Luanda - Distintos homens de cultura, com predominância para escritores, historiadores e académicos, debruçaram-se, esta sexta-feira, em Luanda, sobre as várias etapas e momentos que marcam os 449 anos da cidade capital de Angola, a assinalar-se no dia 25 deste mês.
Entre outros actores, intervieram no único painel escritores e académicos como Hélder Simbad, António Quino e Domingas Monte, durante um colóquio denominado "Escrever a Cidade", com argumentos baseados em livros que narram a história cronológica de Luanda.
O evento foi promovido pela Administração Municipal da Maianga, em parceria com a União dos Escritores Angolanos (UEA), palco do debate, e teve como objectivo fomentar uma reflexão sobre o papel da literatura na preservação e interpretação das memórias urbanas de Luanda.
Na ocasião, o administrador municipal da Maianga, Pedro Orlando Afonso Pacas, disse que o município optou por fazer um pouco diferente do que tem sido ao longo dos anos, trazendo para as festividades da cidade, ações culturais, mais concretamente a literatura para discutir sobre os que escreveram sobre a capital.
"Como vê, há muita adesão e interesse por parte dos luandesses e dos municípes da Maianga em se ligarem mais à literatura. Quero que a literatura seja cada vez mais divulgada nas comunidades e que os jovens possam criar gosto pela leitura e literatura do ponto de vista da escrita", destacou.
Pedro Pacas disse desejar ter a sociedade a falar e fazer críticas sobre literatura, e que essas actividades casam também com as celebrações dos 50 anos da independência, lançadas em Novembro de 2024, pelo que mais iniciativas serão promovidas para saudar a efeméride.
Acrescentou que essas actividades vão continuar ao longo do seu consolado, com bases sustentáveis para que depois o projecto possa continuar. "Vai-se criar algo devidamente estruturado e orçamentado para que nos próximos tempos a literatura, cultura e outras acções possam melhorar do ponto de vista da escrita", frisou.
Já escritora Domingas Monte, uma das dissertadoras, enalteceu o colóquio por entender que leva a conhecer melhor a cidade de Luanda e olhar nela através da literatura, a exemplo do poema Kinaxixi, de António Agostinhos Neto, escrito e publicado no ano de 1950.
Enfatizou que o texto retrata uma Luanda daquele tempo e a actual.
Segundo a interlocutora, através das memórias, é possível fazer-se uma comparação das diferentes etapas de Luanda, um patrimônio cultural e de memórias. "É uma cidade que já se foi em termos físicos, mas em termos representativo e simbólico através da literatura ainda se pode conhecer se lermos esses textos, daí a importância da leitura", notou.
Hélder Simbad, membro da UEA e professor, referiu que a cidade de Luanda é de enorme complexidade, cruzando-se com diferentes narrativas que partem da ancestralidade e da colonização, dos primeiros anos da independência e da contemporaneidade da própria capital do país.
De acordo com o mesmo, Luanda está sempre em transformações, sendo que a cidade se transforma e os homens também acompanham essa realidade. E à medida que a cidade muda, sublinhou, os homens também vão mudando e de igual modo as práticas da vida.
“Luanda é hoje completamente diferente. Nós vimos o nascimento de centralidades que não existiam no passado, demolições de estruturas antigas que tinham uma certa fama, construção de edifícios imponentes, estradas a serem desfeitas e construídas, demonstrando a diferença gritante entre o passado e o presente", comparou.
O escritor António Quino afirmou que Luanda é cultural desde os seus monumentos, do patrimônio material ao imaterial, aos bairros compostos por casas de latas e de pau a pik. Do asfalto ao kilamba e bairro paraíso dentre outros, mas tendo como um dos aspectos que mais traduz a sua culturalidade a literatura.
Afirmou ainda que quando se quiser viver e visitar a história de Luanda, desde a altura da sua fundação, provavelmente a literatura será o campo mais exacto, por ser nas bibliotecas onde se encontram registos escritos que traduzem a parte cultural de Luanda, como fontes secas.
"Já a literatura é fonte criativa e permite reviver os momentos que passamos naquela época", rematou.
ECC/MDS