Carnaval atrai turistas e enriquece os mais atentos

     Cultura              
  • Lunda Sul • Sexta, 17 Fevereiro de 2023 | 16h15
Grupo carnavalesco, Utchokwe Mutchota
Grupo carnavalesco, Utchokwe Mutchota
Cedida

Saurimo – A edição/2023 do Entrudo a ter lugar no dia 21 do mês em curso, no largo 1º de Maio em Saurimo (Lunda Sul), atrairá turistas nacionais e estrangeiros, bem como criar momentos únicos de fantasia e enriquecer os mais atentos, através da comercialização de vários produtos.

Por João Wassamba, jornalista da ANGOP

Carnaval ou Entrudo são os três dias de festas que precedem a quarta-feira de cinzas, uma palavra com origem no latim "carna vale" e que significa dizer "adeus à carne".

Numa perspectiva sociocultural, o Carnaval é considerado o momento ímpar da vida de cada cidadão, onde por meio da dança e canção, expressa o sentimento de revolta, harmonia, felicidade e contribui com críticas construtivas, para ajudar a mudar alguma coisa.

Na Lunda Sul, por exemplo, os sectores do transporte, gastronomia, hotelaria e a classe artística desempenham um papel preponderante na consolidação dos benefícios que a edição/2023 do Carnaval pode trazer, bastando ter perícia e audácia.

O sector do turismo, a organização e pessoas singulares podem aproveitar os espaços adjacentes a competição dos grupos e exporem obras literárias, tecelagem, estatuetas em madeira, instrumentos musicais, máscaras para danças rituais, objectos de uso comum, ricamente ornamentados, pinturas a óleo e da melhor comida local.

Também já é altura da organização do Entrudo repensar a nível da província cobrar a entrada de acesso para se assistir o evento, porque é do valor da cobrança que poderão aumentar prémios e inovar cada vez as edições posteriores, uma postura aplaudida pelo director provincial do gabinete da cultura, turismo, juventude e desportos da Lunda Sul, Salvador Wanuque.

Cepticismo de uns

Nesta perspectiva, muitos fazedores de Carnaval, músicos e diversos artistas do mosaico cultura da Lunda Sul mostraram cepticismo no que tange a regularidade da realização do Entrudo, pois há falta de apoios, repetição do mesmo espaço e desinteresse da classe empresarial em apadrinhar grupos e auxiliar financeiramente a Direcção da Cultura, deixando o Executivo por si só a arcar as despesas do evento.

Mas, contrariamente, para tornar o Carnaval numa indústria que pode emponderar grupos e empresários, há necessidade de ter um casamento perfeito entre todos os actores da sociedade civil.

Descrevendo, hipoteticamente, aspectos positivos do Executivo nos anos anteriores injectava ao Entrudo mais de 200 milhões de Kwanzas, para distribuir nas 18 províncias do país, além da verba, doava ainda kits de indumentárias, calçados, adereços e vários brindes, para colorir a festa popular.

Com a crise financeira que assola o mundo, a pandemia da Covid-19 que contribuiu negativamente para que não houvesse Carnaval competitivo a nível do país, o Governo ficou apertado e fez contenções, priorizando a saúde do povo angolano e desta vez algumas regiões realizarão a festa competitiva e outras não, como a província do Bengo.

A verba que o OGE disponibiliza é considerada por diversos intervenientes de irrisória e insuficiente para levar à rua o maior número de pessoas, coisa que no passado arrastava multidões até as madrugadas.

Os grupos, através de leilões de roupas, calçados, utensílios utilizados pela corte (rei e rainha), exposição de fotografias inéditas das edições anteriores, podem arrecadar receitas que permitam organizar-se melhor sem aguardar por apoios institucionais. Enquanto os empresários, com patrocínios, ganham notoriedade, pois os seus nomes estarão estampados nos dísticos dos grupos e no recinto onde decorre a maior festa popular.

Danças

A Tchianda é a mais característica do leste de Angola, uma dança recreativa e comemorativa, usada para a recepção de entidades governamentais ou tradicionais, em determinadas aldeias, como forma de saudação, agradecimento e demonstração de felicidade da comunidade visitada. Ela é também praticada durante a festa do Mucanda, ou seja, no dia da saída dos adolescentes da circuncisão, uma festa na comunidade para a recepção dos rapazes que ficam um ano distantes dos pais, acampados na mata, sob o controlo do txumba cambungo (guardião do Mucanda) ou então txicolocolo, xissela e o Ulengo, candoa, Muhango, Txicaba, muia, cafundeji, muchete, entre outras, que, graças aos músicos locais, com destaque ao Sassa Cokwe Internacional,  tudo fazem para não serem esquecidas.

Para a sua preservação, o Ministério da Cultura, além do registo, inscreva na lista das danças para o património da humanidade.

A criação de uma escola de dança e de instrumentos musicais são, igualmente, vias para contribuir no enriquecimento e passagem de testemunho para os jovens da nova geração, caso contrário estaríamos a perder a nossa identidade e oferecer de bandeja aos estrangeiros, o que é cognominado “made in Angola”.

Origem do Entrudo

Trazido pelos portugueses, o Carnaval chegou a Angola há vários séculos e também era chamado de Entrudo. A máxima desta festa popular era: "No Carnaval, nada parece mal!”. Nos dias que durava a festa existia a crítica social muito intensa. Os defeitos dos grandes senhores eram levados à praça pública.

Desavenças entre vizinhos eram apresentadas numa linguagem crua, perante todos. Mas como "nada parece mal”, ninguém se sentia ofendido.

Por cá, eram célebres as "batalhas de fuba”. Mas havia quem atirasse com água fedorenta, ovos podres, tinta e lama.

O Carnaval angolano marcou a diferença desde os primeiros anos, com a introdução de uma enorme variedade de cantos e danças nacionais. A partir da primeira metade do século passado, surgiram os bailes fechados nos clubes, ficando o Carnaval de rua restrito aos que tinham pouco poder de compra.

Uma brochura publicada em 1986 pela Comissão Preparatória do Carnaval apresenta uma retrospectiva da festa em Angola desde o século XIX e destaca o Carnaval realizado na Catumbela, em 1890. Os desfiles de Carnaval registaram uma paragem na década de 40, com a eclosão da II Guerra Mundial. Mas, o povo continuou a sair à rua e os "salões” dos bairros nunca fecharam as portas à folia.

A segunda paragem foi em 1961, com o início da luta armada de libertação nacional. O governo colonialista proibiu os desfiles de rua e as festas de salão. Depois de 1963, o Carnaval foi domesticado e "rigorosamente vigiado” pelas autoridades. Só regressou, no ano de 1975. Mas por pouco tempo. A guerra voltou a suspender a festa. O Carnaval ressurgiu em 1978, com o incentivo pessoal de Agostinho Neto, primeiro Presidente de Angola, na forma de festejo para marcar a expulsão do exército sul-africano a 27 de Março de 1976, realizando-se com a designação de Carnaval da Vitória.

Na presente edição 2023 concorrem 35 grupos carnavalescos, sendo 16 de adultos e 19 infantis, cuja organização desembolsou três milhões e cem mil Kwanzas, para a premiação.

 

 





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