Ondjiva - A elevação do tecido de Odelela como património cultural nacional foi defendida, nesta quarta-feira, na cidade de Ondjiva (Cunene), durante uma mesa redonda sobre a sua importância, valor e bases para classificação.
O Odelela é o tecido de eleição que marca os traços identitários dos povos de origem Ovawambo, residentes na província angolana do Cunene, e na República da Namíbia, usado em diferentes cerimônias e rituais festivos, a excepção de óbitos.
Na ocasião, o representante do reino de Ombala yo Mungu, Emanuel Ndatipo, fez saber que o pano foi introduzido no século 19, pelos Europeus como recompensa do sistema de contrato dos africanos para além do salário.
Esclareceu que os africanos quando regressavam do trabalho de contrato nas minas da África do Sul, Namíbia, Zâmbia e Zimbabwe e nas fazendas de Benguela e Namibe, eram agraciados com estes tecidos em troca das vestes de pele de animais.
Nesta senda, afirmou que há necessidade de elevar e promover os valores culturais do povo Ovawambo, mediante investigações científicas, para ser proclamado como património cultural.
Já a professora de Oshiwambo, Melicia Hikofangali, disse que o tecido tem grande valor cultural que dignifica a mulher, sendo usado em festas de renome como casamento tradicional, cerimónias da puberdade, festas dos gémeos, corte de cabelo das crianças, apresentação, entre outros.
Esclareceu que a saia de ondelala é usada pelas senhoras, enquanto que os homens usam camisas ou calção designada por Ombwaka, utilizada em cerimónias específicas.
Fez saber que actualmente o pano é adquirido para além do Cunene, na Namíbia e África do Sul.
Já o linguista José kondja afirmou que a ondelela é uma forma simbólica de representar no mundo os traços identitários da população Ovawambo, constituindo num símbolo patrimonial, cultural e tradicional dos hábitos e costumes.
José Kondja fez uma panorâmica dos tipo, origem e enquadramento no contexto angolano, afirmando que os Finlandeses influenciaram bastante no uso destes trajes.
Por seu turno, o director do gabinete da Cultura, Turismo, Juventude e Desporto do Cunene, Nelson Ndelimukuata, disse que o certame marca a abertura de um processo de investigação sobre os mais variados aspectos, a serem apresentados ao Instituto Nacional do Património Cultural.
Referiu que a intenção é divulgar, promover e valorizar este património imaterial de grande simbolismo para as comunidades locais.
No seu discurso, ressaltou que o Cunene dispõe de uma cultura rica e diversificada com destaque para manifestações culturais, com foco nas línguas faladas e escritas, mitos, hábitos alimentares, dança, música, arquitectura, invenções populares e tradições.
Apontou como dificuldades do desenvolvimento cultural na região a falta de espaços públicos como sala de espectáculos, cinema, editoras e de investimentos privados no sector da cultura.
Sob o lema “Angola 50 anos preservar as conquistas alcançadas e construindo um futuro melhor”, a jornada engloba visitas a monumentos e sítios históricos, homenagem aos agentes culturais e visita alguns reinos.
A data foi instituída em 1986 para homenagear o discurso proferido pelo primeiro Presidente angolano, António Agostinho Neto, em 1979, durante a tomada de posse dos corpos gerentes da União dos Escritores Angolanos (UEA).
A efeméride acontece no quadro das celebrações dos 50 anos da Independência de Angola, a serem assinalados no dia 11 de Novembro próximo.
A Independência de Angola, outrora província ultramarina de Portugal, foi proclamada pelo Presidente Agostinho Neto, em 1975. FI/LHE/OHA