Lisboa (Da correspondente) - O músico angolano Barceló de Carvalho "Bonga Kwenda" realiza quatro shows, nos dias 3, 9,10 e 11 de Setembro, em França e em Portugal, para assinalar o seu 79º aniversário.
Em declarações à ANGOP, Bonga avançou que fará, durante os quatro shows, uma síntese dos seus sucessos musicais promovidos pelo povo.
Bonga adiantou que os espectáculos estão a ser preparados com alguma dificuldade, dadas as restrições impostas pela pandemia da Covid-19, mas promete surpresas, com realce para os convidados.
O considerado "embaixador" da música angolana, revelou que parte das receitas destinam-se a instituições de beneficência, em Portugal e em Angola.
Realçou, em língua nacional kimbundo, faltar o "etu mu dietu", que em português significa "nós entre nós", numa clara alusão a necessidade de mais solidariedade entre as pessoas.
Em relação ao actual estado da cultura angolana, Bonga deplorou o facto de não ser ajudada como devia, frisando que alguns servem-se dela e deixam-na cair.
Sobre a música angolana, ressaltou que caminha um pouco desajustada da realidade profunda do país, apelando aos mais jovens cantores e aspirantes empenho, procura, coragem e sintonia com o musical angolano e seus intérpretes.
Perfil
José Adelino Barceló de Carvalho nasceu em Quipiri, província do Bengo, a norte de Luanda, capital de Angola, aos 5 de Setembro de 1942. A família tratava-o carinhosamente por Zeca.
A infância foi passada em bairros, como os Coqueiros, Ingombotas, Operário, Rangel e Marçal e viveu num ambiente intimista de preservação das músicas e tradições angolanas, marginalizadas pela dominação colonialista presente na época.
O folclore dos musseques (bairros pobres) cedo o fascinou e, por isso, começou a frequentar e a participar das turmas dos bairros típicos de Angola, onde iniciou a actividade musical.
Foi no bairro Marçal onde fundou o grupo Kissueia, tendo resolvido criar o próprio estilo musical.
Carreira musical
Em 1972, na Holanda, lança o seu primeiro álbum "Angola 72", no qual canta a revolução e o amor à pátria. É por esta altura que Barceló de Carvalho passa a chamar-se "Bonga Kwenda", nome africano que significa "aquele que vê, aquele que está à frente e em constante movimento".
Bonga actua pela primeira vez nos Estados Unidos, em 1973, na celebração da independência da Guiné-Bissau, integrado num espectáculo de homenagem à cultura lusófona.
Em Abril de 1974, lança "Angola 74" e, nos anos 80, torna-se o primeiro artista africano a actuar a solo dois dias consecutivos, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, símbolo da música portuguesa.
O sucesso estende-se para lá das fronteiras lusófonas e actua no Apolo, em Harlem, no S.O.B., de Nova Iorque, no Olympia de Paris, na Suíça, no Canadá, nas Antilhas e em Macau.
Bonga criou uma fusão entre a sua pessoa e a música de Angola e tem como maior estandarte o semba, um ritmo tradicional angolano correspondente ao samba brasileiro.
Também interpreta géneros musicais cabo-verdianos, sendo responsável pela roupagem da coladeira “Sodade” para uma morna, 18 anos antes de Cesária Évora a tornar mundialmente famosa.
Prémios
É o primeiro africano “Disco de Ouro” e de “Platina”, em Portugal.
Em 2010, foi galardoado com o Prémio Nacional de Cultura e Artes, na categoria de Música.
Em 2014 foi condecorado, pela embaixada de França em Angola, com a insígnia de Cavaleiro na Ordem das Artes e Letras.
Em 2018, foi condecorado pelo Estado angolano com a Medalha de Bravura e do Mérito Cívico e Social, 1.ª Classe, no âmbito das celebrações do 43º aniversário da Independência Nacional.
No quadro solidariedade e altruísmo, deu concertos de beneficência a instituições como a MRAR, a Amnistia Internacional, FAO, ONU e UNICEF.
Tem participações em CD, como "Em Português Vos Amamos" dedicado a Timor Leste, "Paz em Angola" ou ainda "Todos Diferentes, Todos Iguais", um marco na luta contra o racismo.
Tem mais de 300 composições da sua autoria, 32 álbuns, mais de 60 video-clips, sete bandas sonoras para filmes e álbuns com inúmeras reedições em todo o mundo.
Suas músicas têm sido interpretadas por vários artistas, com destaque para Martinho da Vila, Alcione e Elsa Soares (Brasil), Mimi Lorca (França), Bovic Bondo Gala, do Uruguai, Heltor Numa de Morais, entre muitos, angolanos da nova vaga e estrangeiros.