Lubango – Os artistas Carlos Fernandes e Ângelo Bié, que compõem o “Duo C.F & A.B”, estão a usar a música, baseada em versões instrumentalizadas, para promover o turismo do país, mediante a gravação de vídeos em locais com potencial turístico, divulgados nas plataformas digitais.
O Duo foi criado em Novembro de 2022, faz o chamado vídeo-covers instrumentais de diversos estilos músicas, com o propósito de entreter e educar, para que os nacionais e estrangeiros possam conhecer a música popular nacional e estudá-la, por isso o trabalho atém-se em partituras, tablaturas e backtrackings. O foco está, igualmente, no entretenimento, pois participam de galas e espectáculos.
Os trabalhos são disponibilizados no canal do Duo no YouTube (https://youtu.be/kaTmw4q3Zkg?si=dDTLMulbZ7IZIOEB). O destaque vai para colocar a disposição de interessados temas nacionais, com destaque para Waldemar Bastos, Rui Mingas, Carlos Burity e outros, mas também há temas internacionais.
Em declarações hoje, sexta-feira, à ANGOP, no Lubango, Carlos Fernandes, um dos integrantes, fez saber que os vídeos-covers da dupla mostram as potencialidades turísticas de diversos locais do país, desde monumentos, a arquitectura, paisagens, hotéis, restaurantes, lugares históricos, peças de arte, gastronomia, a fim de atrair turistas, com vista a permitir que o público reviva memórias e tenha o desejo de explorar cada vez mais o país.
Do acervo, conforme o artista, há registos de conteúdos já publicados com filmagens feitas na Tundavala, Praça Gabriel Caloff (Governo Provincial da Huíla), Senhora do Monte, Cristo Rei, Praia Amélia e Deserto do Namibe, Praia da Restinga, no Lobito, em bairros periféricos e em mercados informais.
Para além da componente do Turismo Cultural, o Duo C.F&A.B possui um suporte didáctico e editorial, que visa fornecer aos músicos e pesquisadores a possibilidade de apoio, com a edição de músicas em partituras, com vista ao registo destas.
Declarou que com esse registo têm salvaguardado os temas e poderá servir também às próximas gerações, de modo que tenham um ponto de partida para fundamentar academicamente o estudo da história da música popular angolana.
O outro integrante, Ângelo, salientou que por não existir um acervo nacional de música, que é sua intenção, em que os angolanos pudessem ter contacto com as produções musicais mais relevantes, sobretudo, “os ditos clássicos da nossa cultura, há uma lacuna grande no mercado cultural no que diz respeito ao consumo académico da nossa música”.
“Não obstante, tal facto tem dificultado a fundamentação da nossa música popular. Vários expoentes da nossa música estão a partir desse mundo sem no entanto deixarem registos detalhados de suas músicas e se deixam, ninguém tem acesso ou sabe-se como encontrá-las”, continuou.
A título de exemplo apontou o músico Carlos Burity, um expoente da cultura nacional que morreu e não se tem acesso às partituras ou tablaturas de suas músicas, excepto o fonograma em si, o que impossibilita o acesso académico de estrangeiros e nacionais ao estudo da música, sem que seja pelo habitual processo puramente auditivo.
Nessa vertente, o Duo trabalha com temas nacionais e internacionais, por meio destes, vão homenageando diversos ícones da praça musical nacional, mas o objectivo do dueto é académico, o de fornecer ferramentas para o estudo da música angolana e publicitá-la num estilo diferente a nível nacional e internacional.
O grupo, conforme a fonte, pretende criar uma plataforma que sirva como acervo nacional de música, cujo primeiro passo será o lançamento de um songbook de clássicos nacionais, já em 2024, uma iniciativa que conta com alguns parceiros na elaboração dos vídeos e instrumentais.
Até ao momento, o Duo conta com um investimento de mais de sete milhões de kwanzas, direccionados à aquisição de equipamentos, construção do site e loja online, produção de backtracks, partituras e a elaboração do songbook.
Para montar um tema, áudio e vídeo, respectivamente, o grupo leva em média 15 a 20 dias, que compreende a pré-produção, produção e pós-produção, pelo que até ao momento já coleccionam perto de quinhentos temas desenvolvidos, dos quais 12 em vídeo e destes oitos já estão lançados no Youtube.
“Sendo uma dinâmica nova, as pessoas aqui ainda não estão habituadas a ouvir, que de certa maneira tem que ver com a relevância que a música cantada tem no país. Parar e sentar para ouvir música instrumental, de certa maneira, ainda é uma novidade em Angola, entretanto, estamos a receber um feedback positivo das pessoas”, expressou.
Entre as principais dificuldades, o Duo apontou o fraco número de assinantes de internet no país, o que dificulta o acesso de maior parte dos angolanos aos recursos que têm à disposição, sem mencionar que essa situação coloca o país numa posição de “não eleito” pelas principais plataformas digitais. EM/MS