Luena – Um projecto sobre a antropologia e a dimensão das autoridades tradicionais angolanas está a ser compilado em livro e em retrato fotográfico para ser exposto, ainda este ano, nos Estados Unidos da América (EUA), Europa e Brasil.
A implementação do projecto da autoria do fotógrafo português Manuel Correia iniciou-se em 2015, na província do Bengo, e termina no Moxico, em finais de 2022, depois de já ter passado por outras 17 províncias do país.
Adiado em 2020 e 2021 por causa da Covid-19, o lançamento do projecto será feito em exposições fotográficas nos museus e ruas de Nova York (EUA), Lisboa (Portugal), Londres (Inglaterra), Berlim (Alemanha), Paris (França) e São Paulo (Brasil).
Autoridades tradicionais durante um colóquio
Em entrevista à imprensa, hoje, no Luena, Manuel Correia, mentor do projecto, afirmou que está a retratar, em fotografia, na província do Moxico tal como o fez nas outras 17 províncias do país, a dimensão da autoridade tradicional, costumes e ajudar na sua reorganização.
Autor de projectos iguais em países africanos como Mauritânia, Nigéria, Eswatini, Benin e Namíbia, Manuel Correia afirmou que o trabalho abrange a captação de imagens sobre a organização das embalas dos sobas e aconselhamentos sobre a preservação dos costumes e traços antropológicos dessas figuras.
Sobre a apreciação que faz do estado da organização das autoridades tradicionais no país, disse que, com a excepção da província de Malange, onde o grau de organização é maior, o resto do país está com uma tendência de se descaracterizar ou “fugir” da essência dessa figura e modernização das embalas.
“As regedorias diferen muito de província a província, porque há uma tendência de se abandonar a tradição”, lamentou o profissional de imagem, autor de sete livros que abordam trabalhos do género no Perú, Brasil, EUA e China.
Traços culturais “incitam” turistas mundiais
Com 30 anos de carreira, o fotógrafo Manuel Correia disse que o trabalho que desenvolve tem ajudado as autoridades tradicionais a voltarem aos seus hábitos e costumes, bem como à sua forma de organização, uma vez que os turistas europeus e americanos sentem-se atraídos pela tradição dos povos africanos e em particular dos angolanos.
“Angola é o país do futuro do turismo e, para tal, incentivar as autoridades tradicionais a regressar para os seus hábitos e costumes, é fundamental. Quem quer fazer turismo em África, não quer ver praias. Quer ver cultura, embalas, regedorias”, disse o escritor que já expôs a cultura angolana em São Paulo, Brasil, em 2016 e 2017.
Manuel Correia falou igualmente da manifestação das pessoas sobre a cultura angolana durante a exposição que efectuou em 2016 e 2017, no Museu Afro-Brasil, em São Paulo: “há um feedback extraordinário. Há uma enormíssima vontade das pessoas do mundo conhecerem a cultura angolana”.
Embora já tenha desenvolvido projectos idênticos um pouco pelo mundo, Manuel Correia disse que a experiência de Angola é "única", por ser a primeira região do globo terrestre aonde elaborou um trabalho de um país inteiro e contar com “todo tipo de apoio” das autoridades angolanas, sobretudo o Ministério da Administração do Território (MAT).
Manuel Correia, fotógrafo de profissão, que está a realizar uma série de colóquios com as autoridades tradicionais do Moxico, é autor de sete livros e co-autor de outros 20 manuais.
Da sua autoria, destaca-se “Distant Song – China”, “Mimacha K´holoritt – Perú”, “Gavie – Benin”, “Sangue e Água – Portugal”, “Kilimanjaro and Porters – Tanzania”, “Recepção e Exposição – Brasil" e "Modos de Vida – Portugal”.