Cuito - Os fazedores de artes na província do Bié, centro de Angola, clamam por mais apoios do Governo e da classe empresarial, como forma de dignificar a cultura local, resgatar valores e estimular o bem-estar socioeconómico dos agentes culturais.
Os artistas exprimiram o apelo, esta quarta-feira, no quadro do Dia Nacional da Cultura (8 de Janeiro), que se comemora sob lema “ Angola 50 anos: preservar e valorizar as conquistas alcançadas, construindo um futuro melhor.
Joaquim Miguel Vitangui, artisticamente conhecido por Kim Vitangui, presidente da associação dos artistas plásticos no Bié, considerou ainda tímido os apoios do Governo e augura por dias melhores, em função das actividades dos festejos dos 50 anos da independência nacional.
A associação dos artistas plásticos no Bié controla 15 membros, que, segundo ele, carecem de apoios, essencialmente para aquisição da matéria-prima, essencialmente a tinta, geralmente adquirida em Portugal, por inexistência no país.
Para tal, desafiou o governo no sentido, deste ano, construir uma sala de exposição, criação do prémio de cultura e artes, acções que, no seu entender, vão dignificar a classe e não só.
O representante da comunidade Rastafari no Bié, Augusto Sangueno, sublinhou que esta comunidade local carece de quase de tudo, para o exercício condigno de actividades.
“O rastafari, além de ser um amante da arte, é trabalhador, é agricultor, empreendedor e quer construir em diversas áreas da sociedade, mas precisa de ajuda de instituições do governo e empresarial para poderem contribuir para o desenvolvimento da província”, realçou.
Sem adiantar os custos, lamentou a falta da matéria-prima para confeccionar os artigos nesta parcela do país, como pele de animais, linhas e outros, para o fabrico de pulseiras, chinelas, cordões e outros, adquiridos somente nas província de Luanda e Cuando e a elevado custo, daí a necessidade dos apoios das autoridades locais.
A comunidade Rastafari é um movimento religioso, político, racial e cultural que surgiu na Jamaica na segunda metade do século XX.
Por outro lado, João Mateus, secretário da Associação das Autoridades Tradicionais no Cuito, enalteceu os esforços do governo local, na reabilitação e apetrechamento de alguns locais históricos, que permitiu à sua elevação a património cultural nacional.
No município do Cuito, destaque para a Embala Ekovongo, o memorial da batalha do Cuito, quartel dos dragões, a missão evangélica do Camundongo e o edifício dos Correios.
Aproveitou para aconselhar a sociedade no geral a contribuir na preservação dos locais históricos, visando o resgate de valores morais, fortalecimento da cultura e para que as novas gerações vindouras sejam orientadas com base aos bons costumes.
No acto provincial da efeméride, Analdeth Sabina Guilherme Manuel, directora do Gabinete da Cultura e Turismo, enalteceu o papel dos fazedores das artes e da cultura, no processo de consciencialização das massas durante a luta anti-colonial, que culminou com a independência de Angola, a 11 de Novembro de 1975.
Para tal, defendeu o respeito das tradição para uma convivência saudável nas comunidades, que, por intermédio dela, permite o resgate dos bons costumes, manter relações humanas, baseadas no respeito dos mais velhos.
O sector da cultura na província do Bié controla mais de mil fazedores de artes.
Convidado a intervir, Abel Guerra Paulo, administrador municipal do Cuito, considerou fundamental a valorização da cultura para o desenvolvimento e bem-estar da sociedade, apelando ao respeito e a sua preservação, pelo facto de representar o saber e tradições de um povo.
Disse ainda que as autoridades locais estão empenhadas na promoção da valorização da cultura, por meio da promoção do património cultural, inventariação do património material e imaterial, restauração e conservação de monumentos históricos, criação de políticas de protecção do património cultural, sensibilização da comunidade sobre a importância do património cultural e a promoção de artistas e outros.
A efeméride foi adoptada tendo como referência o primeiro discurso sobre a Cultura Nacional, proferido em 1979 pelo primeiro Presidente de Angola, António Agostinho Neto, durante a tomada de posse do corpo gerente da União dos Escritores Angolanos (UEA), onde, entre outros aspectos, terá referido que “a cultura evolui com as condições materiais e, em cada etapa, corresponde a uma forma de expressão e de concretização de actos culturais. A cultura resulta da situação material e do estado do desenvolvimento social”. BAN/PLB