Luanda - A falta de reconhecimento de teatro e a carência de subsídios nesta actividade tem propiciado pouco profissionalismo no sector, afirmou esta terça-feira, em Luanda, o dramaturgo angolano, José Mena Abrantes.
José Mena Abrantes falava sobre o momento actual do teatro em Angola na rubrica da Academia Angolana de Letra (AAL), denominada “Conversas da Academia à Quinta-Feira”.
O dramaturgo fez referência a falta de apoio e subsídio Estatal, o que tem deixado os grupos no plano de amador e semi-profissional.
Sublinhou que para além do Estado, as outras entidades que se preocupam com o teatro também podem apoiar os fazedores das obras cénicas, de modo a evitarem a dependência total do público, bem como para sobreviverem.
Segundo o dramaturgo, um outro problema que tem dificultado os fazedores das obras cénicas tem a ver com a falta de salas de teatro.
Lembrou ainda que no passado, os grupos recebiam mais apoio por parte das empresas estatais, bancos e companhias de seguros.
Afirmou igualmente que a situação actual é bem diferente da antiga, porque hoje os grupos são obrigados a "salvarem-se como podem".
Recordou que o teatro em Angola começou no século 19, na década de 1845 e 1865, onde houve uma série de grupos de teatro geridos e participados por funcionários públicos portugueses.
Nessa época, o país era conhecido como colónia de Angola.
Acrescentou, que normalmente, estes grupos apresentavam-se como sociedades dramáticas ou recreativas.
Segundo o dramaturgo, há referência a de pelo menos seis ou sete sociedades dramáticas que tinham como hábito apresentar sempre, no mesmo dia, duas obras de carácter dramático e violento
"Nessa década, o teatro era feito em Luanda e ajudava a matar as saudades da pátria distante. Esta era uma actividade recreativa e útil a que todo mundo se devia dedicar ", disse.
Referiu que nessa altura havia uma separação, os homens ficavam na plateia e as mulheres ficava numa galeria, onde os papéis eram interpretados apenas por pessoas do sexo masculino.
Em 1930 foi inaugurado o Cine Teatro Nacional pela companhia portuguesa “Norte Tência Luz”.
Deste período até 1960 existiram 17 companhias portuguesas que apresentaram mais de 160 espectáculos.
O também escritor enfatizou ainda que um ano antes da Independência Nacional, Angola viveu um ambiente impróprio para propiciar o teatro por causa dos ataques dos taxistas às pessoas no Musseque, tiroteio pelos bairros periféricos e confusão generalizada.
No fim de 1980, continuou, realizou-se na província de Benguela o Festival Nacional de Cultura (FENACULT), que deu uma nova dimensão do teatro a nível territorial
Nesse festival, das 18 províncias que existiam na altura, 14 participaram onde cada uma delas devia fazer um concurso interno e escolher o grupo que ia representar a região no FENACULT.
O também jornalista falou que nos tempos modernos tem havido alguns festivais provínciais e municipais como Festival de Teatro do Cazenga (FESTECA) e Circuito Internacional de Teatro que têm mantido o teatro regular a nível de todo país.
Defendeu a necessidade de se continuar a ter uma visão mais abrangente do que foram os interesses em cada época dos grupos.
De acordo com Mena Abrantes, os temas levados à cena hoje revelam mais preocupação didáctica e social.
"Hoje às abordagens estão viradas a vida doméstica, aos conflitos conjugais ou problema de experiências de rua e assim por diante. Os temas são importantes, mas é que eles são tratados de uma forma demasiado directa e superficial", asseverou.
José Manuel Feio Mena Abrantes nasceu em Malanje aos 11 de Janeiro de 1945, licenciou-se em Filologia Germânica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Participou em 1975 na criação da Agência de Notícia de Angola (ANGOP), cujo quadro directivo pertenceu durante nove anos.
Antes de ser nomeado assessor de imprensa do antigo Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, foi responsável pelo sector de informação e divulgação da Cinemateca Nacional de Angola.
Dirige desde a sua criação em 1988 o grupo Elinga-Teatro, que tem participado com regularidade em festivais de teatro em África, Europa e América.
Publicou até hoje doze obras de teatro, duas de ficção em prosa, duas de poesia e dois estudos sobre teatro e o cinema angolanos.
Ganhou por três Vezes (1986, 1990 e 1994) o Prémio Sonangol de Literatura, máximo galardão da literatura angolana. AMC/SEC