Luanda – Angola regressa aos festejos da maior manifestação cultural, de 1 a 3 de Março deste ano, desta vez para igualmente enaltecer os feitos de todos aqueles que lutaram pela Independência Nacional e soberania internacional, que caminha para o seu jubileu.
Por Serafim Canhanga, Jornalista da ANGOP
Os angolanos vão vibrar na edição 2025 do Carnaval sob o signo dos 50 anos da Independência Nacional, proclamada na madrugada de 11 de Novembro de 1975, tendo como pano de fundo as cores vermelha, preta e amarela, da bandeira da República, e a branca, que simboliza a paz e a reconciliação nacional.
"Preservar e valorizar as conquistas alcançadas, construindo um futuro melhor” constitui a tónica deste Entrudo, um tributo merecido aos nacionalistas angolanos, cujo acto central acontece na nova Marginal de Luanda, no dia 3 de Março, recordando o célebre Carnaval da Vitória das décadas de 1970 a 1980.
A capital angolana, que tradicionalmente alberga o principal desfile, terá 39 grupos carnavalescos, sendo 17 para a classe infantil, 11 para a classe B e 12 para a classe A, que vão animar ao ritmo do semba, da kabetula, da kazukuta e a da dizanda.
O Carnaval de Luanda tem capitalizado as atenções de nacionais e estrangeiros, com ênfase para turistas do Brasil e de Portugal, entre outros, que se deslocam à Marginal com o propósito de acompanhar ao vivo o desfile que, em regra, se inicia no período da tarde.
Alguns turistas se juntam às falanges de apoio, iniciativa que enriquece ainda mais o Entrudo que, de forma espontânea, acaba por agregar pessoas de diferentes credos religiosos e partidários.
Além da concentração principal, as ruas da urbe transformam-se em palco carnavalesco, tendo como base “o caminhar” dos grupos devidamente trajados, ao som do apito, do batuque e outros meios que concorrem para a animação desta grande festa popular.
Grupos há que saiam a dançar a pé da Marginal até à sua sede, arrastando multidões e arrecadando, até certo ponto, pequenas receitas financeiras cedidas por amantes carnavalescos na via pública.
Fruto da criatividade e da união, pequenos grupos de amigos associam-se ao evento, dançando nos bairros da cidade de Luanda, que, por seu turno, completou 449 anos no dia 25 de Janeiro último.
Apesar de um interregno verificado nos anos 2020 e 2021, por força da Covid-19, perduram os ritmos do semba, da kabetula, da kazukuta, da dizanda, da varina e da sambalanga nas várias pistas de dança do país, para o gáudio dos angolanos.
A história reza que a tradição carnavalesca, trazida pelos colonos portugueses, incorporou, ao passar do tempo, uma série de tradições locais, enraizando-se profundamente na cultura da cidade.
Naquela altura, a partir de determinados bairros, aldeias e municipalidades, grupos carnavalescos organizavam-se espontaneamente e saíam às ruas, onde, com entusiasmo, desfilavam os seus dotes (estilos de dança e canções) em demonstração da cultura local, na maior parte dos casos sem cunho competitivo.
Origens do Carnaval angolano
Os primeiros registos do Carnaval em Angola são de 1857, referentes à festa popular dos Kimbundos, num evento cultural interrompido de 1961 a 1963 e de 1975 a 1977.
Em 1978, Agostinho Neto, aquele que proclamou a Independência de Angola e se tornou no primeiro Presidente da República, recomendou um Carnaval diferente daquele que era conhecido na época.
Assim, o Entrudo foi restabelecido como uma festa pública e de recreação popular, tendo a vitória dos angolanos na luta pela libertação nacional como o destaque principal durante muitos anos.
O objectivo de Agostinho Neto era tirar a população do marasmo que absorvia completamente a sua actividade diária com uma incisiva mensagem deixada no seu célebre poema “Havemos de voltar”.
“Às nossas tradições, à marimba e ao kissange…, havemos de voltar”, decretou o Presidente António Agostinho Neto, falecido no dia 10 de Setembro de 1979.
Com o resgate do Carnaval por Neto, em 1978, a festa passou a ser congregadora, anual e competitiva, pelo que os participantes passaram a ser agraciados com estímulos.
Já com cariz competitivo, ficaram consagrados vencedores dessa primeira edição o grupo União Operário Kabocomeu, do Sambizanga, a organização que se notabilizou pelo uso de indumentárias e sombrinhas pretas, num desfile ocorrido no Largo do Kinaxixi, em Luanda.
O União Mundo da Ilha é o “campeão dos campeões”, com 14 títulos conquistados.
Seguem-se na lista dos mais titulados o União Kiela, com cinco prémios; o União 10 de Dezembro, com quatro; o União Angola Independente e o União Sagrada Esperança, com três troféus, respectivamente.
Concorre(ra)m para a premiação, a melhor organização do grupo, dança, coreografia e melhor carro alegórico apresentado diante da tribuna de honra.
O Carnaval é uma festa popular tradicionalmente cristã, apesar de algumas de suas características remontarem a celebrações realizadas por diferentes povos pagãos na Idade Antiga.
A relação entre o Carnaval e o Cristianismo está na proposta da igreja de canalizar os “impulsos carnais” dos fiéis em uma data apenas, para, depois, impô-los um período de restrição e jejum, actualmente conhecido como quaresma que se inicia na quarta-feira a seguir ao Carnaval. SEC/OHA/IZ