Luanda - O cineasta angolano Zezé Gamboa foi, no sábado, homenageado na 11ª edição do Festival Internacional de Cinema de Dakhla, pelos seus feitos no mundo cinematográfico dentro e fora do país.
A homenagem a Zezé Gamboa aconteceu durante a abertura do festival com a exibição de seus dois filmes "O Herói" e "O Grande Kilapy", ambos produzidos pelo português, Fernando Vendrell.
Por este facto, em uma nota enviada hoje, segunda-feira, à ANGOP, o ministro da Cultura e Turismo, Filipe Zau, felicitou o cineasta, tendo manifestado a sua satisfação pelo relevante papel que vem desempenhando em prol da sétima arte no país.
Filipe Zau disse esperar que o nível de desempenho do percurso de Zezé Gamboa continue a ser uma fonte inspiradora para o crescimento do cinema e do audiovisual em Angola.
Zézé Gamboa é um dos cineastas angolanos da segunda geração que ostenta uma carreira reconhecida a nível internacional, a começar em África, quer no género documentário, quer em ficção, cujas obras têm sido merecedoras de prémios e boa recepção do público e da crítica.
Da sua geração, o cineasta marca o cinema crítico angolano, e surge como pioneiro de uma cinematografia que analisa a vida social, política e económica do país, no qual preocupa-se com narrativas históricas, além da crítica social.
"O Herói" foi gravado numa altura em que o cinema angolano renascia, com o surgimento de três longas-metragens, designadamente "Comboio da Canhoca", de Orlando Fortunato, e "Na Cidade Vazia", de Maria João Ganga.
A produção de "O Herói" juntou Angola, França e Portugal, uma película com actores angolanos, senegalês e brasileiros, que mereceu um prémio em Sundance, nos Estados Unidos, em 2004.
"O Grande Kilapi", uma produção luso-angolana-brasileira, comédia dramática, tem como protagonista Lázaro Ramos, Pedro Hossi, João Lagarto, Patrícia Bull e São José Correia.
A história desenrola-se entre os finais da década de 1960 e 1975, através do testemunho fictício sobre a luta de libertação de Angola e a descolonização através da personagem do Joãozinho, um anti-herói apolítico.
Sob o lema "Dakhla é a porta de entrada para África ”, o festival termina quinta-feira e é organizado pela Associação de Animação Cultural e Artística das Províncias do Sul.
Participam 16 países africanos, nomeadamente Camarões, Maurícias, Angola, Burkina Faso, Gana, Uganda, República Centro-Africana, Rwanda, Comores, Benin, Congo, Senegal, Somália, Tunísia, Egipto, Mauritânia e Marrocos, país anfitrião.
Percurso do realizador
Zézé Gamboa é nome artístico de José Augusto Octávio Gamboa dos Passos, natural de Luanda. Entre 1974 e 1980 foi realizador do Telejornal e de Programas de Informação da então Televisão Popular de Angola (TPA).
Obteve, em 1984, o diploma de engenheiro de Som na Néciphone, sob a direcção de Antoine Bonfanti, em Paris, tendo participado como engenheiro de Som em mais de trinta produções cinematográficas internacionais.
Em 1989, inicia-se como realizador de documentários: "Mopiopio, Sopro de Angola" (1991) e "Dissidência" (1998) obtiveram reconhecimento internacional.
Seguiram-se documentários e curtas-metragens, "Burned by Blue",(2001), "O Desassossego de Pessoa", (2002), "Bom Dia, África", (2009), entre outros.
Em 1992, durante o processo de paz em Angola, começou a desenvolver a primeira longa-metragem, "O Herói", mas a guerra civil recomeçou. Depois de enfrentar obstáculos e dificuldades, o filme foi rodado em 2002.
O Herói ganhou o Prémio do Grande Júri do "World Dramatic Competition of the Sundance International Film Festival", em 2005, e tornou-se um sucesso internacional, alcançando muitos prémios e sendo seleccionado para os mais prestigiados festivais e competições internacionais.
Em 2007, foi apresentado no Festival de Cannes, como celebração do cinema africano.
"O Grande Kilapy" foi, em 2012, a segunda longa-metragem que estreou comercialmente em Portugal, em Angola e no Brasil, além de ter passado em muitos festivais e recebeu inúmeros prémios importantes.
Sócio-fundador da Gambôa & Gambôa Produções, além de realizador foi produtor de diversos filmes, "Mozambique da Guerra e da Paz", de Sol de Carvalho, co-produtor de "Le Sapeur", de David Pierre Fila, 2017, "Sur la Route de la Rumba", de David Pierre Fila, 2014, e "Bobô", de Inês Oliveira, 2013. SJ/ART