando em torno da história, dando a conhecer os verdadeiros factos.
“Ouve-se falar muita coisa, era necessário trazer a realidade, neste momento por mim que estive envolvido na captura dele”, disse.
Higino Carneiro disse que a história deve continuar a ser contada, frisando que a obra é um extrato de muito que ficou por se dizer, prometendo continuar a escrever para o contributo da história militar e dos elementos de estudo.
Opinião de Alguns políticos
Os políticos defendem a divulgação dos acontecimentos que resultou no alcance da paz.
Para o General Dino Matrosse, os protagonistas devem narrar os factos e acontecimentos da história, por existirem muitos contos que deturpam a verdadeira sequência da história da luta de libertação.
Por seu turno, a Presidente da Assembleia Nacional, Carolina Serqueira, frisou que, apesar do sacrifício, operações militares e das batalhas decisivas, o país se ergueu dos escombros.
" Passou a fase da guerra e hoje luta-se para que Angola seja uma terra de paz, harmonia, democracia, convivência e que as jovens gerações possam se orgulhar do sacrifício que os mais velhos consentiram para a liberdade e defesa da soberana", reforçou.
Já o General João Luís Neto “Xietu” disse carregar o espírito de dever cumprido, afirmando que o momento é de passar o testemunho para as novas gerações, transmitindo o quão foi difícil a trajectora para a conquista da paz.
“A juventude necessita saber das facetas vividas para que a paz hoje fosse uma realidade, não foi fácil, testemunhamos grandes batalhas e provocou a morte de muitos bravos patriotas", disse.
Para o governador de Luanda, Manuel Homem, os desafios para a construção do país continuam mesmo neste período de paz, com os cidadãos imbuídos do dever de materializar os objectivos preconizados pelos mais velhos.
Biografia
Francisco Higino Lopes Carneiro nasceu a 8 de Julho de 1955, em Calulo-Libolo, província do Cuanza Sul, autor do livro "Memórias, Soldado da Pátria”.
Descrito como "o senhor negociador da paz", tendo ao longo do seu percurso integrado as delegações governamentais nas negociações com a UNITA, em acordos como o de Alto Cauango, no Moxico, em 1991, que deu origem a vários outros para o alcance da paz definitiva no país.
Participou em quase todos os processos ou iniciativas para a paz em Angola, ocupou vários cargos no aparelho do Estado e das Forças Armadas com destaque para o de vice-presidente da Assembleia Nacional, ministro das Obras Públicas, vice-ministro Sem Pasta para o Processo de Paz, vice-ministro da Administração do Território, governador das províncias de Luanda, Cuanza Sul e Cuando Cubango. MAG